Quem o afirmou foi Carvalho da Silva, ontem em Faro, numa conferência organizada pela Faculdade de Economia.
Referindo-se à responsabilidade do sector financeiro pela crise e às medidas preconizadas pelos governos para a resolverem , classificou-as como " o maior roubo organizado da História. O dinheiro mobilizado pelos governos em menos de um ano para tapar buracos é 58 vezes o orçamento das Nações Unidas para o combate à pobreza".
As palavras de Carvalho da Silva, um dos mais lúcidos líderes sindicais deste país, desmontam, em poucas linhas, a estafada argumentação de governos, sectores financeiros e comentadores em defesa do PEC e outras medidas de “contenção” preconizadas para ultrapassar a crise e os seus reflexos nos orçamentos.
De facto, se por um lado as mais “altas” instâncias económicas e financeiras andaram a apelar aos governos para ajudarem o sector financeiro em dificuldades, com recurso ao orçamento dos Estados, isto é, ao dinheiro dos contribuintes, são esses mesmos sectores que agora vêm exigir uma redução do deficit, que aumentou em grande parte por causa dessas ajudas, à custa dos salários e dos contribuintes da classe média.
Entretanto, numa atitude vergonhosa e escandalosa, esses mesmos sectores continuam a conceder chorudos ordenados e ainda mais escandalosos prémios de desempenho a muitos dos gestores responsáveis pela crise mundial, enquanto chantageiam a maior parte dos seus assalariados com o espectro do desemprego.
Contudo, se olharmos para os lucros do sector financeiro e das grandes empresas, muitas delas responsáveis pelo drástico aumento de desemprego, as mesmas que pagam essas benesse aos seus gestores, esses lucros, em muitos casos, bateram, no último ano, e nalguns casos já no primeiro trimestre deste ano, todos os recordes conhecidos.
Afinal em que ficamos? Quem conhece minimamente o que foram as grandes crise mundiais há, de facto, algo que não bate certo. Como é possível que só uma parte da sociedade, aqueles que trabalham e produzam, sintam na pele os seus efeitos, enquanto as grandes empresas e o sector financeiro, responsáveis pela crise, continuem a exibir lucros fabulosos e a pagar escandalosos salários e prémios aos seus gestores?.
E já agora, um exercício simples sobre a “crise”: quem se der ao trabalho de observar á sua volta, talvez já tenha reparado que, aí uns 90% dos automóveis com matriculas de 2009 e 2010 são carros topo de gama, inacessíveis, por exemplo, aos “salários privilegiados” dos professores no topo da careira. Essa situação prova que, ou anda muita gente a fugir ao fisco ou os ricos continuam a enriquecer cada vez mais.
Historicamente uma crise caracteriza-se pelo desemprego generalizado, provocada pela falência em cadeia de grandes bancos e grandes empresas, atingindo financeiramente todos os grupos sociais.
Esta crise parece de facto um grande embuste, a servir de desculpa para despedir a eito, desvalorizando rapidamente o factor trabalho, talvez como forma de se obter uma nova acumulação de capital à custa de cortes salariais e sociais. Se hoje não é politicamente correcto o recurso à pirataria, ao saque colonial ou à escravatura, que foram as formas tradicionais de acumular capital, o que se está a passar parece de facto “o maior roubo organizado da história”.
Leia-se AQUI toda a reportagem sobre a conferência de Carvalho da Silva.
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