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terça-feira, 23 de novembro de 2010

AS MINHAS RAZÕES PARA ADERIR À GREVE GERAL

Há muito tempo que não tinha tanta vontade de fazer greve como desta vez…

Não sei se as minhas razões para fazer greve se enquadram todas nos objectivos dos sindicatos que a convocaram, mas sei porque é que estou com tanta vontade de fazer greve e de que esta greve paralise o país, como se espera que aconteça com uma Greve Geral.

Faço greve porque, como assalariado, estou farto de ouvir os argumentos que tentam “provar”, com manipulações estatísticas que recebo “mais” do que os meus colegas de profissão da União Europeia e dos países do Euro. Essa manipulação, esta Grande Mentira, em que embarcam comentadores , economistas e políticos (ignorantes ou de má fé, ou tudo ao mesmo tempo), consiste em comparar o rendimento de um quadro, com formação superior e três décadas de trabalho, com o rendimento médio de um país como o nosso, de parcas qualificações e que vive do trabalho precário e da mão-de-obra barata , quando a comparação devia ser com o rendimento dos mesmos profissionais, com as mesmas condições de formação e laborais, no conjunto dos países do euro. E com essa falácia justificam os actuais cortes salariais e viram uma opinião pública mal esclarecida e mal paga contra os “privilegiados” que ganham mais de …1500euros ( o salário mínimo na Irlanda!). Lançar a inveja social dos que nada têm contra os que têm é a velha táctica de “dividir para reinar”, desviando a atenção dos verdadeiros privilégios e privilegiados.

Faço greve porque estou farto de pagar os meus impostos todos os meses, desde sempre, cerca de 1/3 do ordenado base, e ver que esse dinheiro foi desbaratado ao longo destas décadas em faraónicas obras públicas, como os estádios de futebol ,com as sedes de empresas públicas ou público-privadas,com auto-estradas de duvidoso traçado, com desastrosas gestões hospitalares, com empresas municipais em municípios desertificados, com armamento obsoleto comprado em segunda mão, com douradas reformas dupla, triplas, quadruplas, com ordenados de luxo e ajudas de custo escandalosas, distribuídas por ministros ou ex-ministros, deputados ou ex-deputados e até vereadores, que pouco mais fazem ou fizeram do que levantar o braço em ocasiões em que não estavam a dormir, a seguir a internet ou a ler o jornal (ou estavam…), por administradores e ex-administradores do Banco de Portugal que deixaram o país chegar ao estado em que chegou, por gestores públicos ou de nomeação pública que chegaram onde chegaram não pela sua competência, mas pela sua fidelidade canina ao líder político do momento, Faço greve porque não tenho de pagar pelos desvarios dos especuladores de todo o tipo que levaram a Europa e o país à situação actual e que, em vez de serem todos presos e obrigados a pagar do seu bolso a consequência da sua ganância, ainda exigem aos Estados que, à custa dos cortes nas suas funções sociais, dos cortes salariais aos funcionários públicos e do aumento dos impostos, lhes paguem a festa, e ainda ameaçam esses estados com juros incomportáveis de dívida pública, comprometendo a saúde da economia e o futuro do bem-estar dos cidadãos cumpridores.

Faço greve porque é preciso dar um forte sinal de descontentamento pelo” estado a que isto chegou”, pela incompetência e falta de solidariedade dos líderes europeus, pela atitude dos “nossos” políticos e das “nossas” “elites” em geral (banqueiros, gestores, economistas, professores universitários, comentadores …) , que se comportam com meros feitores da quinta franco-alemã, em que se tornou Portugal e a Europa em geral, e que estão mais preocupados em agradar e acalmar os “mercados” do que em ouvir e acalmar as Pessoas.

Por tudo isto e muito mais…faço greve!

1 comentário:

Ana disse...

Pois ao teu lado estarei, nesta justa luta. Mas tenho a certeza de que a maior parte dos professores, como sempre foi seu costume, renegará esta luta, juntando-se a todos os trabalhadores injustiçados por este modelo de sociedade injusto e cleptocrata.
Como querem os professores que suas reivindicações sejam entendidas e aceites pela população quando eles nunca estão solidários nas jornadas de luta dos outros trabalhadores?
Veremos, com tristeza, como a classe docente, mais uma vez, se vai comportar como uma casta que só se une para defender os interesses da sua própria classe. Uma vergonha!