Parece que a Europa descobriu agora que na Tunísia existia uma ditadura (há vinte anos!!!). E que o ditador foi derrubado pela “rua árabe” ( e não pelos estudantes desesperados com a sua precária situação económico-social…).
Até à véspera do derrube do ditador tunisino (aliás, eleito para o cargo em “eleições” tão “livres” como as realizadas nalguns países do leste da Europa), a Tunísia era vista por grande parte das chancelarias europeias como um regime “estável”, um” travão à expansão islâmica”, um “bom destino turístico”, “esquecendo-se” da forma como a oposição era desrespeitada e dos atentados que aí se registavam contra os Direitos Humanos.
A referência agora à sempre existente Ditadura é uma “verdade conveniente”, bem como a referência ao papel da “rua árabe” no derrube do regime.
O que eles querem esconder é a verdadeira razão dessa revolta, que tem na origem os mesmos sintomas das revoltas na Grécia, em França e na Inglaterra ( e onde mais se verá…): o descontentamento dos jovens, muitos deles estudantes universitários, sem perspectivas de futuro, desempregados ou precários, contra as consequências do sistema económico neo-liberal, apátrida, e que encontrou na ditadura Tunisina um bom aliado para se afirmar no norte de África (o sistema neo-liberal dá-se bem com ditaduras e regimes autoritários, ou não tivesse tido o seu campo experimental no Chile de Pinochet…).
A consequência política dessa revolta teve mais impacto num país como a Tunísia, por ser um elo fraco do sistema, mas, pelo caminho que se está a seguir na Europa, a situação dos jovens europeus face ao futuro será em breve tão desesperada como a dos jovens tunisinos.
A revolta contra a ditadura foi um pretexto. Na Europa os pretextos serão outros, mas a violência será igualmente tão brutal e com graves consequências políticas.
A continuar a cegueira dos líderes europeus, é só uma questão de tempo até termos aqui cenas idênticas às registadas na “rua árabe” , mas desta vez contra a “ditadura” do Banco Central Europeu, dos comissários europeus e da sua burocracia, cujo poder nunca foi escrutinado pelos cidadãos europeus, nem à “moda da Tunísia”.
(A propósito da hipocrisia europeia em relação à situação na Tunísia, recomendamos a leitura do artigo publicado ontem no El País e que pode ser lido clicado na frase em baixo:)
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