Pesquisar neste blogue

domingo, 11 de abril de 2010

O Principio do fim de Sócrates.

(foto: Tiago Petinga/Lusa)


Começou o principio do fim da “era socrática”.

Ao conseguir transmitir para o exterior a ideia de unidade no interior do PSD, Pedro Passos Coelho iniciou hoje a sua caminhada para o poder.

Se essa caminhada vai ser longa ou breve, apenas a forma como Sócrates conseguir prolongar ou não a sua agonia política o dirá.

Se a táctica de Sócrates ao longo do seu poder foi o de ocupar o espaço político do PSD, esvaziando-o ideologicamente, a corda já foi demasiado esticada à sua esquerda e não poderá responder ao extremismo neo-liberal de Passos Coelho sem romper definitivamente com o eleitorado de esquerda do PS.

Sócrates ainda o tentou com a defesa de um projecto de privatizações, integrado no PEC, sem qualquer estratégia económica credível que não fosse o de “vender os anéis e os dedos” para responder cobardemente à chantagem das agências de rating.

Curiosamente o neo-liberal Passos Coelho não caiu na esparrela e conseguiu dar a volta por cima, (quase que diria, pela “esquerda”) a essa tentativa de Sócrates lhe retirar a argumentação política em defesa da diminuição do poder do Estado na economia.

Para o PS as privatizações têm funcionado como um modo de “criar empregos” para a sua clientela política.

Para Passos Coelho a defesa das privatizações deve obedecer a uma estratégia económica bem delimitada, em defesa de uma separação daquilo que devem ser as funções do Estado dos interesses privados.

O novo líder do PSD tem pelo menos um mérito que é de pôr os portugueses a discutir onde devem começar e onde devem acabar os poderes do Estado.

A sua visão neo-liberal não lhe permitiu, contudo, ir mais além nessa discussão, sendo incapaz de distinguir, de modo claro, aquilo que devem ser as funções sociais do Estado daquilo que é o verdadeiro “excesso de Estado” na sociedade portuguesa: o modo como este dá emprego à clientela política do centrão, através das nomeações políticas para as várias administrações por si controladas, ou da engorda com essa mesma clientela, dos gabinetes ministeriais; os financiamento a obscuros institutos e fundações ; as contratação de gabinetes de advogados onde proliferam conhecidas figuras da vida politica.

Ora, quanto a mim, é neste pé que a “esquerda”, que não se deve alhear dessa discussão, deve colocar a questão das funções do Estado.

A “esquerda” não deve abdicar das obrigações do Estado na educação, na saúde e nas funções sociais. Deve também defender a posição do Estado numa política de transportes públicos, de apoio às energias renováveis, na defesa do ambiente e do património cultural e no apoio às actividades de criação artística não rentáveis .

Além dessas, penso que é pacífico, à “esquerda” e à “direita”, que o Estado deve ser responsável pelas funções de soberania , de segurança e de justiça.

Tudo o resto, quanto a mim, está em aberto.

Passos Coelho inverteu a situação, posicionando-se no terreno de Sócrates. Este, na ânsia de governar para agradar a “empresários” e “economistas” neo-liberais, não tem grande credibilidade se fizer uma tentativa de se demarcar do dirigente do PSD.

Por isso Passos Coelho passa a representar uma real alternativa de mudança política, colocando Sócrates, de há muito desacreditado à “esquerda” e agora a perder terreno entre a sua clientela neo-liberal, na defensiva política, o que, a prazo, representará o fim da sua invencibilidade.

Não navegando nas águas políticas do PSD, devo reconhecer a Passos Coelho o mérito de representar, pela primeira vez nos últimos anos, uma alternativa política credível ao “socratismo”

Como homem de esquerda, só posso lamentar que essa alternativa apareça representada pelo líder mais à “direita” que até hoje foi escolhido para dirigir o PSD.

2 comentários:

Joaquim Moedas Duarte disse...

"Por isso Passos Coelho passa a representar uma real alternativa de mudança política, colocando Sócrates, de há muito desacreditado à “esquerda” e agora a perder terreno entre a sua clientela neo-liberal, na defensiva política"

Esta frase parece-me contraditória, Venerando.
Passos Coelho é uma alternativa a Sócrates? Em quê?


A diferença é que Passos Coelho aparece agora como um homem limpo, em contraste com as nódoas de gordura que têm sujado a imagem de Sócrates. Essa é a única diferença entre eles e, neste momento, é o grande trunfo de P Coelho. Quanto ao resto - assalto ao poder pelos boys do PSD - é só esperar para ver.

Passos Coelho, o que joga a favor dele, é ser mais claro em dizer ao que vem. Pelo menos não engana ninguém com a palavra "socialista".

Venerando Matos disse...

Caro Amigo
Claro que Pedro Passos Coelho não é a minha alternativa.
Mas é a alternativa daqueles que apoiaram com entusiasmo a política neo-liberal de Sócrtes em termos sociais e económicos, mas que se querem descolar, quer das "nódoas" que se colaram a Sócrates, quem das dificuldades de Sócrates, por razões conjunturais, em levar até à sua última consequência essas políticas.
Basta ler e ouvir o entusiasmo com que a mesma gente que sempre defendeu as medidas anti-sociais e anti-económicas de Sócrates contra professores, funcionários públicos, trabalhadores e classe média em geral,vem agora falar na chegada de Passos Coelho ao poder no PSD.
Passos Coelho é, para esses, uma alternativa que vai continuar o caminho aberto por Sócrates, para pior,mas que se apresenta "limpo" das tais "nódoas" que referes e que lhes permite deixar de engolir o sapo de continuarem a votar ou apoir o PS.
É por isso que eu falo em "alternativa".
Quanto ao resto, concordo absolutamente contigo.