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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

DAQUI PARA A FRENTE (Hereafter, de Clint Eastwood)



Clint Eastwood volta surpreender-nos com este “Hereafter” por cá traduzido como “Outra Vida”.
O título em português e a forma como essa obra tem sido apresentada pode levar a alguns equívocos sobre este filme.
Não se trata de um filme de espiritismo ou mais um melodrama sobre a vida depois da morte.
Trata, pelo contrário da nossa relação com a morte e do modo como podemos ultrapassar as angústias que ela nos provoca. A tradução à letra de Hereafter, “daqui para diante” ou “daqui para a frente”, ou ainda, “daqui para o futuro” parece mais adequada e menos ambígua que o título em português de “Outra Vida”. O filme remete-nos mais para o título daquela música de Sérgio Godinho de que “Hoje é o primeiro dia do resto da nossa vida”.
No filme cruzam-se três personagens que se confrontam com o trauma da morte, cada um de uma forma diferente:
Uma jornalista francesa, interpretada por Cécille de France, sobrevive ao tsunami de Dezembro de 2004 na Indonésia depois de ter sido dada como morta, vivendo a experiência de “contactar” com o “mundo dos mortos”, numa descrição idêntica a muita gente que passou por uma situação semelhante, experiência que a vai perseguir obsessivamente, levando-a a publicar um livro sobre o tema.
Em Londres uma criança( Frankie MacLaren), oriunda de uma família destruturada, vive a experiência da morte do irmão gémeo que era a sua principal referência e cujo “espírito” o salva de embarcar num dos comboios envolvidos nos atentados terroristas do metro de Londres de Julho de 2005, e persegue obsessivamente um “contacto” com o espírito do irmão.
Em S. Francisco um ex-vidente (Matt Damon), cansado do seu “dom” de contactar com os mortos, procura abandonar e esquecer essa capacidade, que o impede de ter uma relação normal com outras pessoas, pois o simples facto de as tocar coloca-o em contacto com os “mortos” que cada um “transporta” consigo.
Deste “caldo” de personagens e histórias, qualquer outro realizador ou produtor, mais preocupado em agradar às audiências, podia enveredar pelo caminho mais fácil, o de explorara o tema mais rentável do “sobrenatural” (aliás, a charlatanice deste filão é denunciada no próprio filme) ou do melodrama.
Não é esse o caminho seguido por Eastwood, explorando antes o lado humano dos dramas pessoais daquelas personagens, aos mesmo tempo que nos leva a reflectir sobre a nossa fragilidade face às circunstâncias que nos rodeiam e que, num ápice, nos colocam face a face com a morte, a nossa ou a dos outros, seja num tsunami, num atentado terrorista ou num “simples” atropelamento.
No fundo, o filme relata-nos a busca de três personagens para ultrapassarem o trauma da morte e olharem, com optimismo, a vida “daqui para a frente”.

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