Torna-se hoje evidente o que queriam dizer alguns quando se referiam à actual crise financeira como uma “porta de oportunidades” .
Percebemos agora quem se está a aproveitar dela:
- Os mesmos que a provocaram : os políticos incompetentes da União Europeia e os seus empregados indígenas, os grandes meios financeiros (bancos, accionistas de grandes empresas, todo o tipo de especuladores) e todos os corruptos do costume que fogem aos impostos para os paraísos fiscais.
Para que esse pessoal possa continuara a viver a sua vidinha, sem sobressaltos, a gozar dos seus privilégios e a beneficiar de lucros fabulosos, nada melhor do que desviar as atenções do povinho dos verdadeiros responsáveis.
Com a ajuda da comunicação social (a maior parte dela, nomeadamente aquela que conta em termo de impacto e audiência, dependente financeiramente dos mesmos bancos e accionistas que estão na origem da crise), passa-se a imagem de que o problema são os gastos sociais do estado, (colocando no mesmo saco os desempregados e os reformados que de facto precisam de apoio e descontaram para isso ao longo da vida, e as reformas douradas de alguns economistas, ex-administradores públicos do Banco de Portugal e ex-políticos) , os ordenados dos funcionários públicos (colocando no mesmo saco aquele que presta realmente um serviço à população, geralmente mal pago, e aquele que para lá entrou como “boy” dos partidos do poder, geralmente o mais bem pago e que goza de efectivos privilégios) e os investimentos estatais (misturando os investimentos realmente necessários, na educação, na saúde, nos transportes, na energia e na cultura, com aqueles que são puro desperdício e que obedecem simplesmente ao objectivo de beneficiar empresas amigas do poder ).
Com a ajuda dessa mesma comunicação social e de reputados professores universitários, preferencialmente da área da gestão e da economia, continua a apelar-se à necessidade de mais cortes salariais, despedimentos na função pública, aumento de impostos sobre o trabalho (ao mesmo tempo que defendem a redução de impostos sobre o capital), e maior flexibilidade laboral (todos sabemos o que isto quer dizer na cabeça dessa gente).
E tudo isto para quê? Para salvar o sector financeiro, o mesmo cuja ganância, incompetência e corrupção nos levou a todos a esta situação.
Ninguém acha estranho que os bancos e as grandes empresas cotadas em bolsa, continuem a auferir lucros fabulosos em época de crise ?
Ninguém acha estranho que os mesmos accionistas, cuja ganância forçou o sector financeiro a níveis de especulação tais, que, quando a realidade lhes caiu em cima, foi necessário um esforço orçamental dos estados para os salvar (os tais estados que eles agora querem obrigar à contenção orçamental) que levou muitos países à beira da ruína, continuem a gozar dos mesmos privilégios fiscais e a auferir lucros em época de crise ?
Ninguém acha estranho que os mesmos gestores e ex-gestores, banqueiros e ex-banqueiros, ministros e ex-ministros das finanças, responsáveis pela situação que não previram (tão competentes que eles são!) nunca tenham recebido uma carta de despedimento, nunca tenham sido criminalmente responsabilizados, e continuem a auferir dos mesmos privilégios de sempre e a ter direito de antena em tudo o que é comunicação social de referência , como se nada tivessem a haver com esta crise ?
Enquanto houver futebol em barda, telenovelas e reality shows a horas, hipermercados e centros comerciais abertos a desoras , pequenas migalhas que vão sobrando do festim dos fundos europeus para distribuir pelo povo , ninguém vai achar nada daquilo estranho.
... devo ser só eu a delirar!
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