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sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Como vou votar num cenário de derrota pré anunciada da esquerda?


O QUE EU NÃO GOSTAVA…

As últimas sondagens dão uma vitória clara à coligação de direita.

Desta vez já são sondagens com uma base significativa de inquéritos, com menos indecisos e onde a diferença entre a coligação de direita e o PS ronda mais ou menos (quase sempre mais) os 5%. 

Convém recordar que, em Portugal, a nos últimos vinte anos, as sondagens nunca se enganaram por mais ou menos 2 ou 3%.

Se os resultados forem outros, esta seria a primeira vez  em Portugal que todas a sondagens se “espalhavam” de forma clamorosa.

Claro que ainda existe uma razoável margem de indecisos, mas o que tem acontecido é que, quanto mais o número de indecisos baixa, mais aumenta a diferença entre a coligação de direita e o PS, sem que se registe um grande avanço nos partidos mais à esquerda.

É contudo bom recordar que, um pouco por toda a Europa, nos últimos, anos, as sondagens se têm enganado redondamente.

Veremos se, pela primeira vez em Portugal, tal vai acontecer.

ENCONTRAR EXPLICAÇÕES PARA O INEXPLICÁVEL

Seja qual for o resultado final, o que parece significativo é que uma grande parte da população continue a confiar numa coligação que destruiu os equilíbrios sociais em Portugal, lançando portugueses contra portugueses, fomentando a inveja social, provocando  a emigração de  500 mil portugueses, a maior parte jovens qualificados, agravando a já de si grave situação demográfica do país, empobrecendo a generalidade da população trabalhadora e pensionista de Portugal, aumentando as desigualdades sociais, reduzindo os salários para o nível da indigência, aumentando a insegurança e a precariedade dos empregos, transformando  a alta taxa de desemprego , acima dos 10% (30% entre os jovens) num fenómeno estrutural, cortando drasticamente nas funções sociais do Estado, na saúde e na educação e deixando de investir na cultura e na investigação.

Ao mesmo tempo, aumentou drasticamente o número de milionários, manteve-se elevados o salário dos gestores das grandes empresas, manteve-se os chorudos lucros das mesmas empresas e bancos, continuou-se a garantir que a maior parte destas fuja aos impostos através do esquema de off-shores “legais” em pleno espaço da União Europeia.

Mas tudo o que este governo fez foi em nome de três objectivos falhado: reduzir o deficit, reduzir a dívida e aumentar a “competitividade” (seja lá isto o que for). O deficit mantem-se ao mesmo nível, a dívida aumentou e é impagável sem mais “sacrifícios” e austeridade, e na “competitividade”, o país piorou a sua situação no ranking mundial.

No fundo, a coligação de direita destruiu os ideais dos fundadores dos seus partidos, a social-democracia de Sá Carneiro e a democracia-cristã de Freitas do Amaral.

O mesmo fenómeno que justifica a resignação ou a aceitação do miserabilismo da política governamental levou a aceitação, durante 50 anos, da “ordem” salazarista.

Em toda esta situação, a esquerda não está isenta de culpas.

Em primeiro lugar o PS:

- o processo de sucessão de Seguro para Costa foi todo um jogo de manipulação propagandística e da mais suja táctica política. O “cheiro” a poder inebriou muita gente do PS. Afinal a principal justificação para afastar Seguro era que ele não tinha “carisma” ou que “ganhava  eleições, sim mas, por pouco!”. O PS arrisca-se agora a perder numa conjuntura que lhe era favorável.

- a colagem dos “socráticos” a António Costa, que precisou deles para ganhar o PS, mas dos quais nunca se soube demarcar. A prisão de Sócrates, um caso que levanta suspeitas pelos “timings” escolhidos, “entalou” de vez António Costa. Em muitas cabeças o que passou a estar em julgamento nestas eleições foi José Sócrates e não os últimos 4 anos de (des)governo…e Costa não conseguiu dar a volta a isto!

- as hesitações da campanha de Costa, entre o discurso “sério” e “realista” do poder, e a condenação firme da austeridade. Só que para se condenar com firmeza a “austeridade” ,imposta pela troika e alegremente aplicada pela coligação de direita, era necessário questionar a presença de Portugal no euro, defender com base sustentável a renegociação da dívida, e fazer frente às antidemocráticas instituições europeias, tudo aquilo para o qual falta coragem a este PS, muito apegado ao poder e com gente comprometidas com muitas malfeitorias feitas no governo de José Sócrates.

Em segundo lugar a esquerda com assento parlamentar, CDU e BE:

- a situação na Grécia veio retirar credibilidade àquilo que estes partidos defendem, veio dificultar uma saída negociada da crise e provocou medo em muitos eleitores que preferem o sossego das suas vidinhas, mesmo que seja o sossego dos cemitérios, a ter que passar por situações idênticas àquelas pelas quais passou a Grécia ao longo deste ano. O pior que pode acontecer ao português “médio” formatado pela ideologia “cavaquista” que criou a nossa classe “média”, e é aspiração de muito “pobre”, é tirarem-lhe a possibilidade de usar o cartão de crédito, mesmo que não tenha nada para levantar! ;

- a irredutibilidade de alguns princípios políticos, que impossibilitam qualquer aproximação a um governo minoritário do PS, ou pelo menos é esta a imagem que transmitem. A esquerda continua muito presa a divergências do passado, que já nada dizem às pessoas e revela uma enorme incapacidade pragmática de entendimento. Neste ponto deviam ter aprendido alguma coisa com o Syriza;

- a imagem de divisão que acabam por provocar à esquerda, principalmente no caso do Bloco de Esquerda, que tem, nestas eleições, mais dois partidos a concorrer na mesma área e que resultaram da incapacidade de ultrapassar as meras divergências pessoais;

-na sequência do que disse em cima, a idéia de que as outras duas “alternativas” à esquerda (Livre e Agir) dão de que apenas estão a concorrer contra o BE, por meras razões de incompatibilidades pessoais, não tendo para apresentar ideias muito diferentes das do BE.

Existem também outros fenómenos que podem justificar a situação de grande incerteza que se vive e uma previsível vitória eleitoral da direita:

- a abstenção elevada, que beneficia a direita, e que, nestas eleições conta com um fenómeno que só foi referido no início da campanha, mas rapidamente esquecido, o facto de 500 mil eleitores jovens e os mais revoltados com a política de direita, terem emigrado e se depararem com um “erro” do ministério da administração interna, que se “enganou” na  produção dos boletins por correspondência, impedindo assim muitos milhares de poderem vota em Portugal;

- a influência propagandística da comunicação social, especialmente a televisiva,  onde enxameiam comentadores de direita e onde os debates são orientado no sentido de justificar a austeridade, desvalorizar as más notícias para a coligação (como o escândalo da aldrabice na elaboração estatística do valor do deficit) e potenciar os erros da esquerda e as tendências das sondagens. Não é por acaso que são designados por “fazedores de opinião”. A “ informação “que se faz em Portugal é cada vez menos informação e cada vez mãos comentário…e isso influencia as escolhas politica do cidadão comum…

O QUE EU GOSTAVA!

Claro que gostaria que estas eleições tivessem outro resultado, diferente daquele que parece adivinhar-se.

Pessoalmente gostaria que o PS ganhasse, mas não por muito, mas em condições de poder negociar acordos pontuais com qualquer partido. O melhor governo do PS, o de António Guterres, funcionou assim.

Gostaria também de ver reforçada a votação da CDU e do BE e que, pelo menos um destes partidos tivesse maior representação parlamentar que o CDS.

Gostaria que entrassem no parlamento novas forças políticas, como o Livre, que tem as pessoas mais interessantes da esquerda, e o PAN (Pessoas Animais e Natureza), que pode representar uma lufada de ar fresco no parlamento.

Gostava que a CDU, o BE e os novos partidos no parlamento tivessem maior representação parlamentar do que o PSD no seu conjunto.

Gostava…Mas!!!!

O MEU VOTO

Se votasse com “utilidade”, votava no PS!

Se votasse com “coerência” votava no BE!

Se votasse com o “coração” votava Livre ou PAN.

Mas vou votar com a cabeça e de forma friamente racional, e por isso voto…CDU!


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