Numa carta envida hoje ao site "Rede Angola" Luaty Beirão anunciou o fim da sua greve da fome, uma atitude inteligente por parte desse combatente pelos direitos humanos em Angola.
Nessa carte que pode ser lida AQUI, clamou mais uma vez pela sua inocência: "Estou inocente do que nos acusam e assumo o fim da minha greve de fome" e " só posso esperar que os responsáveis do nosso País também parem a sua greve humanitária e de justiça".
Agora é preciso que em Angola e em Portugal ninguém baixe os braços.
A luta pela democracia em Angola ganhou com este caso uma nova dimensão e deixou à vista aquilo que muitos já denunciavam há muito tempo, um regime corrupto, incapaz de gerar bem estar entre os seus cidadãos, mas aberto a todas as negociatas com os seus cúmplices um pouco por todo o mundo, Portugal incluído.
Até aqui a opção dos Angolanos era entre um partido corrupto como o MPLA que traiu a sua origem, e um grupo de bandoleiros, a UNITA, que, depois do fim da guerra, se tornou cúmplice da corrupção do poder dominante.
A luta de Luaty e dos seus companheiros pode contribuir para encontra uma alternativa àqueles partidos corrutos e anti-democráticos, uma alternativa verdadeiramente democrática e humanista, capaz de dar aos angolanos, que vivem num dos países com mais riquezas no mundo, mas onde a maior parte da sua população vive na miséria, uma nova esperança.
Por cá tudo faremos para continuar a divulgar essa luta e para denunciar os "amigos" que deste lado tanto têm contribuido para aumentar a fortuna e o poder dos corruptos governantes angolanos.
Aqui transcevemos a notícia hoje publicada no site "Rede Angola":
"É a notícia do fim da greve de fome de Luaty Beirão.
"Em carta enviada à redacção do Rede Angola pela família de Beirão (pode ser lida AQUI),
escrita pelo activista ontem e dedicada aos seus 14 companheiros detidos e à
sociedade civil, Luaty Beirão, ao fim de 36 dias, anunciou o fim da greve de
fome que iniciou dia 21 de Setembro em protesto contra o excesso de prisão
preventiva.
"A “Carta aos meus companheiros de prisão”, começa, tal como as
detenções dos activistas, na data que deu inicio àqueles que se contabilizam
hoje em 129 dias de detenção: 20 de Junho de 2015.
“Junho vai longe. Passámos muitos dias presos em celas solitárias,
alguns sem comer, com muitas saudades de quem nos é próximo. Pelo caminho
sentimos a solidariedade da maioria dos prisioneiros e funcionários. Tivemos
apoio de família e amigos.”
"Detidos em diferentes estabelecimentos prisionais por cerca de três
meses – Estabelecimento Prisional de Calomboloca, Unidade Prisional do Kakila,
Hospital Psiquiátrico e Comarca Central de Luanda – , unanimemente acusados de
“actos preparatórios para prática de rebelião e atentado contra o Presidente da
República”, de momento, todos os activistas se encontram no Hospital-Prisão de
São Paulo.
"Luaty Beirão, internado na Clínica Girassol, em Luanda, desde o dia 15
de Outubro – transferido pelos serviços prisionais por se encontrar em estágio
avançado de greve de fome -, conseguiu, devido ao acesso a mais visitas e
consumo de informação, aperceber-se dos movimentos de solidariedade e
indignação em relação ao processo.
“Tive a oportunidade de me aperceber do que nos espera lá fora e queria
partilhar convosco o que vi: Vi pessoas da nossa sociedade, que lutaram pelo
nosso país e viveram o que estamos a viver, a saírem da sombra e a
comprometerem-se em nossa defesa, para que a História não se repita. Vi pessoas
de várias partes do mundo, organizações de cariz civil, personalidades,
desconhecidos com experiências de luta na primeira pessoa que, sozinhos ou em
grupo, se aglomeram no pedido da nossa libertação. Já o sentíamos antes, mas
não com esta dimensão”, conta Luaty aos seus companheiros.
"É um texto de um, e para todos os prisioneiros políticos. São eles:
Domingos da Cruz, Afonso Matias “Mbanza Hamza”, José Gomes Hata, Hitler Jessia
Chiconda “Samussuku”, Inocêncio Brito, Sedrick de Carvalho, Fernando Tomás Nicola,
Nelson Dibango, Arante Kivuvu, Nuno Álvaro Dala, Benedito Jeremias, Osvaldo
Caholo, Manuel Baptista Chivonde “Nito Alves” e Albano Evaristo Bingo.
"A 21 de Outubro, o grupo de
detidos pediu a Luaty Beirão que parasse com a greve de fome.
"Desde a detenção dos activistas, vários são os grupos de apoio
nacionais e internacionais que apelam à libertação dos presos políticos em
Angola, exigindo justiça e celeridade para a resolução do processo.
Organizações, tal como a Amnistia Internacional (AI), a OMUNGA, a Associação
Justiça, Paz e Democracia (AJPD), o Grupo de Apoio aos Presos Políticos
Angolanos (GAPPA), a Organização das Nações Unidas (ONU) e União Europeia (UE),
entre outras, tornaram-se voz activa na exigência pelo respeito aos Direitos
Humanos no país.
"A sociedade civil, através de várias vigílias pacíficas e acções de
solidariedade em diferentes países, apoia as famílias dos detidos e reclama
“Liberdade Já”. Grito com início num movimento que surgiu pela libertação de
todos os presos políticos de Angola.
"Angola, Brasil, Portugal, Reino Unido, EUA, são, entre outros, alguns
dos países que têm em agenda humanitária e informativa o caso dos “15+2”. À
sociedade, Luaty dedica as seguintes palavras:
“Não vou desistir de lutar, nem abandonar os meus companheiros e todas
as pessoas que manifestaram tanto amor e que me encheram o coração. Muito
obrigado. Espero que a sociedade civil nacional e internacional e todo este
apoio dos media não pare.”
"As acções de solidariedade não têm sido, no entanto, bem recebidas por
todos.
"Em diferentes órgãos de comunicação nacionais, muitas são as linhas de
críticas escritas devido ao envolvimento externo no apelo à resolução do
processo. As mais comuns têm Portugal como destinatário. A título de exemplo,
na rubrica A Palavra do Director, intitulada ” De Portugal nada se espera”, o
órgão de comunicação estatal Jornal de Angola, através da assinatura de José
Ribeiro, invocando o passado, regista que se está “perante um episódio
produzido pelos profissionais que garantiram a melhor cobertura à guerra do
criminoso Jonas Savimbi e do regime de apartheid e hoje se apresentam
travestidos de democratas e defensores dos direitos humanos”. Os profissionais
são, entre outros nomeados, os jornalistas portugueses ou os detentores de órgãos
de comunicação. “A central mediática que está na primeira linha dessa operação
em Portugal pertence a Francisco Pinto Balsemão, militante com o cartão n.º1 do
Partido Social Democrata (PSD) e articula-se entre os canais SIC, o semanário
“Expresso” e toda a rede de publicações do Grupo Impresa”, acusa José Ribeiro"
"São também já conhecidas as duras críticas à presença em Angola, e
envolvimento no apelo à libertação dos activistas, da eurodeputada Ana Gomes;
ou a repressão às vigílias por parte da Polícia Nacional.
"Por tudo isso, Luaty alerta para o facto da força ainda parecer
“desproporcional”, referindo que, apesar do caso ter servido para expôr a
“fragilidade “ de quem governa, a “prepotência, incompetência e má fé”
continuam presentes na gestão do processo.
"Para as atitudes acima descritas, Luaty diz o que já muitas vez
repetiu: “Vamos dar as costas. E voltar amanhã de novo”, anunciando por fim:
“Vou parar a greve.”
"De momento, há que contabilizar, para além dos 15 detidos em Junho, as
activistas Laurinda Alves e Rosa Conde -, constituídas arguidas do mesmo
processo a 31 de Agosto e a aguardar julgamento em liberdade.
"E ainda Domingos Magno, detido no dia 15 de Outubro por “falsa
qualidade”, ao ter na sua posse indevidamente um passe de imprensa que lhe
daria acesso à Assembleia, onde pretendia assistir ao discurso sobre o Estado
da Nação.
"É também considerado preso político Marcos Mavungo, detido há seis
meses e condenado, no dia 14 de Setembro, a seis anos de prisão, acusado do
crime de rebelião contra o Estado. E Arão Bula Tempo, acusado formalmente de
crime de rebelião e instigação à guerra civil.
"É sobre todos eles que Luaty fala".
“Estou inocente do que nos acusam e assumo o fim da minha greve de
fome. Sem resposta quanto ao meu pedido para aguardarmos o julgamento em
liberdade, só posso esperar que os responsáveis do nosso País também parem a
sua greve humanitária e de justiça. De todos os modos, a máscara já caiu. A
vitória já aconteceu”, afirma.
"Segue-se um pedido:
“Abracemos todo o amor que recebemos e agarremos todas as ferramentas.
Juntos. Já não somos os ‘arruaceiros’. Já não somos os “jovens revús”. Já não
estamos sós. Em Angola, somos todos necessários. Somos todos revolucionários.”
"Por fim, o activista assina, em luta pacífica, por “uma verdadeira
transformação social” em Angola.
"O julgamento decorrerá entre 16 e 20 de Novembro".
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