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quinta-feira, 11 de março de 2010

A intrusão do poder económico no poder político preocupa José Gil

A notícia pode ler-se no site informativo da RTP:

"O crescente peso da economia global está a provocar um movimento de “erosão da democracia”, com reflexo na governação dos Estados ao ponto de interferir nas políticas nacionais, sustenta o filósofo José Gil, que está a proferir a última lição na Universidade Nova de Lisboa, onde lecciona há 29 anos. Em Portugal, acresce o facto de não existir espaço público, enquanto comunidade formadora.José Gil refere erosão da democracia e ausência de espaço público

"Há uma intrusão cada vez maior dos interesses económicos", "de tal maneira que a política e os princípios democráticos têm cada vez menos força face à economia", explica José Gil, em entrevista à Lusa. Além da força política, também a autonomia da acção política está diminuída face à economia. "Em campos decisivos já não pode tomar decisões que vão contra os imperativos da globalização", acrescenta para a TSF.

"Sem duvidar que Portugal "é um país livre na sua expressão democrática", o filósofo nota que a democracia não se limita a eleições e que o sentido de voto é "condicionado pela economia, pela maneira como as campanhas eleitorais se fazem, pela maneira como é representado o povo".

"(...)

"Identificando fragilidades nos sistemas da Justiça e da Educação, que colocam em causa a convicção nas instituições, José Gil atalha ao diário [de notícias]: "Portugal está a abdicar da exigência democrática. Não há um esforço para pensar em alternativas além dos paradigmas reformistas vigentes".

"Há um movimento de tomada de consciência de uma espécie de injustiça da sociedade, história e da governação que não pode ser outra porque não há alternativa", admitindo Gil que uma das consequências seja o aumento de contestação social. "A situação tornou-se tão precária que já não se protesta ou quando se protesta não se tem resposta e resignam-se", adiantou José Gil.

"Se os movimentos de revolta podem estimular "a investigação do pensamento", como forma de superar "a via única" da globalização; por outro lado "quando uma sociedade começa a não acreditar na Justiça, isto pode dar muita coisa má".

"Ausência de espaço público

"Para tema da última aula na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, José Gil escolheu "A Formação da Linguagem Artística e a Filosofia". O tema está em estreita ligação com o do espaço público, que o filósofo entende não existir.

"É uma coisa confrangedora como é que em Portugal as pessoas pensam sempre sozinhas", uma situação comum à comunidade artística e filosófica. Segundo o filósofo, é resultado da "não pertinência da arte para a nossa vida" em Portugal.

Com isto perde-se além da "inteligência que passa no discurso e no comportamento público", uma "inteligência que "só a arte nos dá e que é fundamental" transformada em cultura artística, afirma ao "Público". José Gil elege Paris e Nova Iorque como cidades em que dois meses depois de lá chegar "é-se realmente mais inteligente".

"Na formação da inteligência múltipla, múltipla nas suas expressões, há uma inteligência que só a arte nos dá e que é fundamental (...) Numa cidade inteligente, a arte existe e o discurso artístico atravessa esse espaço independentemente dos interlocutores, atinge as pessoas, incluindo as que não pensam nisso", refere.

Inspirado em Nietzsche, José Gil aponta que em Portugal, domina o "prazer imediato", o dos "pequenos gozadores" sem espiritualidade. A perda "do silêncio" equivale ao fim "da riqueza de percepção", à "transformação do objecto artístico em objecto cultural".

Um pensamento livre e uma lufada de ar fresco que levanta muitas questões , nesta hora de total descalabro do discurso e da acção do poder político e económico, a merecerem, da parte do cidadão comum (e "pagante") uma profunda reflexão sobre a sociedade que se está a construir.

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