Cavaco Silva, ao convidar o líder do partido mais votado e vencedor das
últimas eleições legislativas, para
formar governo, fez aquilo que é
legitimo, tradicional na política portuguesa e óbvio no modo de funcionamento
do actual presidente da República.
Nada de novo, portanto.
O que não se percebe é o tempo que levou para chegar a essa decisão
óbvia e, ainda por cima, desculpando-se com a necessidade de “reflectir” sobre
essa decisão para se ausentar das comemorações do 5 de Outubro .
Mas percebe-se ainda menos o resto do seu discurso de ontem, um
desenterrar da retórica anticomunista dos tempos da Guerra Fria . Alguém devia explicar ao homem que o muro de Berlim já foi derrubado e a União Soviética já não existe.
Para Cavaco Silva, ficámos a sabê-lo ontem de forma clara, embora já
desconfiássemos, existem portugueses de primeira, os que obedecem ao regime "austeritário", e portugueses de segunda, os que a questionam, onde
só os primeiros têm direito a terem representação política.
Estivéssemos noutros tempos e talvez ontem ele tivesse anunciado a
ilegalização de todos os partidos que criticassem o actual rumo da União
Europeias ou que, legitimamente, questionassem os compromissos financeiros elaborados
por instituições não democráticas, o
actual modelo de construção do euro e o resultado do modelo austeritário
imposto aos cidadãos europeus por essas instituições não democráticas.
Também ficámos a saber que, entre os interesses nebulosos dos mercados financeiros
e os interesses dos cidadãos, o presidente está ao lado dos primeiros.
Grave ainda foi o seu apelo velado (porque ele nunca diz nada de forma
clara e frontal) à divisão no interior do segundo maior partido, apelo, que
aliás, teve o efeito contrário ao pretendido, isolando em definitivo as vozes
críticas dentro do PS.
De Cavaco Silva, já não esperávamos muito melhor.
Já o considerámos o pior presidente do regime democrático e o segundo
pior de toda a República, só ultrapassado, para pior , por Américo Thomaz…
Mas agora somos obrigados a “rever” essa posição. Américo Thomaz, pelo
menos uma vez na vida, teve coragem para remar contra o óbvio e os radicais do
salazarismo, nomeando Marcelo Caetano, um “dissidente”, para substituir
Salazar, ainda em vida deste, obrigando o regime a abrir-se e, involuntáriamnete,
a criar condições para a ruptura democrática de 1974.
Se as cenas dos próximos episódios se concretizarem, o provável derrube pelo
parlamento do governo de Passos Coelho e a apresentação de uma alternativa de
governo maioritariamente apoiado pela esquerda e pela maioria dos eleitores que votaram contra o modelo austeritário da coligação, e liderado pelo PS, e se Cavaco agir em
conformidade com a sua comunicação de ontem , onde recusa um cenário de governo
à esquerda, mantendo este governo em gestão até, pelo menos, o mês de Abril, então Cavaco Silva está bem colocado para ocupar o lugar do pior presidente de toda a
República.
Se era esta a "estabilidade" e o "consenso" que tanto apregoa!!!!...é como o "irrevogável" do outro...
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