Uma coisa não se pode negar à ministra das finanças, Maria Luís Albuquerque:
ser sincera, não fugir à verdade e acreditar sinceramente naquilo que diz.
Ao falar para uma assembleia de “jotinhas”, futuros líderes do país,
limitou-se a fazer aquilo que este governo faz bem , que é o de virar
portugueses contra portugueses, usando a velha técnica de dividir para reinar.
Segundo a retórica situacionista, quem é o principal inimigo de os
jovens não terem emprego ou ganharem salários baixos em trabalhos precários? As
gerações mais velhas, que “ocupam” os “bons lugares” que deviam pertencer a
essa juventude ou os pensionistas que “consomem” as finanças.
Por isso não é de admirar que, perante uma assembleia rendida e com
esse preconceito martelado na cabeça pela propaganda do partido que apoiam, se entusiasmasse
e lhe fugisse a boca para a verdade: se continuar a governar este governo vai
cortar nas pensões, nas futuras e nas actuais.
Maria Luis Albuquerque limitou-se a dizer a verdade, coisa que caiu
muito mal entre muitos dos seus apoiantes em momento eleitoral.
Toda a gente se recorda das promessas de Passos Coelho em relação aos
cortes nas pensões, nos salários e aos despedimentos na função pública, na
última campanha eleitoral, acabando por fazer exactamente o contrário que
prometeu. Só que na altura não tinha ao seu lado Maria Luis Albuquerque para
nos esclarecer sobre as suas verdadeiras intenções.
Pode vir agora o motard ministro do trabalho, Mota Soares desmentir a
sua colega de governo ou a própria ministra, provavelmente apertada nos
bastidores, a tentar desmentir o que disse, que ninguém acredita que esta
maioria, se ganhar as eleições e continuar a governar, não vai cortar nas
pensões, indo, aliás, ao encontro de uma intenção já ensaiada anteriormente e
chumbada pelo tribunal Constitucional.
Mesmo se vier um governo diferente, o actual, numa atitude que
desrespeita a vontade do eleitores, já deixou o terreno armadilhado com a
apresentação em Bruxelas de uma promessa de cortes de 600 milhões de euros. E
claro, o eixo Bruxelas-Frankfurt-Berlim, pouco preocupada com as escolhas democráticas
dos cidadãos europeus, pois obedece apenas ao corrupto mercado financeiro que
alimenta a sua burocracia, esfrega as mãos de contentamento face a este
compromisso feito nas costas dos portugueses.
É óbvio que existe um problema nas pensões, mas foi um problema criado
pelo próprio governo da ministra. As medidas de austeridade do memorando, abraçadas
pela actual maioria como o seu programa, indo mesmo “além da troika”, levaram o país a um aumento do desemprego, do
emprego precário, das desigualdades, da emigração de jovens qualificados, tudo
resultando num aumento de despesas com a segurança social e a uma redução
drástica das suas receitas, reflectindo-se tudo isso numa das mais graves
crises demográficas da história do país.
Além disso foi este governo que resolveu assumir as pensões privadas
dos bancários, com reflexos graves no equilíbrio das contas da segurança social
no futuro, comprometendo-se a gerir essas pensões de forma diferente e sem os
cortes dos restantes pensionistas.
Foi também este governo que, em vez de fazer uma profunda “reforma
estrutural” que criasse um tecto nas pensões (que não deviam ultrapassar os 3
ou 4 mil euros), que fizesse com que os administradores
do banco de Portugal e de outras empresas públicas ou os políticos
subvencionados passassem a receber
pensões de acordo com o que de facto descontaram ao longo da vida, como acontece com os restantes
pensionistas, se limitaram a cortes cegos em todas as pensões e tentando, até
ao momento sem êxito, (mas, como disse a ministra, tentarão novamente), reduzir
pensões já atribuídas a partir de um patamar de 500 euros, tentando aplicar os
mesmos cortes a pensionistas que recebem de acordo com o que descontaram de
facto, recebendo pensões calculadas de forma mais desvantajosa, e a outros que
foram beneficiados com pensões onde as formas de cálculo foram mais
benevolentes, para não falar dos privilegiados que receberam pensões, bem acima
da média, como políticos e administradores de empresas públicas e da banca.
Numa coisa as afirmações de Maria Luís Albuquerque têm mérito: a partir
de agora a questão das pensões tornou-se uma questão fulcral da campanha
eleitoral e os partidos concorrentes não podem fugir ao tema.
Espero que todos os trabalhadores, futuros pensionistas e actuais
pensionistas estejam atentos e forcem os
candidatos a governantes a esclarecerem o que pensam sobre o tema.
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