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sexta-feira, 21 de maio de 2010

As idéias mais originais e criativas continuam a falar francês...

Noticia o Público de hoje que os liceus franceses vão ter à sua disposição um “cineclube virtual com 200 títulos do cinema clássico, de O Desprezo a Citizen Kane (…) para serem incluídos nas aulas de Literatura ou História ou mesmo para que, em aulas extras, sejam mostrados aos alunos”.

Tem esse projecto a designação de Cinélycée.

Esta iniciativa vem na sequência da reforma das escolas secundárias francesas, iniciada no ano passado, tendo então o Presidente Nicolas Sarkozy defendido a criação nas escolas “de um equivalente moderno ao antigo cineclube”.

"Vivemos numa situação improvável e perigosa, em que a cultura cinematográfica dos nossos alunos parece inversamente proporcional à quantidade - que é imensa - de imagens e vídeos que consomem todos os dias", disse Sarkozy, citado pelo jornal The Independent. "É urgente desenvolver o seu olhar crítico e ancorar a sua relação com a imagem em movimento numa herança cultural." .

Ainda de acordo com a mesma notícia, o ministro da Cultura, Frédéric Mitterand, “defendeu o visionamento de filmes clássicos não só para conhecimento cinematográfico, mas também para educar sobre a realidade do século XXI. "Citizen Kane é um filme notável para se perceber as maquinações do poder, as maquinações da ambição", disse Mitterand na quarta-feira. "Podemos compará-lo com figuras contemporâneas que são ambiciosas, que querem conseguir algo, e temos uma maneira extraordinária para as perceber".

Referindo-se a esse projecto o conhecido realizador Costa Gravas, presidente da Cinemateca francesa, defendeu que, se ensinamos " literatura, música e teatro na escola”, é importante “ ensinar também cinema (...) porque as imagens têm um papel na nossa sociedade e é muito importante aprender a descodificar as imagens”.

Pessoalmente, enquanto estive ligado ao movimento cineclubista defendi, aí pelos anos 80 do século passado, que era fundamental, para a sobrevivência dos cineclubes, uma maior ligação às escolas, considerando até a importância pedagógica de se aprender a ver cinema, num mundo dominado pelos códigos da imagem.

Considerava mesmo que sairia mais barato apostar na criação de um público informado e formado para o cinema, do que os apoios que já então se davam à produção individualizada.

Mais recentemente tenho defendido a utilização do cinema na escola com objectivos pedagógicos, uma forma mais credível de ocupar os tempos livres dos alunos na escola do que as famigeradas e destabilizadoras aulas de substituição.

Claro que equipar as escolas nesse sentido teria alguns custos, mas seriam rapidamente e rentabilizados pelos efeitos culturais assim obtidos.

Pode ser que alguém com responsabilidades na estrutura do ensino em Portugal, que veja o ensino para lá das estatísticas ou das preocupações financeiras, leia aquela notícia inspiradora e adapte o modelo ao nosso ensino.

Recorde-se que o nosso país teve, e ainda tem nalgumas localidades, um dinâmico e criativo movimento cineclubista.

È pena que as nossas elites andem mais preocupadas com as questões financeiras e menos com as questões culturais e educativas. Aquelas não têm grande futuro. Estas são o futuro.

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