Devo confessar que, pouco conhecendo da economia e finanças,
tenho-me surpreendido com uma idéia que a maior parte dos comentadores,
economistas e políticos debitam nas suas intervenções na comunicação social, a
de que os salários dos funcionários públicos pesam cerca de 80 a 90 %
(conforme os opinadores) no orçamento de Estado, ou a de que os funcionários
públicos recebem salários mais altos do que os privados, ou a de que o peso
dos funcionários públicos no PIB do país seria superior à média europeia.
Um estudo pormenorizado
publicado na última edição do Expresso, da autoria do jornalista João
Silvestre, deita por terra todos aqueles mitos (ou mentiras?).
Com a leitura desse artigo e dos gráficos aí revelados,
ficamos a saber que, ao contrário daquilo que aquela gente tem “vendido” para a
opinião pública, os salários não pesam 80 ou 90% da despesa mas…22,1%!!!.
Ficamos também a saber que o peso dos salários dos
funcionários no PIB de Portugal é de 10,4%, abaixo da média europeia, só
existindo seis países, entre os 27, com um peso inferior.
Também nos salários a situação não é exactamente aquela que
aqueles opinadores tentam passar para o público. Uma coisa é a média, outra é a
realidade micro. Em média, de facto existe uma diferença favorável à Função
Pública. Mas esta diferença deve-se, em grande parte, ás diferenças de
qualificação entre os trabalhadores do estado e os privados, situação que não
denuncia tanto uma situação de desigualdade, mas a vergonhosa situação de uma grande
parte do sector privado, apostando pouco na inovação tecnológica e pagando
miseravelmente aos seus “colaboradores”.
Contudo, essa diferença inverte-se quando comparamos as
funções de maior responsabilidade e qualificação. Neste caso o privado paga
muito melhor.
Apenas para um reparo, que não é da responsabilidade dos
jornalistas mas de quem fornece a informações. Se legalmente um professor do ensino básico e secundário, no
topo da carreira, receberia, de ordenado bruto, 3364,63 euros, na realidade não
há um único professor deste país a receber esse salários, pois esse escalão foi
criado mas, com a congelação das progressões, o máximo que um professor recebe
“virtualmente” é 3090 euros, mas actualmente esse valor, devido aos corte de
vencimento que dura quase há três nos, está nos 2800 euros, aos quais se tem de
retiras o valor do IRS, dos descontos para a CGA e para a ADSE, reduzindo o
valor realmente recebido por um professor no topo da carreira para erca de 2/3 deste último valor.
Também o valor do salário de um professor no início da carreira é virtual,
porque não tem em linha de conta os professores contratados e os que não estão na
carreira, recebendo estes muito menos do que os 1500 euros aí indicado.
Ou seja, se estes são os dados enviados para as instituições
internacionais, eles não correspondem à realidade e são falaciosos, e explicam a visão parcial e falsa que essas instituições registam nos seus relatórios sobre a situação portuguesa, como aconteceu com a infeliz farsa do relatório do FMI.
Quanto aos comentadores, economistas e políticos que citei
no início, só lhes resta, se ainda tiverem uma réstea de dignidade, pedir publicamente desculpa pelas suas mentiras e
falácias, sob pena de ninguém poder continuar a acreditar naquilo que debitam para
influenciar a opinião pública.
InVerbis - Poder de compra cai de 12% a 30% (clicar para ler referência aos conteúdo do artigo do Expresso)
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