Tinha prometido a mim próprio que não perdia mais tempo a ler as crónicas de Miguel Sousa Tavares (MST) no Expresso.
Muitas vezes até posso concordar com algumas das suas opiniões, apesar do tom ressabiado, que já cansa, com que se refere a tudo e a todos.
Mas o modo como se refere, sempre que pode, por tudo e por nada, aos professores, como se estes fossem um párias, responsáveis por todos os males deste país, já enoja.
Já tinha deixado de comprar regularmente o Expresso há muito tempo, decisão que se consolidou a partir do momento que MST começou a colaborar com esse semanário, que acompanhei desde o seu primeiro número.
Mas, mais uma vez caí na esparrela, com o engodo das comemorações do nº 2000 daquele periódico.
Mais uma vez MST volta a referir-se aos professores de modo boçal e acintoso, como se tornou seu costume, mesmo que o faça nas “entrelinhas”.
Tudo serve para passar a imagem dos professores como preguiçosos, interesseiros, incompetentes, misturando a mentira pura e simples, com a ignorância e a meia-verdade, porque a mentira, como dizia o poeta, tem de trazer à mistura alguma coisa de verdade.
Segundo ele, parece-lhe criminoso que os professores exijam o pagamento de horas extraordinárias para além das “22 horas” de trabalho por semana.
E cá voltamos à mesma, a ideia do MST segundo a qual um professor só trabalha as 22 horas do horário escolar. Como jornalista tinha a obrigação de se informar melhor. Em primeiro lugar, quanto maior a redução da componente lectiva, mais aumenta a componente não lectiva de tempo presencial na escola. No meu caso estou na escola 24 e não 22 horas. E esse tempo não lectivo é dedicado a um número infinito de tarefas, mais ou menos burocráticas, mais ou menos de serviço à escola, não entrando nessas horas o tempo para preparar aulas, o tempo para fazer testes, o tempo para investigar documentos ou materiais que enriqueçam as aulas, o tempo de preparação de aulas.
Além disso, um professor está no activo 24 horas por dia, pois, como acontece no meu caso, sou frequentemente solicitado por alunos, ex-alunos, encarregados de educação e ex-encarregados de educação, colegas e ex-colegas, entidades públicas ou privadas para os apoiar ou para colaborar, quase sempre gratuitamente, em várias actividades relacionadas com a minha área científica, através de contactos de rua, telefone, e-mail, facebook….
Por esse tipo de lógica, e por absurdo, se só levo 10 minutos, ou nem tanto, a ler uma crónica de MST, devia chegar à conclusão que ele só trabalha 10 minutos na sua elaboração…!!!
MST mostra-se ainda indignado com o facto de os professores terem “direito a pagamento extra por corrigirem exames”. Talvez se devesse informar sobre o valor desse pagamento, que ele responsabiliza, ente outras situações, pelo despesismo do Estado. Posso concordar que essa função não devia ser paga, mas integrada nas funções lectivas, diferenciando de algum modo, em termos de horário, os que desempenham essas funções dos que não as realizam.
Mas tendo em conta o número reduzido de professores envolvidos nessas tarefas e os valores irrisórios do que por ela são pagos, não percebo como é que esta situação tenha algum peso para a bancarrota do Estado português. Só percebo o peso financeiro que MST pretende atribuir a esse pagamento com a sua já habitual má fé em relação aos professores deste país.
MST tem uma determinada “realidade” na sua cabeça (para ele, os professores fazem parte dos problemas do país), depois, com o seu reconhecido jeito para argumentar e escrever, todas as situações da profissão docente, descontextualizadas, devem encaixar nessa “realidade”.
Pela minha parte, quando alguém recorre à mentira, à meia verdade ou à má fé, para se referir a assuntos ou factos que eu conheço, deixo de dar qualquer credibilidade ao que essa pessoa escreve, mesmo que por vezes possa concordar com ele. Se ele erra quando se refere ao que eu conheço, o que não fará quando se refere àquilo que eu não conheço?.
É pena que alguém que escreve tão bem vá por aí...
2 comentários:
Ó Venerando eu já deixei de ler e de ouvir esse cretino há muito tempo, desde aquele célebre comentário em que ele dizia que os professores só trabalhavam 4,5 meses por ano.
Sou muito criticada pela minha gente mas, recuso-me a comprar qualquer livro desse indivíduo, ele, sim, mandrião, mentiroso,irresponsável,etc.etc.etc
Está cada vez mais parecido com o pai... Nunca me esqueço do dito paizinho que dizia que 18 contos, de ordenado como deputado,fora os restantes "subsídios", cerca de 1975/6, não chegavam nem para os pequenos almoços...
E mais não digo, por agora.
Venerando
Há gente que tem de usar a falsa frontalidade - que é dizer em tom empolado as cretinices do homem comum - para disfarçar a falta de talento.
De outra forma ninguém lhes pegava (pagava?), sequer os leria.
Abraços saudosos.
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