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terça-feira, 14 de julho de 2009

A morte de um revolucionário generoso - Palma Inácio

(fotografia de Palma Inácio da autoria de Daniel Rocha/Público)

Hermínio da Palma Inácio faleceu hoje, aos 87 anos.
Figura destacada na resistência ao salazarismo, protagonizou algumas das acções mais espectaculares dessa luta, como a participação no primeiro desvio de um avião, por razões políticas, em 10 de Novembro de 1961, a partir do qual foram lançados milhares de panfletos sobre Lisboa, apelando a um levantamento contra o regime, ou no célebre assalto ao Banco de Portugal, na Figueira da Foz.
A sua acção “anti-fascista” caracterizou-se por introduzir um novo tipo de luta baseada na guerrilha urbana, destacando-se do tipo de acção de outras tendências da oposição, como as levadas a cabo pelos republicanos, socialistas e comunistas, mais pacíficas e, muitas vezes, semi-legais.
Natural de Ferragudo, pertencendo a uma família de ferroviários, viveu a sua juventude na localidade algarvia de Tunes.
Fundou o grupo revolucionário, de tendência “guevarista”, LUAR (Liga de Unidade e Acção Revolucionária) que se transformou num partido legal após o 25 de Abril, muito activo no chamado “Verão Quente” de 1975.
Passados os anos da revolução, a maior parte dos seus dirigentes aproximou-se do Partido Socialista. Palma Inácio foi deputado, eleito nas listas deste partido.Pessoalmente, tendo militado na LUAR em 1975, depois de ter rompido com o PS, cruzei-me algumas vez com Palma Inácio, uma figura carismática durante a minha juventude, embora nunca tenha falado com ele, já que o “controleiro” da célula de Torres Vedras era o Fernando Pereira Marques.
Numa determinada ocasião, sendo ainda militante da LUAR, fui pessoalmente agredido por um “ferro em brasa” do PCP, aqui em Torres Vedras. Contaram-me, embora nunca o tenha conseguido confirmar, que o próprio Palma Inácio se terá deslocado à sede do PCP (penso que em Lisboa) a exigir explicações por essa agressão de que fui vítima.
Em comparação com as restantes organizações da chamada extrema-esquerda (ou esquerda revolucionária), nomeadamente em relação aos chamados M-L, a LUAR, após o 25 de Abril, foi sempre uma organização profundamente democrática, quer nas relações internas, quer no modo como se relacionava com as restantes tendências políticas.
A mim, a passagem por essa organização, liderada por Palma Inácio, a última onde militei, ensinou-me que se pode ser radical e revolucionário, respeitando a democracia, o pluralismo e a liberdade.
Palma Inácio nunca se aproveitou do seu prestígio na esquerda para retirar benefícios pessoais, sendo um exemplo maior de um revolucionário romântico.
Até sempre Palma Inácio!

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