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quinta-feira, 21 de maio de 2015

As reacções ao Programa do PS


Não me vou pronunciar, por agora, sobre o programa eleitoral do PS, ontem apresentado, mas sobre as reacções que essa apresentação provocou, nomeadamente entre alguns comentadores e economistas, os do costume.

Esses comentadores e economistas, geralmente defensores da austeridade e  do “equilíbrio financeiro”, dos cortes nos salários e pensões, da redução do peso do Estado na economia, da redução dos impostos sobre o sector financeiro , da redução dos direitos sociais e das “reformas estruturais” que estão na base da justificação de todas essas malfeitorias, argumentam sempre, contra qualquer proposta política que recuse aquele caminho, com a “falta de dinheiro” e a “realidade” (a deles, é bom de dizer!!!).

Para já, o dinheiro existe, o problema é a forma como ele está distribuído. Como alertam vários autores e investigadores, esses sim verdadeiros economistas e comentadores que pensam de facto com a sua cabeça e com base em informação credível, e não com base em preconceitos ideológicos, é que tem havido, nos últimos anos (ou décadas, já que tudo terá tido início na década de 80 do século passado com a afirmação do neoliberalismo), uma enorme transferência de capital dos sectores produtivos, dos sectores de apoio social e do factor trabalho, através de cortes salariais, congelamentos nas carreiras, aumento de impostos e de leis que visam retirar e desmantelar as funções sociais do Estado, para o sector financeiro, nomeadamente o seu sector mais especulativo.

Foi assim que a enorme dívida que a banca possuía, mercê de opções erradas, foi transferida para os cidadãos e para os Estados, através do “resgate” imposto pelas medidas de austeridade (foi o que aconteceu na Grécia, onde a banca alemã, que detinha a maior parte da dívida do país e fechou os olhos à corrupção política generalizada quando isso lhe convinha, conseguiu transferir essa dívida para os Gregos, à custa da miséria generalizada imposta pela austeridade). Por isso, haver ou não dinheiro é uma questão de opções políticas.

Quanto à idéia de impedir que os cidadãos almejem a um melhoria das suas condições de vida, e possam  construir um futuro melhor para si e para os seus em nome do “choque com a realidade” é mais uma falácia ideológica do neototalitarismo neoliberal, não muito diferente do caminho único stalinista (ou não fossem muitos dos ideólogos do neoliberalismo antigos stalinistas “convertidos” …) ou do império de mil anos do nazismo. A diferença está apenas no grau de violência, menos directa e selectiva .

A “realidade” humana deixou de estar, há muito tempo, dependente das leis da natureza ou das leis do mais forte, embora existam muitos que procuram manter essa realidade, pelo exercício de leias financeira e económicas que desrespeitam os direitos humanos e pela forma como muitos procuram desvirtuar os princípios democráticos das relações humanas (veja-se o fascínio que as condições financeiras, económicas e socias da ditadura chinesa , do corrupto estado angolana ou do dumping social exercido no México ou na Índia exercem sobre muitos desses economistas e comentadores).

Se a humanidade se restringisse à “realidade” e não tivesse capacidade de inovação, criação e imaginação provavelmente ainda vivíamos todos na Pré-história.

Se alguma critica podemos fazer à postura do PS ao longo da sua história recente é a de não ser demasiado ambicioso nem se demarcar suficientemente da realidade imposta pela ideologia neoliberal.

Esperemos que desta vez o PS não se limite a fazer de “polícia bom” das medidas de austeridade.

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