Três lições de Xerxes em Atenas
por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
in Diário de Notícias, de 13 de Julho de 2015
“Uma semana depois do esmagador "não" grego, a rebelião foi
esmagada. A capitulação de Tsipras, ao apresentar um programa duríssimo, não
foi suficiente.
“ Ele terá de regressar ao Parlamento carregado de novas algemas. Tem
até dia 15 para aceitar uma austeridade hiperbólica, que envolve o IVA, o
mercado de trabalho, mais 50 mil milhões de euros de privatizações, e a derrota
simbólica de ver a troika regressar a Atenas. Tudo pode ainda resvalar.
“Berlim mostrou não temer colocar a Europa a ferro e fogo com o grexit,
eufemisticamente apresentado como um castigo para cinco anos (como se entrar ou
sair de uma união monetária fosse uma brincadeira pueril).
“Este novo sacrifício da Grécia tem, contudo, três lições para quem as
quiser aprender.
“Primeira: a zona euro (ZE) não é uma união económica e monetária,
fundada na promessa de uma solidariedade política cada vez mais firme entre os
seus membros, mas sim um clube de países, organizados pela hierarquia do poder
efetivo, competindo pelas boas graças dos mercados financeiros.
“Segunda: Berlim não está disposta a estender os princípios do
federalismo (que implicam transferências orçamentais solidárias) à ZE. Berlim
está contente com esta união monetária low cost, que deveria chamar--se Zona
Marco Alargada, pois está desenhada, essencialmente, para servir a economia
alemã.
“Terceira lição: a ZE é hoje um grande pan-ótico, onde os prisioneiros
e os carcereiros se vigiam mutuamente. Quem fica, perde a alma. Quem sai,
arrisca o pescoço.
“ O protesto democrático de um povo empobrecido partiu-se contra o muro
hegemónico ordoliberal, como os sabres da cavalaria polaca contra o aço dos
blindados em 1939.
“Esperemos que Paris e Roma tenham aprendido alguma coisa, pois também
chegará a sua vez”.
Sem comentários:
Enviar um comentário