Longe vão os tempos em que o país parava para assistir, numa
transmissão a preto e branco, à final do Festival da Canção da Eurovisão.
Era uma das rara ocasiões em que a programação televisiva, de um único
canal, fugia à rotina cinzentona de séries e programas que não passavam, muitas
vezes, de mera propaganda dos valores do Estado Novo.
Apesar da fidelidade ao regime, também a RTP era sujeita a uma censura
férrea, da qual era difícil escapar.
Muitas vezes uma das raras ocasiões em que se consegui escapar à
censura era através do festival da canção, onde se escolhia o finalista para o
Festival da Eurovisão, e onde a metáfora poética das canções a concurso
escapava ao crivo dos censores, como foi o caso de várias canções com poemas de
Ary dos Santos e outros.
O caso mais paradigmático foi o caso de “A Tourada” interpretado por
Fernando Tordo, ou daquele verso de uma canção de Simone, “quem faz um filho
fá-lo por gosto” que abalou os valores tradicionais do Estado Novo e provocou
acesa polémica.
Longe vão também os tempos em que, no Festival da Eurovisão, desfilavam
grande nomes da musica popular francesa, inglesa, espanhola ou italiana e onde
cada um cantava a sua língua.
Hoje o Festival segue um modelo cada vez mais estereotipado e pouco
original, dominado por musicas todas iguais, onde dominam os países do leste,
que seguem deforma acrítica os cânones do pior que se faz na musica popular
ocidental, obedecendo a critérios meramente comerciais.
Para a maior parte este Festival dá-lhes os efémeros 15 minutos de
fama. Depois, os temas, os autores e a musica, regressam a um merecido
esquecimento.
Destaque-se apenas os países que continuam a remar contra a maré, como
é o caso de Portugal, insistindo em cantar na sua língua original, mesmo que
isso lhes custe a eliminação precoce dessa montra da musica pimba
internacional.
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