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quarta-feira, 15 de julho de 2009

O respigo da semana - 10- Samuel "o cantigueiro"


(Sábado, 11 de Julho de 2009 )

O senhor Daniel Bessa, ex-ministro de Guterres, seguindo o exemplo de muitos outros ex-ministros, por esse mundo fora, que passeiam por colóquios, conferencias e jantaradas várias, o grande saber e talento que quase sempre não revelaram enquanto estavam nos governos, foi dizer umas coisas a Aveiro.
A dada altura, no que a princípio pareceria um toque de humor, mas afinal era a sério, afirmou que a famosa gaffe de Manuel Pinho, na China, quando tentou atrair investimento para Portugal “gabando-se” dos baixos salários portugueses como se de uma vantagem se tratasse, em vez de gaffe, foi afinal uma das coisas mais acertadas que disse.
Aqui, o senhor Bessa tomou o freio nos dentes e saiu disparado. Não só essa afirmação de Pinho foi acertada, como essa ideia deve tornar-se num “desígnio nacional”. O país deve, segundo ele, fazer um “controlo férreo” dos custos, portanto, dos salários. Logo a seguir mete os pés pelas mãos, “lamentando” o facto de, devido ao baixo poder de compra dos portugueses, a procura interna estar estagnada. Mostrando que afinal não é tão inteligente como se diz, esquece-se de que a esmagadora maioria das empresas portuguesas produz exclusivamente para o consumo interno.
Não será preciso ser astrofísico para perceber que todo e qualquer aumento do poder de compra dos portugueses se reflectirá directa e imediatamente no dia a dia dessas empresas e nos seus balanços... mas não para o senhor Bessa! Esse aconselha as empresas a manter os salários e todos os custos de produção (exceptuando os ganhos dos gestores, certamente) ao nível mais baixo que for possível... e dedicarem-se à exportação. Aconselha mesmo algumas empresas a deslocalizarem alguns sectores da sua produção para países com ainda mais baixos salários, abandonando o país.
A menos que esteja a falar para meia dúzia de grandes empresas, que representam muito pouco para Portugal, tanto em número de postos de trabalho, como em receitas para o Estado, mais dois ou três casos excepcionais de PMEs realmente viradas para o mercado externo, este argumento do ex-ministro é tão pedestre que se torna bastante difícil classificá-lo de maneira educada.
Os senhores ex-ministros Pinho & Bessa que me desculpem a comparação, mas lembram-me os grandes relvados dos jardins, sempre “minados” de poias. Quando pensamos que conseguimos evitar uma, é exactamente no movimento de nos desviarmos que acabamos por pisar a outra."

Samuel
In Cantigueiro

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