(Foto: "Esquerda net")
A forma como muitos comentaram ou reagiram a esta Greve Geral é bem sintomática da imbecilidade que norteia o pensamento dominante de muitos comentadores, políticos e economistas.
Camilo Lourenço, por exemplo, considera, num dos mais descarados elogios à chantagem patronal sobre quem trabalha, que os trabalhadores portugueses são “mais inteligentes do que os sindicalistas” porque “se tiverem de fazer cedências para não perder o emprego fazem mesmo” (sic!). Pudera, não?! (se apontarem uma pistola à cabeça do sr. Camilo ele dirá e fará tudo aquilo que lhe pedirem, o que não quer dizer que concorde ou se torne amigo do “pistoleiro”!).
Pergunta ele igualmente, com o desdém e a arrogância que as suas afirmações sempre revelaram em relação ao mundo do trabalho, em que século vive Carvalho da Silva. Eu não sei, mas o sr. Camilo Lourenço aterrou no século XIX, e daí não sai.
Salienta ainda esse mesmo comentador que “o país não se muda com radicalismos”.
Uma greve geral, que se realizou de forma ordeira, como não se vê na Grécia, na França, em Espanha ou mesmo em Inglaterra (não viu as imagens da manifestação juvenil em Londres ocorrida também ontem?) é uma manifestação de “radicalismo”? As “lentes” do sr. Camilo andam a precisar de limpeza.
Aliás, se andasse pela rua a ouvir as pessoas, talvez percebesse que o que muitos acusam os sindicatos é , pelo contrário, o de serem demasiado passivos e brandos face à roubalheira institucional dos “PEC´s” e dos “mercados” . Ao contrário dos sindicatos responsáveis, essa mesma opinião da rua defende cada vez mais formas, essas sim, verdadeiramente “radicais”, de luta e resistência ao “estado a que isto chegou”. “Deus” nos livre, e ao sr. Camilo e aos seus “amigos” do meio financeiro, de a “revolta” fugir ao controle dos sindicatos.
Se isto acontecer, e aconteceria mais rapidamente e de forma mais violenta se não houvesse o “escape” das greves e manifestações enquadradas e organizadas pelos sindicatos que o sr. Camilo tanto despreza e abomina, o sr. Camilo e companhia terão de enfrentar uma reacção verdadeiramente radical às suas diatribes em defesa do assalto que os seus “queridos” “mercados” estão a fazer ao bolso dos trabalhadores e dos contribuintes.
Aliás, o único “radicalismo” desta greve foi preconizada por um zeloso administrador de um Intermarché, provavelmente grande admirador das opiniões do sr. Camilo, que, agindo como uma espécie de “braço armado” da ideologia do sr. Camilo, de arma e automóvel em riste , investiu contra um piquete de greve.
Mas a imbecilidade não se ficou pelo artigo de opinião do sr. Camilo Lourenço publicada na edição de 24 de Setembro do “Jornal de Negócios”.
A sr. Ministra do Trabalho fez o favor de nos dar o seu contributo, congratulando-se pelo facto da greve ter tido “pouco significado no sector privado”, tentando provar os “baixos níveis” de participação na greve com a conta da luz (segundo ela, os dados sobre a energia gasta durante o dia não teriam conhecido qualquer alteração em relação a um dia normal, o que seria a prova da sua opinião!!!!).
Não vejo a razão de tanto contentamento. O desfasamento dos números da greve entre o sector privado e o público não se deve ao facto dos trabalhadores do sector privado estarem de acordo ou contentes com as medidas governamentais, mas tão somente ao medo e á precariedade.
O medo desses trabalhadores em fazer greve deve-se ao facto da chantagem de patrões pouco escrupulosos sobre os seus assalariados, violando direitos consignados na Constituição e na Declaração dos Direitos do Homem, facto que, em vez de alegrar a srª ministra, a devia preocupar.
É de facto muito mais fácil despedir no sector privado do que no sector público, e a adesão a uma greve pode pesar nessa decisão, mercê também da crescente precariedade do emprego nesse sector (cerca de 30% do trabalho em Portugal é precário …!!) Isto não devia preocupar igualmente uma ministra, ex-sindicalista e de um governo que se diz “socialista”?
Por último, o grande número de desempregados é um factor que acentua o medo de todos aqueles que têm emprego e que facilita todo o tipo de chantagens sobre estes.
Perante isto, como se justifica tão grande contentamento revelado pela srª ministra perante os “fracos níveis de adesão” no sector privado?
E já agora, se os números de adesão à greve apresentados pelo governo, por hipótese, fossem verdadeiros, acho que este teria grande motivo para se preocupar, porque revelaria que a revolta dos cidadãos, não se manifestando de forma ordeira e legal, em greves ou manifestações, ficaria contida, à espera de explodir, de forma espontânea e violenta quando e do modo que menos se esperar.
…vejam lá mas é se ganham juízo e não brincam com o drama social e económico de milhões de portugueses!
Sem comentários:
Enviar um comentário