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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

BPN - COMO CIDADÃO SACRIFICADO E CONTRIBUINTE EXIJO RESPOSTAS...

Profissionalmente, comecei o ano com a notícia de que me vão aumentar o horário de trabalho, para além do já previsto corte salarial (vou passar a receber menos que em 2005).

Dizem que temos de fazer sacrifícios. Penso que toda a gente estava disponível para fazer sacrifícios, até mais do que os actuais, se fosse pelo desenvolvimento do seu país e pelo futuro dos seus filhos.

Mas não é nesse sentido que vão os sacrifícios pedidos.

Os verdadeiros objectivos são:

PRIMEIRO: - “acalmar os mercados”, uma espécie de entidade omnipresente e aparentemente sem rosto que vive do saque económico e dos “sacrifícios” dos cidadãos.

Como se viu ainda hoje, os tais “mercados”, que se comportam como hienas, não se acalmam assim. Aumentar “o sangue dos sacrifícios” só atrai mais hienas, cada vez mais agressivas;

Só conheço um país que conseguiu acalmar esses”mercados”, foi a Argentina, aqui há uns anos atrás.

O presidente de então, já falecido, perante uns “mercados” que, lá como cá, perante a desgraça que aquele país atravessava, “ajudavam-no” com aumentos incomportáveis de juros, disse aos “mercados” mais ou menos isto: os juros que nos impõem são pura ladroagem. Por isso, ou aceitam um juro que me parece justo para a Argentina (e avançou um número que rondava os 3%) ou nós não pagamos.

Depois de muito bracejarem, as hienas dos “mercados” acabaram por ceder, para não perderem tudo, e a Argentina saiu da crise. Esta devia ser a atitude da Europa, ou, perante a falta de solidariedade no seu seio, do grupo conjunto de países que estão a ser saqueados, os célebres PIIGS (+ B,de Bélgica) .

Mas isto era se tivéssemos lideranças políticas que defendessem os seus cidadãos contra a pirataria dos “mercados”.

Acontece que a maior parte desses políticos estão comprometidos, do ponto de vista pessoal, económico e político, com esses mesmos “mercados”. (São esses "mercados" que lhes dão emprego quando se reformam da política e é para esses "mercados" que eles governam).

E é esta situação que nos leva ao SEGUNDO objectivo desses sacrificios, oculto mas real, que é o de tapar o buraco aberto pelos esquemas fraudulentos do BPN e do BPP.

Segundo dizem, o buraco do BPN ronda os 5 mil milhões de euros, o dobro do que o Estado pensa arrecadar com os “sacrifícios” exigidos aos funcionários públicos e com os aumentos de impostos.

E pelo que parece esse buraco não vai ficar por aqui, pois já se fala em injectar mais 2 mil milhões nesse banco, ou seja, no total cerca de 5% do PIB nacional enterrado, a maioria sem retorno, naquele banco sem futuro.

Salvar e continuar a alimentar os saqueadores, os especuladores e os corruptos, eis os verdadeiros objectivos dos sacrifícios que nos são pedidos.

Por isso, e já que vou pagar com o aumento do horário de trabalho, com um significativo corte salarial e com o pagamento de mais impostos, exijo, aos nossos políticos, aos nossos tribunais, aos nossos comentadores de economia e aos jornalistas de investigação, respostas para as seguintes perguntas sobre o BPN:

- Quem foram os indivíduos do meio político, económico e financeiro que beneficiaram com as fraudes do BPN e quais os valores realmente envolvidos?;

- Quem são os mais de 300 accionistas desse banco e quais as responsabilidades de cada um deles no esquema fraudulento que o arruinou?;

- Quais as ligações político-partidárias com esse banco (por exemplos, que campanhas eleitorais foram pagas por ele)?;

- Que responsabilidade tem o Banco de Portugal, nomeadamente o seu antigo presidente Victor Constâncio, na forma como ignorou os vários avisos de alerta para o esquema fraudulento em que assentava o funcionamento desse banco (nomeadamente uma reportagem da revista Exame de 2001 e que custou o despedimento do director de então desta revista, o jornalista Camilo Lourenço, por pressão da administração do BPN)?;

- Porque não se tomou desde logo a medida mais correcta e com menos custos para o erário público, que seria a dissolução do banco, integrando os trabalhadores que fosse possível na CGD, pagando as indemnização a quem tivesse direito, garantindo os depósitos dos clientes que não estivessem envolvidos no esquema fraudulento, e  congelando os bens de todos os administradores do banco e dos seus accionistas, até apuramento de todas as responsabilidades?;

- Sabendo-se que a “marca” BPN está definitivamente queimada, o que é que por lá continuam a fazer 7 administradores, 7, nomeados pela CGD, (4 a tempo inteiro) e porque é que se mantém esse banco a funcionar?;

- Qual o custo para a CGD e para os contribuintes, do prolongamento artificial de um banco sem futuro?;

- Porque é que, ao nacionalizar o BPN, não se nacionalizou a Sociedade Lusa de Negócios? Quem se procurou proteger e beneficiar com esta atitude?;

- Por último, até que ponto o salvamento desse banco não serve como moeda de troca, entre os barões do PS e do PSD, para esconder a situação de outros bancos, nomeadamente a do BPP?.

Já que, como cidadão deste país, me vou sacrificar para salvar o buraco provocado pelo BPN e por outros “produtos tóxicos” do meio financeiro, tenho direito a saber um dia as respostas a estas perguntas.

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