Na edição de hoje do jornal Público pode ler-se uma
excelente biografia sobe o recém falecido Jaime Neves.
Intitula-se esse trabalho, da autoria do jornalista Paulo
Moura, “o anti-herói da revolução – Jaime Neves”, contrapondo-o aos dois
“heróis” da revolução, Otelo e Salgueiro Maia.
Nessa biografia ressaltam as qualidades militares, mas também a ambiguidade e o
carácter tendencialmente violento daquele militar, sendo ainda hoje obscura a
razão que o levou a atacar a sede da Polícia Militar em 26 de Novembro de 1975,
já depois destes se terem rendido, o que provocou vários mortos e quase um
banho de sangue, entre eles um conhecido meu.
Paulo Moura conta que Jaime Neves, já depois de consolidada
a vitória dos militares moderados que fizeram o 25 de Novembro, foi pedir ao
então Presidente da República, Costa Gomes, “mais sangue”, pois “queria que todos
os líderes da esquerda militar fossem presos ou mesmo (segundo alguns
testemunhos) executados, que o Partido Comunista, todos os partidos da extrema
esquerda e a Intersindical fossem ilegalizados”.
Felizmente imperou o bom senso de um Costa Gomes, de um
Ramalho Eanes, de um Melo Antunes ou de um Salgueiro Maia. O próprio Otelo
revelou mais bom senso na altura, ao recusar dar ordens às tropas sob o seu
comando para reagirem ao golpe do 25 de Novembro. E até Álvaro Cunhal impediu
uma reacção dos militantes e simpatizantes do PCP.
Se tivessem vingado as teses defendidas por Jaime Neves o 25
de Novembro ter-se-ia transformado numa sangrenta e vingativa “pinochetada” e muitos, como eu,
que tinham andado envolvidos no sonho que se abriu com o 25 de Abril, talvez já
não estivessem cá hoje para escrever isto.
É caso para dizer que, com a morte de Jaime Neves morreu o
homem que me “quis matar”.
Que descanse
em paz!.
Público - Jaime Neves, o anti-herói da revolução
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