Parece que a nossa classe política rapidamente se esqueceu do
significado das eleições de domingo e, ajudada por uma comunicação social
sedenta de “sangue”, voltou para o seu mundinho de intriguinhas rasteiras, longe
da “populaça”.
Só assim se percebe o silêncio do Presidente da República, as
afirmações demenciais do primeiro-ministro e a euforia do líder do PS.
Em democracia ganha quem…fica à frente, nem que seja por um voto…e quem
ganhou foi o PS….venceu….mas não convenceu.
Parece que Coelho ficou contente com o resultado, apenas porque a fraca
prestação do partido vencedor disfarçou
a abada da coligação governamental.
Se o PS, o partido de facto vencedor, apenas convenceu pouco mais de
10% eleitorado, o PSD nem essa
percentagem conseguiu convencer .
Essa abada seria mais visível se abstenção fosse menos.
Assim, até às legislativas, o PSD pode viver na ilusão de que até teve
um resultado positivo, mesmo que mais de 90 dos eleitores se tivesse recusado a
votar nos candidatos do governo…
Claro que, mais uma vez, a abstenção faz o jogo dos partidos
responsáveis pela crise, pois permite que se obtenha uma vitória com pouco mais
de 10 % dos eleitores e que o governo
fique “perto” do principal partido da oposição, dando-lhe argumentos para
continuar com a sua política de austeridade…afinal as pessoas “não estão assim
tão descontentes” com as medidas do governo.
A indiferença geral em relação à democracia vai dando argumentos aos
que defendem mais austeridade e mais autoritarismo e desrespeito pela Constituição.
Pessoalmente não conheço outro modo de, em democracia, alterar a
situação a não ser votando.
As pessoas estão descontentes como os políticos? Então mexam-se e actuem,
nos sindicatos, dentro dos partidos, assinando petições, manifestando-se e…votando.
E não se podem queixar de falta de alternativas. Da esquerda radical, à
extrema-direita, nestas eleições houve gosto para tudo, até para os meros
partidos de protesto ou de causas. E há ainda a possibilidade do voto em
branco.
Mas, voltando à questão inicial, assim que se conheceram os resultados,
sendo notório que o PS não se conseguiu deslocar suficientemente da aliança
governamental, a comunicação social, principalmente a televisiva que, aliás,
prestou um mau serviço no próprio dia, ao substituir o jornalismo independente e
o comentário de especialistas pelo debate esmagadoramente dominado por comentadores-militantes
dos partidos do “arco do poder”, sem o
mínimo de respeito por uma opinião plural e independente, lançou-se na caça “às
bruxas”, ou seja, na caça a António José Seguro…
Não deixa de ser curioso que António José Seguro, desde que lidera o
partido, venceu todas as eleições a que concorreu, mesmo que não tenha sido de
uma forma esmagadora. A razão para não obter vitórias esmagadoras deve-se, por
um lado, à grande influência da propaganda governamental-austeritária junto da
comunicação social (lei-se..televisão!), por outro à lembrança do que foi o
governo de José Sócrates.
Contudo, Seguro foi, dentro do PS, dos poucos que, de forma inequívoca e
coerente, enfrentou José Sócrates, ao contrário de António Costa, que andou
sempre na corda bamba do “Nim” em relação a Sócrates.
Alguém comentava num fórum radiofónico que, se Costa age desta forma
traiçoeira em relação a um amigo, Seguro, o que é que ele fará em relação aos
cidadãos que pretende governar.
De facto na política não existem amigos nem lealdade. Esta forma de
actuar é de facto um mau começo para a caminhada de Costa par o poder.
Claro que as intensões de Costa não apanham de surpresa que segue os
seus comentário na televisão, sempre numa posição cautelosa e esguia, não se
comprometendo com a defesa de posições firmes de condenação das medidas
governamentais .
Além disso é bom não esquecer que, desde há muito, Costa é o homem de
confiança, dentro do PS, da “máfia” do Clube Bilderberg (que aliás se vai
reunir semi-secretamente no próximo dia 1 de Junho). Recorde-se já agora que o homem
de confiança no PSD do grupo secreto que decide a política mundial é Rui Rio…
E já agora, alguém conhece as ideias de Costa para mudar a situação do
país? Como é que vai enfrentar a Europa austeritária? Como pretende combater o
desemprego jovem e de longa duração? Que propostas tem para baixar os impostos?
Como vai combater o aumento da desigualdade? como vai respeitar os direitos
laborais e a Constituição? Que ideias tem para combater a política de salários
baixos? Como pretende combater a influência do poder financeiro?...
Costa pode garantir o poder, de forma mais rápida que Seguro, mas …o
que interessa para o comum dos cidadãos o poder pelo poder?... só se for os “boys” do PS.
Ao contrário de Seguro, Costa é um bom demagogo, com uma boa presença
televisiva, bem aparentado, mas resta saber se não passa de mais um produto
publicitário impingido pela televisão.
É bom recordar que, aqui há uns anos, um responsável por uma televisão
se gabava de conseguir, através desse órgão de comunicação, “vender” políticos
como vendia sabonetes.
Já tivemos a experiência de dois políticos “vendidos” pela imagem
televisiva que vendiam: Santana Lopes e José Sócrates….arriscamo-nos agora a
que nos venda mais um…
O que está em causa não são as pessoas. São as politicas. Enquanto as
pessoas não se capacitarem disto o país continua entregue aos “pipis” do
costume que só velam pelos seus interesses pessoais e pelo dos “amigos” e a democracia aproxima-se perigosamente do
seu colapso….
Quem se deve estar a rir com isto tudo devem ser Paulo Portas, Passos
Coelho, Cavaco Silva e Durão Barroso…