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domingo, 9 de janeiro de 2011

O Respigo da Semana - Manuel António Pina comenta uma "portaria" (ou uma "porcaria"?)

"Por mero acaso

por Manuel António Pina


"Foi decerto só por mero acaso que as medidas de austeridade que se traduzem em reduções de salários e prestações sociais ou em aumentos de impostos, como também os aumentos dos preços dos bens essenciais, entraram em vigor no exacto momento em que acabou de soar a 12ª badalada da meia-noite de 31/12/10, enquanto a propagandeada contribuição extraordinária sobre a banca, que Sócrates apresentou como forma de também os bancos participarem nos famosos sacrifícios "para todos", ficou à espera, comodamente sentada, de uma portaria regulamentadora. A notícia foi dada pelo "Público", que tentou, sem sucesso, obter do Ministério das Finanças explicação para o estranho caso da portaria inexistente (ou da porcaria existente).

O "sacrifício" da banca (a quem todos somos devedores da presente crise) seria de um a cinco centésimos por cento sobre o passivo de cada banco, isto após várias deduções, e um a dois décimos de milésimo por cento sobre os valores dos instrumentos financeiros de derivados (os cortes nos salários da Função Pública são de 3,5 a 10%).

Mas talvez, quem sabe?, a portaria "esquecida" seja um dia publicada. Só que, nessa altura, a banca dirá que a sua décima de milésima parte nos "sacrifícios" é... retroactiva, e a coisa acabará no TC. E, aí, ao contrário do que aconteceu com o aumento extraordinário do IRS, os juízes "do" PS e "do" PSD já estarão certamente todos do mesmo lado".

in Jornal de Notícias,  6 de Janeiro 2011

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