Na minha idade já vi quase de tudo, na cultura, na sociedade e na política.
Contudo nunca pensei ter de aplaudir e subscrever por baixo a intervenção de hoje de Bagão Félix no “Conselho Superior” da Antena 1, nem ver esse mesmo economista, próximo do CDS a ultrapassar pela esquerda o PS de José Sócrates.
Na sua intervenção de hoje começou por desmontar a injustiça social que está consignada no PEC apresentado pelo governo, demonstrando que o seu conteúdo esvazia totalmente a identidade de um partido que defende no seu programa preocupações sociais e de alteração das injustiças sociais. Demonstrou aquilo que muita gente de esquerda já anda a ver há muito tempo que é o facto de o pragmatismo de direita de José Sócrates andar a esvaziar o Partido Socialista daquilo que resta da sua identidade de partido de esquerda.
Mas Bagão Félix foi ainda mais longe. Falou das privatizações propostas no PEC, usando, aliás com alguma graça uma definição para aquilo que se defende nesse documento que é o de “privatizar tudo o que mexe”. Também aqui Bagão Félix se colocou à esquerda deste PS, mostrando o erro em privatizar algumas empresas de importância estratégica para o país e desmontando a falta de perspectivas económicas e sociais aí reveladas, numa entrega quase abjecta do país, por via do PEC, aos grandes interesses financeiros representado, aqui segundo a minha interpretação, pelo “eixo do mal” do PEC, BCE e empresas de rating.
Claro que, perante a “ideologia” política de José Sócrates é fácil a quem tenha algum bom senso e alguma preocupação de cariz social, colocar-se à esquerda do “bando” de Sócrates.
É caso para dizer que, perante este PEC e esta “rapaziada” que manda no PS até o meu cão ladra à esquerda de José Sócrates .
2 comentários:
No século XXI é absolutamente anacrónico insistirmos na análise social e política fundados na dicotomia esquerda-direita. Esse é um sistema classificatório ultrapassado que nos torna reféns e nos impede uma reflexão sensata.
A posição de Bagão Félix não tem nada de surpreendente. Ele apenas está a dar voz à conhecidíssima "Doutrina Social da Igreja", a qual refere explicitamente a "opção preferencial pelos mais pobres".
o que continua a ser anacrónico no século XXI é que se continuem a defender medidas sociais do século XIX.
o que continua a ser anacrónico no face à tecnologia do século XXI é que se continue a ter medo de dar a cara pelas nossas opiniões, refugiando-nos no anonimato.
Quanto ao resto, estou de acordo consigo.
um abraço.
Venerando Matos
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