Confesso que sempre me fez confusão a quantidade de acompanhantes nas comitivas de primeiros-ministros e presidentes, nas suas visitas oficiais.
Pensava eu que os ministros e os secretários de estado dessas comitivas chegavam para estabelecer acordos bilaterais nas áreas em causa nessas visitas (geralmente financeiras, económicas, culturais, educativas…).
Posso ainda perceber a presença de responsáveis máximos de algumas associações patronais, quando se trata de negócios.
Já não percebo as dezenas de empresários ou de “individualidades” que integram essas comitivas. Só nesta última ao Quatar eram …cinquenta empresários (fora assessores e outras companhias…).
Tudo bem, se essas viagens e estadias fossem pagas pelas respectivas empresas, ou se essas viagens se realizassem de longe em longe, aí uma ou duas vezes por ano.
O problema é que as despesas com essas comitivas saem do erário público e, desde que iniciou o seu segundo mandato, não há semana em que o “nosso” primeiro não ande em viagem de “negócios” acompanhado por essa nova “corte” dos tempos modernos.
A desculpa é a de que esses contactos podem ser importantes para o desenvolvimento dessas empresas. Tudo bem, se os “negócios” assim criados revertessem a favor do país e não apenas de um grupo restrito de empresários, gestores, accionistas, ou bancários.
Esta é uma das diferenças entre Portugal e os países nórdicos. Nestes, os rendimentos com os negócios das grandes empresas revertem em parte como benefício para as sociedades e os cidadãos desses países..
Veja-se o caso do petróleo. Para a Venezuela, o Brasil, o norte de África, ou o Médio Oriente, o nosso primeiro faz-se acompanhar quase sempre pelos responsáveis máximos das empresas petrolíferas nacionais que conseguem obter grandes vantagens nesses países na aquisição desses produtos. Seria de esperar que, como contrapartida do apoio estatal (isto é dos contribuintes) aos negócios dessas empresas, no mínimo a gasolina tivesse em Portugal um preço acessível aos cidadãos. Contudo não é isso que se passa.
Noutros sectores passa-se a mesma coisa.
Ou seja, essas comitivas de empresários, pagas por todos nós, fazem negócios que só beneficiam o rendimento de uma minoria de accionistas e de gestores (grande parte destes “meros” “boys” do centrão),sem nenhum proveito para o país, a não ser uns empregos precários e mal pagos, para disfarçar as estatísticas do desemprego.
Seria interessante fazer um balanço entre os custos e os benefícios que essas comitivas trazem para o país e para os seus cidadãos (assim houvesse um jornalismo corajoso e independente que investigasse essas “coisas”…).
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