Para quem já viu algumas largas centenas (ou milhares?) de filmes, é inevitável a tentação de comparações como o que já se viu.
A essa comparação não escapa a minha visão do “Cisne Negro”, o filme de Darren Aronofsky , o mesmo realizador desse grandioso “The Westler” (2008) (que se mantém, quanto a mim, como o melhor filme da sua ainda curta carreira).
Á medida que fui vendo o filme vieram-se à memória filmes como “M-Matou”(1931) de Fritz Lang, “Psico” (1960) de Hitchcock, “O Fantasma do Paraíso” (1974), uma alegoria pop de Fausto, de Brian De Palma, “A Mosca” (1986) ou “Crash” (1996) ambos de David Cronenberg , ou “Cat People” (1982) de Paul Schrader.
A metáfora do filme (aliás, um filme cheio de metáforas) sobre as exigências do mundo moderno, marcado pela violência da lógica dos mercados, neste caso o mercado das artes, onde a concorrência é feroz e poucos são os que conseguem singrar e obter êxito e só o conseguem quase que se entregando em sacrifício, é paralela com o que “M-Matou” representou na sua época, vendo muitos neste clássico de Fritz Lang uma metáfora a uma década de violência e crime institucionalizado como foram os anos 30 do século passado.
A presença obsessiva da mãe da bailarina Nina (Natalie Portman) fez-me recordar o célebre “Psico”. Aliás, todo o filme tem um ambiente psicológico muito hitchcockiano.
A entrega obsessiva ao trabalho artístico e pelo ambiente nos bastidores da companhia de bailado de Nova Iorque, onde decorre o filme, remete-me para os ambientes de “O Fantasma do Paraíso”.
A dor físicas provocada pelas transformações pelas quais a bailarina tem de passar para conseguir o seu papel, remete-me muito para a memórias dos dois filmes acima citados de Cronenberg, onde a dor e o prazer por vezes se confundem.
A dupla personalidade de Nina, a forma como vive a sua esquizofrenia, e as transformações do seu corpo, possuído pelo cisne negro, recorda-me muito filmes como “Cat People” ou todo um historial marcado por filmes de vampiros e lobisomens.
As referências que aqui faço, não desvalorizam a originalidade e a força deste filme. Aliás, uma da suas grandezas reside no modo como, partindo de uma história óbvia e pouco original na história do cinema, a consegue transformar num grande filme, que nos agarra á cadeira do princípio ao fim.
A interpretação de Natalie Portman é soberba, pela entrega à personagem, quase um duplicado da história de Nina, por aquilo que implicou de entrega e esforço físico e, embora não tenha visto muitos filmes este ano, parece-me não ser fácil encontrar rival para para Portman nos Óscares deste ano.
Tal como no The Wrestler, Aronofsky entrega o destino do filme à interpretação dos seus actores, que enriquecem um argumento sem surpresas.
Aliando a importância da interpretação para o enriquecimento dos seus filmes, Aronofsky dá vida à câmara, que parece por vezes estar entranhada na pele dos actores, um estilo muito próprio já baptizado como “hiphop montage”, pelo ritmo que imprime aos seus filmes.
O “Cisne Negro” é assim um dos grandes filmes, não só do ano, mas deste novo século, que se irá tornar em filme de culto.
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