(Foto do DN)
O “Cavaquismo” é o regime em que vivemos nos últimos vinte anos e que contaminou toda a vida portuguesa.
O “Cavaquismo” nasceu na segunda metade da década de 80 do século passado, quando o país vivia em estabilidade política e foi invadido com o dinheiro “fácil” da União Europeia.
O “Cavaquismo” criou a ilusão de que todos podíamos ser ricos, consumir até cair para o lado, comprar carros de grande cilindrada, possuir casa de férias, viajar pelo mundo, ter uma empresa, tirar cursos superiores..., tudo à custa do crédito bancário e dos empréstimos europeus. Este era o modelo político-social e o objectivo de vida que os portugueses deviam interiorizar. Tudo o resto pouco interessava. Era o “capitalismo popular” no seu máximo esplendor, o “novo-rico” feito à pressa, como modelo.
O “Cavaquismo” criou a ideia que o Ter era mais importante que o Ser. A quantidade era mais importante que a qualidade. As estatísticas e os gráficos dos índices bolsistas ganharam foro de verdades absolutas. As Ciências Humanas, as artes, a literatura, a cultura, perderam importância, sendo considerados como bens supérfluos, elitistas e despesistas,” incapazes de criarem riqueza” quantificada.
O “Cavaquismo” encheu o país de betão, de auto-estradas, de hipermercados, de futebol , de telenovelas e de musica pimba.
O “Cavaquismo” privatizou ou prometeu privatizar tudo o que era possível privatizar, com a promessa de que a concorrência e o esforço dos privados ia tornar os preços mais baratos aos “consumidores”, principalmente na banca e na energia. Foi o que se viu…
Para isso foi necessário desertificar o interior do país, destruir a nossa paisagem rural, abandonar o nosso património, desinvestir nos transportes públicos, acabar com a agricultura, a industria e a pesca. Bastava o crédito dos bancos e os subsídios da União Europeia para sermos “gente”. Todos podíamos ser empresários ou accionistas. O “Negócio” comandava a vida .
A Ética tornou-se uma “força de bloqueio” ao enriquecimento rápido. Em nome do supremo valor do cifrão, todos os fins justificaram os meios, e todos os meios foram legítimos, como a fuga aos impostos, os compadrios, as leis e os concursos públicos feitos à medida dos fiéis.
Nessa ilusão embarcaram quase todas as elites políticas, económicas e intelectuais deste país, ilusão alimentada pela publicidade e pela imprensa e até por uma certa esquerda “moderna”, bem representada no PS de Sócrates.
…E o nosso drama é que agora vamos pagar essa ilusão, para continuar a alimentar esse “cavaquismo” e os boys do “centrão”, com os cortes nos nossos ordenados, com os aumentos nos nossos impostos, com os nossos empregos precários, o nosso desemprego e as nossas reformas de miséria, tudo em nome dessa outra ilusão, intocável para os “cavaquistas” que é a “lógica” dos “mercados”…
O “Cavaquismo” tornou-nos cada vez menos cidadãos, menos solidários e menos cultos, e cada vez mais “consumidores” , “negociantes” e “contribuintes”.
…Até quando?
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