A histeria está lançada nas hostes da direita, entre os bloguistas do
costume, os pequenos gobelzinhos do “Observador” e os comentadores de serviço…parece que “vêem
aí …os comunas!!!”.
O pânico tomou conte dessa gente e ei-los a desenterrar todos os fantasmas
do PREC. Só falta recuperar os “comunas
comedores de criancinhas” e o MDLP a pôr bombas em sedes do PCP… e agora também,
actualizando, nas do Bloco de Esquerda e até nas do PS.
Tenham lá calma!!!
Como dizia hoje Rui Tavares na sua crónica semanal do Público, não é do
regresso do PREC que se trata, mas, pelo “contrário, isto é a superação,
esperemos que definitiva, dos traumas do PREC na esquerda portuguesa”.
Pela minha parte é positivo o diálogo à esquerda e espero que seja para
continuar.
Claro que existem diferenças importantes entre os três partidos da
esquerda com representação parlamentar, mas o diálogo é a única maneira de
superar divergências, muitas delas absurdas e que se baseiam em preconceitos mútuos.
Citando ainda Rui Tavares, há “demasiados anos que pagamos um preço
demasiado alto por causa da impossibilidade de diálogo entre a nossa esquerda.
Há demasiados anos que fica mais fácil à direita governar porque a esquerda não
governa nem conversa. Fica mais fácil baixar salários, cortar pensões ou
beneficiar os sistemas privados em
detrimento do público”.
Também concordo com Rui Tavares que esse entendimento peca por tardio: “Teria
sido bom que os partidos de esquerda não se tivessem sempre comportado com cão
e gato. Que não tivessem dado a entender que a sua disponibilidade governativa
implicaria uma rejeição total da integração europeia. Que não tivessem tratado
os defensores da convergência com hereges e traidores”.
Também não existe nada na lei, na Constituição, na prática política
democrática europeia que impeça os três partidos que constituem a maioria
absoluta do Parlamento e que têm em comum a recusa crítica ao tipo de
austeridade aplicada pela direita, que venham a formar governo. Essa é a
normalidade em regimes com democracia consolidada, embora nunca tenha
acontecido em Portugal.
Contudo, penso que essa solução é prematura e perigosa.
O eleitorado deu a primazia eleitoral aos partidos do governo de
direita, embora retirando-lhes a maioria, querendo dizer com isso, segundo a
minha interpretação, tão legitima como outras:
- por um lado, jogar pelo seguro, “dizendo” à direita “continuem lá
governar para agradar aos mercados e às antidemocráticas instituições europeias
que são quem continua a mandar nisto tudo, mas agora têm de dialogar à esquerda
e têm de atenuar a austeridade ou aplica-la junto dos que dela beneficiaram (banca,
sistema financeiro, grandes fortunas)…mostrem lá que ainda são
social-democratas e democratas cristãos, e, já agora, defendam os portugueses
das malfeitorias dessas instituições, cumpram mesmo o que disseram na campanha
eleitoral, que era pôr “Portugal à frente”;
- por outro lado dizer à esquerda: “têm a maioria, mas ficam sem o
governo, que é para ver se se entendem,
se se demarcam do socratismo, se encontram uma alternativa credível , se ganham
as presidenciais, se enterram os fantasmas do passado e se renovam o discurso,
para depois, sim, governarem como nunca fizeram”.
Formar agora um governo de esquerda seria desastroso e irrealista.
Com
este presidente da República, com as instituições antidemocráticas europeias a
chantagearem com fizeram com a Grécia e com os gobelzinhos de serviço na
comunicação social, criar-se-ia um clima de guerra civil que esmagaria rapidamente
a esquerda e retirar-lhe-ia legitimidade.
A situação seria totalmente diferente se o PS tivesse sido o partido
mais votado.
Por isso é melhor começar a preparar a alternativa à esquerda, com
diálogo à esquerda, que devia começar pela apresentação de um candidato
presidencial comum e, depois, por acções no parlamento em conjunto, mas dando um
prazo para a direita governar mais um ou dois anos.
Não é a esquerda que tem de tomar a iniciativa de negociar à direita,
mas é a direita que tem de demonstrar capacidade de abertura negocial para
conseguir sobreviver no periclitante poder que os portugueses lhe deram.
Quem aguentou uma década e meia de politicas de direita pode aguentar
mais um ou dois anos para reforçar legitimidade e para desmascarar de vez a
coligação de direita e, já agora, torcendo para que se dêem mudanças políticas
da União Europeias que a façam retomar o seu projecto fundador.
A precipitação da esquerda pode ser má conselheira e deitar tudo a
perder.
Por isso, entendam-se…mas tenham mais um bocadinho de paciência…
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