O QUE EU NÃO GOSTAVA…
As últimas sondagens dão uma vitória clara à coligação de direita.
Desta vez já são sondagens com uma base significativa de inquéritos,
com menos indecisos e onde a diferença entre a coligação de direita e o PS
ronda mais ou menos (quase sempre mais) os 5%.
Convém recordar que, em
Portugal, a nos últimos vinte anos, as sondagens nunca se enganaram por mais ou
menos 2 ou 3%.
Se os resultados forem outros, esta seria a primeira vez em Portugal que todas a sondagens se “espalhavam” de forma clamorosa.
Claro que ainda existe uma razoável margem de indecisos, mas o que tem
acontecido é que, quanto mais o número de indecisos baixa, mais aumenta a
diferença entre a coligação de direita e o PS, sem que se registe um grande
avanço nos partidos mais à esquerda.
É contudo bom recordar que, um pouco por toda a Europa, nos últimos,
anos, as sondagens se têm enganado redondamente.
Veremos se, pela primeira vez em Portugal, tal vai acontecer.
ENCONTRAR EXPLICAÇÕES PARA O INEXPLICÁVEL
Seja qual for o resultado final, o que parece significativo é que uma
grande parte da população continue a confiar numa coligação que destruiu os
equilíbrios sociais em Portugal, lançando portugueses contra portugueses,
fomentando a inveja social, provocando a
emigração de 500 mil portugueses, a
maior parte jovens qualificados, agravando a já de si grave situação
demográfica do país, empobrecendo a generalidade da população trabalhadora e
pensionista de Portugal, aumentando as desigualdades sociais, reduzindo os
salários para o nível da indigência, aumentando a insegurança e a precariedade
dos empregos, transformando a alta taxa
de desemprego , acima dos 10% (30% entre os jovens) num fenómeno estrutural,
cortando drasticamente nas funções sociais do Estado, na saúde e na educação e deixando
de investir na cultura e na investigação.
Ao mesmo tempo, aumentou drasticamente
o número de milionários, manteve-se elevados o salário dos gestores das grandes
empresas, manteve-se os chorudos lucros das mesmas empresas e bancos, continuou-se a garantir que a
maior parte destas fuja aos impostos através do esquema de off-shores “legais” em pleno espaço da União Europeia.
Mas tudo o que este governo fez foi em nome de três objectivos falhado: reduzir o deficit,
reduzir a dívida e aumentar a “competitividade” (seja lá isto o que for). O
deficit mantem-se ao mesmo nível, a dívida aumentou e é impagável sem mais “sacrifícios”
e austeridade, e na “competitividade”, o país piorou a sua situação no ranking
mundial.
No fundo, a coligação de direita destruiu os ideais dos fundadores dos
seus partidos, a social-democracia de Sá Carneiro e a democracia-cristã de
Freitas do Amaral.
O mesmo fenómeno que justifica a resignação ou a aceitação do
miserabilismo da política governamental levou a aceitação, durante 50 anos, da “ordem”
salazarista.
Em toda esta situação, a esquerda não está isenta de culpas.
Em primeiro lugar o PS:
- o processo de sucessão de Seguro para Costa foi todo um jogo de
manipulação propagandística e da mais suja táctica política. O “cheiro” a poder
inebriou muita gente do PS. Afinal a principal justificação para afastar Seguro
era que ele não tinha “carisma” ou que “ganhava eleições, sim mas, por pouco!”. O PS
arrisca-se agora a perder numa conjuntura que lhe era favorável.
- a colagem dos “socráticos” a António Costa, que precisou deles para
ganhar o PS, mas dos quais nunca se soube demarcar. A prisão de Sócrates, um
caso que levanta suspeitas pelos “timings” escolhidos, “entalou” de vez António
Costa. Em muitas cabeças o que passou a estar em julgamento nestas eleições foi
José Sócrates e não os últimos 4 anos de (des)governo…e Costa não conseguiu dar
a volta a isto!
- as hesitações da campanha de Costa, entre o discurso “sério” e “realista”
do poder, e a condenação firme da austeridade. Só que para se condenar com
firmeza a “austeridade” ,imposta pela troika e alegremente aplicada pela coligação
de direita, era necessário questionar a presença de Portugal no euro, defender
com base sustentável a renegociação da dívida, e fazer frente às
antidemocráticas instituições europeias, tudo aquilo para o qual falta coragem
a este PS, muito apegado ao poder e com gente comprometidas com muitas
malfeitorias feitas no governo de José Sócrates.
Em segundo lugar a esquerda com assento parlamentar, CDU e BE:
- a situação na Grécia veio retirar credibilidade àquilo que estes
partidos defendem, veio dificultar uma saída negociada da crise e provocou medo
em muitos eleitores que preferem o sossego das suas vidinhas, mesmo que seja o
sossego dos cemitérios, a ter que passar por situações idênticas àquelas pelas
quais passou a Grécia ao longo deste ano. O pior que pode acontecer ao
português “médio” formatado pela ideologia “cavaquista” que criou a nossa classe
“média”, e é aspiração de muito “pobre”, é tirarem-lhe a possibilidade de usar o
cartão de crédito, mesmo que não tenha nada para levantar! ;
- a irredutibilidade de alguns princípios políticos, que impossibilitam
qualquer aproximação a um governo minoritário do PS, ou pelo menos é esta a
imagem que transmitem. A esquerda continua muito presa a divergências do
passado, que já nada dizem às pessoas e revela uma enorme incapacidade
pragmática de entendimento. Neste ponto deviam ter aprendido alguma coisa com o
Syriza;
- a imagem de divisão que acabam por provocar à esquerda,
principalmente no caso do Bloco de Esquerda, que tem, nestas eleições, mais
dois partidos a concorrer na mesma área e que resultaram da incapacidade de
ultrapassar as meras divergências pessoais;
-na sequência do que disse em cima, a idéia de que as outras duas “alternativas”
à esquerda (Livre e Agir) dão de que apenas estão a concorrer contra o BE, por
meras razões de incompatibilidades pessoais, não tendo para apresentar ideias muito
diferentes das do BE.
Existem também outros fenómenos que podem justificar a situação de
grande incerteza que se vive e uma previsível vitória eleitoral da direita:
- a abstenção elevada, que beneficia a direita, e que, nestas eleições
conta com um fenómeno que só foi referido no início da campanha, mas rapidamente
esquecido, o facto de 500 mil eleitores jovens e os mais revoltados com a
política de direita, terem emigrado e se depararem com um “erro” do ministério
da administração interna, que se “enganou” na
produção dos boletins por correspondência, impedindo assim muitos
milhares de poderem vota em Portugal;
- a influência propagandística da comunicação social, especialmente a
televisiva, onde enxameiam comentadores
de direita e onde os debates são orientado no sentido de justificar a
austeridade, desvalorizar as más notícias para a coligação (como o escândalo da
aldrabice na elaboração estatística do valor do deficit) e potenciar os erros
da esquerda e as tendências das sondagens. Não é por acaso que são designados por
“fazedores de opinião”. A “ informação “que se faz em Portugal é cada vez menos
informação e cada vez mãos comentário…e isso influencia as escolhas politica do cidadão comum…
O QUE EU GOSTAVA!
Claro que gostaria que estas eleições tivessem outro resultado,
diferente daquele que parece adivinhar-se.
Pessoalmente gostaria que o PS ganhasse, mas não por muito, mas em
condições de poder negociar acordos pontuais com qualquer partido. O melhor
governo do PS, o de António Guterres, funcionou assim.
Gostaria também de ver reforçada a votação da CDU e do BE e que, pelo
menos um destes partidos tivesse maior representação parlamentar que o CDS.
Gostaria que entrassem no parlamento novas forças políticas, como o
Livre, que tem as pessoas mais interessantes da esquerda, e o PAN (Pessoas
Animais e Natureza), que pode representar uma lufada de ar fresco no parlamento.
Gostava que a CDU, o BE e os novos partidos no parlamento tivessem
maior representação parlamentar do que o PSD no seu conjunto.
Gostava…Mas!!!!
O MEU VOTO
Se votasse com “utilidade”, votava no PS!
Se votasse com “coerência” votava no BE!
Se votasse com o “coração” votava Livre ou PAN.
Mas vou votar com a cabeça e de forma friamente racional, e por isso
voto…CDU!
Sem comentários:
Enviar um comentário