Os dias que rolam, numa visão plural, pessoal e parcial de um mundo em rápida mutação. À esquerda, provocador e politicamente incorrecto, mas aberto à diversidade...as Pedras Rolam...
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sexta-feira, 31 de julho de 2015
"O SOBRESSALTO GREGO" de Pedro Caldeira Rodrigues, uma sugestão de leitura para as férias.
Para estas férias pretendemos levar na bagagem esta última obra do
jornalista Pedro Caldeira Rodrigues.
Pedro Caldeira Rodrigues, jornalista da Lusa, acaba de lançar um
oportuno sobre a situação grega, que ele conhece bem, para além de conhecer a realidade
de toda a zona balcânica, como repórter de guerra na ex-jugoslávia.
Formado em história, os seus trabalhos costumam ter sempre uma
componente que vai muito além da “simples” reportagem jornalística, revelando amplos conhecimentos históricos sobre a realidade das suas reportegens.
Segundo o prefácio deste seu novo livro, ficamos a saber que eta obra
faz uma abordagem “à turbulenta história da Grécia do século XX, com atenções
mais centradas nos anos mais recentes de turbulência na Grécia, em particular a
partir de 2008, quando, após a morte de um adolescente pela polícia em dezembro
e que provoca tumultos sem precedentes por todo o país, à crise económica se
associa uma grave crise política, as quais culminam com a realização do
referendo de 5 de julho de 2015, e com as respetivas consequências imediatas.
“Um contributo que inclui variados testemunhos, recolhidos por Pedro
Caldeira Rodrigues, jornalista da Editoria Lusofonia / Mundo da Agência LUSA,
no decurso das reportagens efetuadas na Grécia nos "anos de crise"
(novembro de 2011, fevereiro de 2012, janeiro de 2015 e junho e julho de 2015),
acompanhados por mapas e quadros sobre a evolução dos resultados eleitorais
desde o regresso da democracia em 1974, além de uma cronologia”.
Uma boa sugestão de leitura e reflexão para estas férias.
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E QUEM NOS LIVRA DESTA PRAGA DE POLÍTICOS EUROPEUS ? :David Cameron fala em " praga de migrantes" para se referir àqueles que atravessam o Mediterrâneo.
Para David Cameron, os desgraçados migrantes que atravessam o Mediterrâneo para fugir à guerra e à fome, em muitos casos alimentadas pela hipocrisia política ocidental (lembram-se da responsabilidade europeia no caos que se vive na Líbia e na Síria?...) são uma "PRAGA" (sic).
É caso para nos perguntarmos quando é que nos livramos desta verdadeira PRAGA de políticos que enxameiam a União (???) Europeia, praga para a qual muito tem contribuído a Grã-Bretanha ( não nos devemos esquecer de Tony Blair...).
O pior é que David Cameron disse em voz alta aquilo que muitos dos burocratas de Bruxelas e dos políticos Europeu pensam, mas não têm (ainda) coragem de dizer.
Como Europeu sinto repulsa, vergonha e nojo destes governantes da Europa!
David Cameron fala em praga de migrantes (clicar para ver)
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quinta-feira, 30 de julho de 2015
ainda alguém acredita em programas eleitorais?
(o verdadeiro "cartaz eleitoral" do PAF!!!)
Não li, nem tenciono ler, os programas eleitorais da coligação de direita e do PS.
Os dois últimos governos desses partidos já mostraram que as promessas eleitorais não são para cumprir e que podem fazer exactamente o contrário do que prometeram, sem se envergonharem.
No que respeita àquilo que são as promessas da coligação de direita, o desplante é total.
Estes desculpam-se com o memorando da troika para não terem cumprido no primeiro mandato com as promessas eleitorais.
Mas o que fizeram de pior não foi em nome do memorando da troika mas porque queriam ir além da troika e só não foi pior porque o tribunal constitucional não deixou.
Para além de todas as promessas, quem manda de facto são os burocratas não eleitos de Bruxelas e a Alemanha e quem se opuser a estes sai humilhado como aconteceu com os gregos.
Os programas políticos eleitorais não passam assim de mero lixo e a escolha eleitoral sobre quem vai executar as políticas austeritarias de Bruxelas é entre o " polícia bom" e o "polícia mau".
Mais importante do que eleger quem nos vai tramar é eleger quem ainda nos pode defender, na oposição, contra os governos colaboracionistas.
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quarta-feira, 29 de julho de 2015
O Respigo da Semana : A verdadeira Dívida, um texto de José Luís Peixoto
“DÍVIDAS
José Luís Peixoto
“Quanto devemos aos bombeiros voluntários? Enquanto estamos aqui,
preocupados com os nossos assuntos, a tratarmos daquilo que nos diz respeito,
eles estão disponíveis para serem arrancados da sua vida e colocados à frente
de chamas, incêndios que não foram ateados por eles, a arrasarem propriedades
que não lhes pertencem. É domingo à tarde, por exemplo, e, de repente, estão
num carro a alta velocidade, arrastam uma sirene desesperada ao longo do
caminho. Encontram aflição quando chegam, desenrolam uma mangueira áspera e
respiram golfadas de fumo que lhes mascarra as faces. Passam horas assim e, no
final de tudo, a sua recompensa será assistir à desolação de um campo negro e,
talvez, beber de um pacote de leite oferecido por alguém.
“Há bombeiros voluntários que
morrem durante esse trabalho. Quanto devemos à sua memória? Quanto devemos às
famílias desses bombeiros mortos? Agora, onde estiverem, sentem a sua ausência
em todos os dias. São pais, filhos, maridos, mulheres, irmãos que imaginam como
seria a vida daqueles que perderam, imaginam-nos com idades que nunca chegarão
a ter.
“Quanto devemos aos técnicos do
INEM? Quanto devemos aos enfermeiros? Quanto devemos às pessoas que recebem os
doentes nas urgências dos hospitais? São poucos os que têm paciência de
preencher os papéis, mas os papéis precisam de ser preenchidos.
“Quanto devemos aos professores?
Não sabem onde vão trabalhar para o ano, não sabem se terão trabalho. Quanto
devemos aos jovens em cubículos de call-centers? Quanto devemos aos estagiários
não remunerados? Quanto devemos aos vendedores com excesso de habilitações?
Quanto devemos aos desempregados?
“Quanto devemos aos músicos?
Depois de aprenderem a tocar, passam anos a fazê-lo de borla para nosso
divertimento e, garantem-lhes, para mostrar o seu trabalho. Ao fim da noite,
entre o público, poucos considerarão trabalho aquilo que eles fizeram. E quanto
devemos aos bailarinos? Quanto devemos às bailarinas? Quanto devemos às
atrizes? De repente, colocam-nas no centro de todos os olhares, de todos os
julgamentos, a troco de uma oportunidade. Uma oportunidade de quê? Uma
oportunidade de uma oportunidade. Serão velhas e terão a mesma maquilhagem.
Quanto devemos a todos os que trabalham para que exista teatro e cinema neste
país?
“Quanto devemos aos desportistas
das chamadas modalidades amadoras? Levam o equipamento na mochila, vão para o
treino depois do trabalho, chegam tarde a casa. Os fins-de-semana são pequenos,
acabam depressa. E quanto devemos aos atletas paralímpicos? Com muita
probabilidade, quando os jogos forem notícia, havemos de contar medalhas de
modalidades que desconhecemos e teremos moral para exigir; diremos cinco ou
seis, sem nos lembrarmos que, atrás de cada uma, está o esforço contínuo de
alguém durante anos.
“Já que falamos nisso, quanto
devemos àqueles que têm mobilidade reduzida e que não podem sair de casa? Não
há rampas, há carros estacionados em cima de passeios com buracos, não há
dinheiro para comprar a cadeira de rodas adequada. São prisioneiros sem culpa
formada, sem acusação, sem julgamento. Foram condenados a prisão domiciliária.
Não há data marcada para o fim da sua pena.
“Quanto devemos aos guardas
prisionais? Estão agora atrás de muros, rodeados de ameaças. Quanto devemos aos
homens do lixo? Queixamo-nos do barulho que fazem quando recolhem o nosso
próprio lixo. Não queremos ser incomodados, estamos a repousar. Quanto devemos
às mulheres-a-dias? Havemos de culpá-las se desaparecer alguma coisa. Quanto
devemos aos coveiros?
“E quanto devemos aos credores
internacionais? Definiram juros e emprestaram aquilo de que não precisavam a
outros que estavam aqui e que se retiraram na hora de pagar. Ficámos cá nós,
não temos para onde ir. A propósito, quanto devemos àqueles que emigraram?
Deixaram a família contra a sua vontade. Vimo-los partir. Sentimos a sua falta.
“Afinal, quanto devemos aos
bancos e às instituições económicas internacionais? Nunca lidámos com elas. Os
acordos foram feitos em nosso nome mas, tantas vezes, sem o nosso conhecimento.
Enquanto isso acontecia, estávamos a viver, acreditando que contribuíamos para
a construção, dignidade e prosperidade do país a que pertencemos. Quanto
devemos a nós próprios?
“Não se trata de não pagar as
nossas dívidas, trata-se de saber a quem devemos”.
José Luís Peixoto, in revista
Visão (23 Julho 2015)
sexta-feira, 24 de julho de 2015
A Terra tem um "irmão".
A NASA anunciou esta semana a descoberta de um planeta muito parecido
com a Terra.
Segundo a revista Visão chama-se “Kepler-452b e é o exoplaneta (planeta
fora do sistema solar) mais pequeno até agora descoberto na chamada "zona
habitável" - a região em torno de uma estrela onde há condições para a
existência de água. E com ele, são já 1030 os planetas confirmados pela NASA”.
"No ano do 20º aniversário da descoberta que provou que outros
sóis hospedam planetas, o telescópio Kepler descobriu um planeta e uma estrela
que mais se assemelham à Terra e ao nosso Sol", anunciou John Grunsfeld,
responsável da agência espacial norte-americana, esta quinta-feira”.
"Este resultado entusiasmante deixa-nos um passo mais perto de
encontrar uma Terra 2.0".
“Apesar de o Kepler-452b ser 60% maior em diâmetro do que a Terra, a
sua órbita dura apenas mais 5% do tempo: 385 dias. A idade deste primo mais
velho? Seis mil milhões de anos”.
"Podemos pensar no Kepler-452b como um primeiro mais velho, maior
que a Terra, fornecendo uma oportunidade para compreender e refletir sobre o
ambiente em evolução da Terra", sugere Jon Jenkins, que liderou a equipa
responsável pela descoberta deste exoplaneta”.
Não deixa de ser uma grande notícia.
Desde que assisti pela televisão, em directo, à chegada do homem à Lua
que sempre tive a esperança de que um dia viéssemos a assistir à descoberta de
um planeta com vida.
Ainda não é o caso, mas acredito que não estamos sós neste universo tão
vasto.
Para além da imortalidade e das viagens no tempo, a descoberta de vida
fora da Terra sempre alimentou o imaginário da minha geração, que viveu uma
infância marcada pelo entusiasmo da conquista do espaço.
Até agora ainda nenhum daqueles sonhos da humanidade se concretizou, embora
a esperança de vida tenha atingido níveis extraordinários ou a realidade
virtual do cinema e da informática já nos permita a sensação de viajar no
tempo.
A noticia da NASA, que pode ser lida em baixo, talvez nos permita
assistir em vida à concretização de um daqueles sonhos do imaginário da nossa infância.
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terça-feira, 21 de julho de 2015
"Abram os Olhos": O IV REICH está aí!
Podem ler em baixo a "história do IV Reich", ou como a Alemanha tem vindo construir o seu domínio sobre a Europa, desde o final da 2ª Guerra:
Domination Allemande : 'Ouvrons les yeux !' (clicar para ler artigo).
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domingo, 19 de julho de 2015
Finalmente uma boa notícia do Parlamento Português : Sem-abrigo tomam a palavra na Assembleia da República
Temos vindo a assistir nos últimos tempos, quer na Europa quer em Portugal a acontecimento que em nada contribuem para dignificar as classes políticas europeias e desgastam e descredibilizam a democracia.
O Parlamento português tem sido palco ao longo destes últimos anos de demasiados episódios que só têm contribuído para desacreditar essa instituição, muito por culpa da má qualidade e oportunismo da maioria dos seus deputados, designadamente os dos "centrão" e pelos muitos casos de corrupção ética que têm vindo a lume.
Por isso é de realçar uma notícia que contribui para dignificar esse mesmo parlamento e que nos faz ter ainda alguma esperança no funcionamento dessa instituição que, sendo a casa da democracia, devia dar mais bons exemplos como o que é referido na reportagem de Maria João Lopes ontem editada no jornal Público, e que pode ser lido clicando no seu título em baixo.
Há contudo uma situação a manchar a boa notícia, o facto de a maioria dos partidos políticos com assento no parlamento não se terem feito representar, apesar de terem sido convidados.
A iniciativa foi realizada pelos grupo parlamentar do Bloco de Esquerda e contou com a presença de uma deputada eleita pela CDU, a líder da bancada dos Verdes Catarina Martins.
Sem-abrigo tomam a palavra na Assembleia da República (clicar para ler notícia).
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sexta-feira, 17 de julho de 2015
Eurogrupo quer transferir activos gregos para banco de Schäuble e Gabriel
A notícia que transcrevemos em baixo já tem uns dias.
Essa notícia revela várias coisa:
- por um lado, a forma como as decisões europeias estão
condicionadas pelos interesses privados dos burocratas que mandam nas instituições
não democráticas, como o Eurogrupo, e estão dependentes do corrupto sistema
financeiro europeu que os emprega;
- por outro, a verdadeira
natureza de personagens como os senhores Schäuber e Gabriel e a forma mafiosa
como funciona o poder europeu;
- também a forma como actualmente a “democracia-cristã” e a “social-democracia”
europeias são cada vez mais a duas faces da mesma moeda, e são coniventes com o
corrupto poder financeiro europeu;
- por último, o pouco impacto que a notícia mereceu por cá dos
comentadores televisivos do costume, é revelador da “independência”
desses propagandistas da austeridade.
Vamos então à notícia:
Eurogrupo quer transferir activos gregos para banco de Schäuble e
Gabriel
Por FILIPE PAIVA CARDOSO, jornal “I” de 12/07/2015 .
“A instituição independente no
Luxemburgo para onde o Eurogrupo propõe transferir 50 mil milhões em activos
gregos é gerida pelo KfW, banco estatal alemão, cujo chairman é Schäuble
“A transferência de “activos no
valor de 50 mil milhões de euros” detidos pelos contribuintes gregos para um
“Instituto do Luxemburgo para o Crescimento” é uma das condições que o
Eurogrupo procura impor à Grécia para iniciar negociações de um terceiro
resgate. Este instituto é no entanto gerido pelo KfW, um banco estatal alemão,
cujo "chairman" é Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças alemão, e
cujo vice-chairman é Sigmar Gabriel, ministro da Economia alemão.
“Assim que a ideia de transferir activos gregos para entidades
europeias foi colocada nas propostas do Eurogrupo levantou-se de imediato
imensa polémica, já que no fundo tal medida representa uma enorme perda de
soberania, algo que Tsipras tem tentado resistir bastante.
“Agora, com o passar das horas, começou a desmontar-se as estruturas de
gestão deste Instituto até à conclusão de que a gestão compete ao KfW, cuja
administração está toda nas mãos dos políticos alemães.
“A polémica no entanto não fica por aqui. É que além de se tratar de um
banco estatal, e além de ter a sua administração dominada pela classe política
no poder na Alemanha, também o poder executivo desta instituição vem com um
pedigree pouco recomendável: OCEO do KfW é Ulrich Schröder, que fez carreira no
WestLB, banco que desde 2008 teve direito a um total de quatro resgates com
dinheiros públicos”.
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quinta-feira, 16 de julho de 2015
A Boçalidade do Mal :
Esta fotografia vai ficar para história.
Foi divulgada na passada segunda-feira, por ocasião de uma reunião do
Eurogrupo, após a “reeleição” de Dijsselbloem para a sua presidência, um dia
depois de a Grécia e o seu governo terem sido humilhados por essa instituição
não-democrática.
É a banalização do mal em todo o seu esplendor, o mal do século XXI
preconizado por burocratas ao serviço do corrupto poder financeiro, o mal de
“rosto humano” e sorridente.
Hoje , para essa gente, os cidadãos europeus são meros números
estatísticos e as suas escolhas contam muito pouco.
Gente que nos governa sem nunca ter sido submetida ao voto popular e
que vive acima das possibilidades de qualquer simples cidadãos europeu.
Por isso estão tão felizes e sorridentes, depois de mais uma sessão de
malfeitorias.
O mal dos nossos dias não precisa de se socorrer das prisões, dos
campos de concentração ou do poder das armas, basta sufocar-nos com o poder do
dinheiro e da burocracia que nos impõe um modelo de sociedade empobrecida,
desigual e amoral.
Hoje não são precisos Hitler´s ou Stalin´s, basta-lhes o poder de
sufocar os povos em dívidas eternas e em futuros de exclusão alargada.
Nem a democracia tem qualquer valor, pois a escolha dos cidadãos está
submetida aos ditames de acordos impostos pela força do dinheiro e de nada vale
eleger quem nos defenda, porque serão humilhados e chantageados como o foram os
gregos.
A liberdade essa está maniatada por grandes órgão de desinformação,
onde manda a voz do dono, o poder financeiro que define os “critérios
editorias” que melhor se adaptam às necessidades das instituições “credoras”,
onde enxameia pequenos gobelzinhos da propaganda, onde a mentira várias vezes
repetida se torna a verdade da lógica dos “mercados” e dos “credores”.
Aquela fotografia encarna a boçalidade do mal, as figuras sinistras que
mandam nesta Europa da austeridade, da desigualdade e do empobrecimento.
Aquela fotografia vai ficar para a História! (tal como as que reproduzimos em baixo também ficaram):
terça-feira, 14 de julho de 2015
Laura Ferreira : A Coragem não tem cor Política
"Discuta-se Passos no plano político: na minha opinião, é responsável pela degradação do país. Insinuar que utiliza a sua tragédia pessoal é injusto, miserável e revelador de uma falta de inteligência e de compaixão assinaláveis".(Ana Sá Lopes in "i").
Embora conhecendo os factos, não me tinha apercebido da "polémica" que se se tinha gerado à volta da aparição pública de Laura Ferreira, esposa de Passos Coelho, assumindo o resultado da doença que era já era do conhecimento público.
Concorde-se ou não, é muito comum presidentes da república e primeiros-ministros comparecerem, em actos privados ou públicos, ao lado das respectivas esposas ou companheiras.
Por mim, desde que essas aparições não tenham custos para o erário público, nada tenho a obstar enquanto cidadão e contribuinte.
Tivesse Laura Ferreira aparecido sem sinais de doença, e ninguém se referiria ao facto.
Para mim, ao assumir a doença, uma figura pública revela, pelo contrário, uma atitude solidária para com muitas mulheres que sofrem a alteração violenta da feminilidade em resultado da doença.
Por tudo isso parece-me um autêntico disparate muitas das reacções que fiquei agora a conhecer por parte de muita gente que se diz de "esquerda".
Como toda a gente que lê o meu blogue sabe, detesto a política de Passos Coelho , acho o homem uma autêntica nulidade, penso que ele é um dos grandes responsáveis pela destruição dos equilíbrio social do país e um irresponsável, mas isso não me leva a misturar as coisas.
Também não me parece que o aparecimento público de Laura Ferreira nessas circunstâncias possa ser confundida com qualquer acção de propaganda política, pois os portugueses não são estúpidos ao ponto de confundirem as malfeitorias políticas de Passos Coelho com a atitude socialmente corajosa da sua esposa.
Por isso, daqui saúdo a atitude corajosa de Laura Ferreira.
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segunda-feira, 13 de julho de 2015
O RESPIGO DO DIA : As três lições da crise grega segundo Soromenho-Marques:
Três lições de Xerxes em Atenas
por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
in Diário de Notícias, de 13 de Julho de 2015
“Uma semana depois do esmagador "não" grego, a rebelião foi
esmagada. A capitulação de Tsipras, ao apresentar um programa duríssimo, não
foi suficiente.
“ Ele terá de regressar ao Parlamento carregado de novas algemas. Tem
até dia 15 para aceitar uma austeridade hiperbólica, que envolve o IVA, o
mercado de trabalho, mais 50 mil milhões de euros de privatizações, e a derrota
simbólica de ver a troika regressar a Atenas. Tudo pode ainda resvalar.
“Berlim mostrou não temer colocar a Europa a ferro e fogo com o grexit,
eufemisticamente apresentado como um castigo para cinco anos (como se entrar ou
sair de uma união monetária fosse uma brincadeira pueril).
“Este novo sacrifício da Grécia tem, contudo, três lições para quem as
quiser aprender.
“Primeira: a zona euro (ZE) não é uma união económica e monetária,
fundada na promessa de uma solidariedade política cada vez mais firme entre os
seus membros, mas sim um clube de países, organizados pela hierarquia do poder
efetivo, competindo pelas boas graças dos mercados financeiros.
“Segunda: Berlim não está disposta a estender os princípios do
federalismo (que implicam transferências orçamentais solidárias) à ZE. Berlim
está contente com esta união monetária low cost, que deveria chamar--se Zona
Marco Alargada, pois está desenhada, essencialmente, para servir a economia
alemã.
“Terceira lição: a ZE é hoje um grande pan-ótico, onde os prisioneiros
e os carcereiros se vigiam mutuamente. Quem fica, perde a alma. Quem sai,
arrisca o pescoço.
“ O protesto democrático de um povo empobrecido partiu-se contra o muro
hegemónico ordoliberal, como os sabres da cavalaria polaca contra o aço dos
blindados em 1939.
“Esperemos que Paris e Roma tenham aprendido alguma coisa, pois também
chegará a sua vez”.
adivinhe quem foi o "irresponsável" e "irrealista" que proferiu as seguintes palavras que "não respeitam" os "mercados" e nem os "credores"?
“Se a política for dominada pela especulação financeira ou se a economia for governada apena por um paradigma tecnocrático e utilitário, preocupado apenas com o aumento da produção, não conseguiremos compreender, quanto mais resolver, os grande problemas da humanidade”.
Sabe quem fez essa afirmação “irrealista” ?
Se alguém fizesse essa afirmação numa reunião do eurogrupo tinha de
aturar desde logo as invectivas ameaçadoras do sr.Schaüble ou do sr.Dijsselbloem,
logo apoiadas pelos ministros das finanças de Portugal e da Finlândia.
Se essa afirmação fosse feita no BCE, levaria uma resposta “dura” de
Draghi ou Constâncio.
Numa cimeira do Conselho Europeu, lá teria de ouvir as ameaças da sr.ª
Merkel e do sr TusK, apoiadas por Passos Coelho e por Rajoy.
Se fossem pronunciadas no Parlamento Europeu, lá teria de atura a má
cara do sr. Schultz e a irritação boçal do antigo primeiro-ministro grego.
No FMI a sr. Lagarde lá estaria para abafar uma tal reflexão.
Na Comissão Europeia o sr Juncker responderia com uma anedota..
Em Portugal logo teríamos uma matilha de professores universitários da
universidade “Católica” e do ISEG , secundados por comentadores televisivos, a
ridicularizarem o seu autor ou Cavaco Silva a chamá-lo à “realidade” e à “moderação”.
Ainda não descobriram quem proferiu aquela “perigosa” afirmação, quem foi o “atrevido” que desafiou o “paz”
dos “mercados” e as “boas intenções” dos
“credores”, “incapaz” de perceber a “realidade”?
Não, não foi nenhum “perigoso comunista” . Não, não foi o “terrorista”
Tsipras.
….foi ….o PAPA FRANCISCO, ontem na Bolívia!
domingo, 12 de julho de 2015
O que nós aprendemos com a crise “grega”: Não é possível agradar a “gregos” e a TROIKANOS…o problema está no euro, a moeda da austeridade e da desigualdade.
O governo grego encontra-se entre a espada e a parede, apesar do apoio
democrático e esmagador que recebeu do seu povo para negociar com os burocratas
das instituições europeias.
O seu problema é não ter um mandato claro para sair do euro e já se
percebeu que o euro é a moeda da austeridade, do empobrecimento e da
desigualdade, que apenas beneficia o corrupto sistema financeiro europeu ,
especialmente o alemão.
Também se ficou a perceber que os “credores” isto é, as instituições
não democráticas que mandam na Europa, o BCE, o Eurogrupo, a Comissão Europeia
e o Conselho Europeu, com o beneplácito do verbo de encher que é o Parlamento
Europeu, não estão do lado dos cidadãos europeus e das suas necessidades, mas
servem única e exclusivamente a voz do dono, isto é, o obscuro e desumano
sistema financeiro europeu.
A maior parte dos políticos e burocratas que enxameiam essas
instituições vivem acima das possibilidades do comum dos cidadãos europeus,
vivem numa realidade paralela, que não é a da luta diária desses cidadãos por
uma vida digna, e nenhum deles tem futuro fora do sistema financeiro que lhes
dá de “comer” e acesso a um estilo de vida a que nenhum cidadãos europeu normal
pode almejar .
Esses políticos e burocratas circulam entre a representação política, a
administração de grandes empresas, nomeadamente as financeiras, as “aulas” nas
universidades de “referência” (embora raramente façam o trabalho “sujo”,
entregue a subservientes assistentes), ou as funções principescamente pagas
como “comentadores” televisivos (uma espécie de “gobelzinhos” da propaganda
neoliberal), e, por isso, não se lhes pode exigir que percebam o ponto de vista
:
- do trabalhador europeu que perde direitos todos os dias, que paga
cada vez mais impostos, que vê o seu salário cortado ou estagnado, num emprego
cada vez mais precarizado;
- do reformado europeu,
transformado em bode expiatório da crise, uma espécie de “judeu” do século XXI
e do neoliberalismo, e que vê pender a ameaça da instabilidade constante sobre
o valor da sua reforma, e tem como horizonte de futuro, caso não já faça parte
dela, cair na estatística dos cidadãos pobres (40% na Grécia);
- do desempregado que perde qualquer direito à dignidade, pela redução
constante do tempo em que dura o seu subsidio de sobrevivência ( na Grécia o
subsidio de desemprego dura dois meses) e do valor do mesmo, e que não
vislumbra no horizonte qualquer esperança de um emprego estável e remunerado
justamente;
- do jovem licenciado que, se
não fizer parte dos quase 50% de jovens desempregados, vislumbra apenas como
esperança um emprego precário e mal pago e que vai adiar permanentemente qualquer
sonho de formar família, gozar o direito a uma vida com futuro e, como
horizonte, daqui a umas décadas, uma reforma de miséria total.
Não nos podemos assim admirar que os “credores” não percebam o drama da
Grécia, que também é, a prazo, o drama de Portugal, da Irlanda, da Espanha e
até da Itália e da França, senão de toda a zona euro.
Não nos podemos assim admirar que os credores continuem a insistir na
mesma receita de “reformas estruturais” e de “austeridade” que apenas conduzem
ao rápido empobrecimento de países inteiros e à desesperança de muitos cidadãos
europeus.
O euro não foi construído para aprofundar a estabilidade social dos
europeus ou para atenuar as desigualdades ou a pobreza, nem com gesto de
solidariedade entre povos.
Se fosse esse o objectivo do euro tínhamos visto a sua implantação ser
acompanhada de verdadeiras reformas estruturais que aproximassem sistemas de
pensões, que aproximassem o valor destas, que aproximassem preços e salários,
que combatesse as desigualdades e o desemprego, que acabassem com a precaridade
no emprego, que aproximassem o sistema de impostos.
Se a implantação do euro visasse a justiça económica e social, não era
possível a existência de paraísos fiscais no seio de países da zona euros, com
acontece com a Holanda ou o Luxemburgo, por exemplo.
Por isso uma das coisas que esta crise da Grécia tornou clara foi que o
problema está no euro e não é possível, nestes moldes, combater de forma
honesta e credível as desigualdades e a pobreza, em países como a Grécia, Portugal,
Itália, Espanha, Irlanda e até na França, sem que esses países comecem a
equacionar uma saída ordenada e colectiva dessa moeda, que é cada vez mais a
moeda da austeridade, da desigualdade e da pobreza, pelo menos para esses
países.
O Euro só beneficia os bancos e a industria alemã francesa e finlandesa, os paraísos fiscais do
Luxemburgo e da Holanda, os satélites do espaço vital alemão do leste ( e neste
apenas as suas elites, já que a maior parte da população vive de salários
baixos e emprego precário).
Basta aliás olhar com atenção para o único índice mundial credível, o
do Desenvolvimento Humano, anualmente publicado pela ONU, para se perceber que
o euro não é a moeda da prosperidade humana.
Entre os 20 países mais desenvolvidos estão 11 europeus, destes 7 estão
na União Europeia, mas apenas 4 no euro, a Holanda (em 4º), a Alemanha (em 6º),
a Irlanda (em 11º), e a França (em 20º).
Tirando o caso peculiar da Irlanda, apenas os países do euro que
beneficiam com o euro estão nesse “pelotão da frente”.
A Irlanda, apesar da sua posição, foi o país de topo que mais posições
desceu ,três lugares entre 2012 e 2013,
data dos dados registados no último relatório da ONU, com a data de 2014.
Portugal ocupava o 41ª lugar, na cauda do “pelotão da frente”.
Aguardamos pela saída do relatório de 2015, com dados de 2014, para
aferir melhor da situação reveladora de os países do euro só contarem com 4
países entre os 11 europeus do raking.
E já agora, os dois países europeus que lideram essa lista, a Noruega,
no 1º lugar, e a Suiça, no 2ª, não só não têm euro, como nem sequer pertencem à
União Europeia.
Mas há ainda outra situação. Dois países com euro estão no segundo
pelotão dos países desenvolvidos, o que mostra as desigualdades no seio dessa
moeda.
Também já se percebeu que a dívida é impagável por países como a
Grécia, Portugal e Irlanda, porque a austeridade destrui as suas economias e
fez regredir em décadas o PIB de cada um desses países, apesar de, em termos
nominais, o conjunto da dívida daqueles três países ser menos de metade da
dívida nominal da Alemanha (esta é de quase 3 biliões de euros…), Alemanha que,
também aqui não cumpre os critérios de Mastricht, pois esta atinge quase 80% do
seu PIB…
O pagamento da dívida, à qual países como Portugal e a Grécia foram
obrigados a contrair para pagar os desvarios do sector financeiro, que vai ser
paga pelos cidadãos desses países, só permitirá que se volte a viver nalguma “normalidade”
económica, social e financeira lá para meados da década de 50 deste século, e
isso se tudo correr bem e não for necessário contrair mais empréstimos, pois
até lá o investimento e a economia vão continuar estagnados.
Ou seja, sem se começar a equacionar a saída do euro a breve prazo,
países como Portugal, Grécia, Irlanda, Espanha, Itália e até a França vão
estagnar durante décadas.
Por isso se qualquer político o tentar convencer que é possível
continuar no euro sem aumento de austeridade, sem aumento da pobreza, sem estagnação
do emprego, sem cortes salarias e nas pensões, sem degradação dos serviços
sociais, educativos e de saúde, está a mentir.
A alternativa é, cada vez mais, entre continuar no euro e no empobrecimento e
na estagnação, ou começar a negociar, desde já, a melhor maneira de sair do
euro…a não ser que se mudasse alguma coisa na estrutura dessa moeda…mas isto
não interessa à Alemanha, aos seus satélites nórdico e do leste, ou ao corrupto
sistema financeiro da Europa.
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sábado, 11 de julho de 2015
A crónica de Paulo Granjo : "Demita-se, senhor Dijsselboem!"
Demita-se, senhor Dijsselbloem!
por PAULO GRANJO in Público de 11/07/2015 .
“Hoje, está claro por toda a
Europa que o senhor não é nem pode ser parte da solução. O senhor é, sim, uma
parte muito significativa do problema.
“Sr. Dijsselbloem: Escrevo-lhe na minha condição de cidadão europeu,
ciente de que partilho com muitos outros milhões de concidadãos as preocupações
e o apelo que lhe transmito.
“O senhor sabe (melhor do que nós, simples cidadãos informados) que o
primeiro resgate à Grécia foi fundamentalmente aplicado na salvaguarda da
exposição dos bancos alemães e franceses à dívida pública do país, no resgate
aos bancos gregos e na manutenção das encomendas de submarinos alemães e de
caças franceses. E sabe que essa utilização dos fundos foi condição para que o
empréstimo se realizasse.
“O senhor sabe que, dos subsequentes resgates, quase nada foi gasto em
despesas correntes e na economia grega, mas antes no pagamento dos elevados
juros e do reembolso dos anteriores empréstimos a curto prazo.
“O senhor sabe que, nesse processo, os “contribuintes do norte da
Europa” não pagaram um cêntimo “para as pensões e boa vida dos gregos”. Porque
não foi esse o uso do dinheiro e porque, pelo contrário, os seus governos e as
instituições internacionais lucraram biliões de Euros em juros.
“O senhor sabe que as condições políticas, económicas e sociais
associadas a esses empréstimos (estranhamente consideradas legítimas e
“normais”, no exclusivo caso em que o devedor não seja um indivíduo ou uma
empresa, mas um país em situação vulnerável) destruíram a economia grega e
mergulharam o país numa situação de calamidade social.
“O senhor sabe (ou tem obrigação de saber, tendo em conta a
responsabilidade do cargo que ocupa) que a espiral de endividamento e recessão
criada pelas exigências das instituições europeias e do FMI tornou, para além
desses custos, a dívida grega impossível de pagar, exigindo a sua restruturação,
até para o interesse dos próprios credores.
“O senhor sabe também (bem melhor que qualquer um de nós, cidadãos que
pagamos o preço da sua atuação e decisões) que as tentativas de construir uma
solução que quebrasse esse círculo vicioso e não passasse por “mais do mesmo”
foram sistematicamente inviabilizadas, não por razões económicas ou
financeiras, mas pelo afã de manter as relações de poder que conduziram à
situação presente e de inviabilizar, num país membro da EU, um governo que não
esteja disposto a aceitá-las.
“Estou também certo de que o senhor sabe, independentemente do que
diga, que a linha de atuação que o Eurogrupo manteve ao longo dos últimos meses
é, hoje, insustentável.
“É insustentável, porque a ausência de um diálogo sério e de uma
restruturação adequada da dívida grega, que empurrasse a Grécia para fora do
Euro, acarretaria a países como a Alemanha enormes prejuízos e, aos restantes
países enfraquecidos por políticas de “austeridade”, ataques especulativos à
sua dívida pública.
“É insustentável, porque uma saída da Grécia da zona Euro (fosse ou não
eventualmente benéfica para os próprios) induziria também, com enorme
probabilidade, uma forte turbulência cambial e o reacender da recessão por toda
a Europa.
“É insustentável, porque as duas maiores economias mundiais não podem
correr o risco quês tais efeitos teriam sobre os mercados financeiros, o
comércio mundial e as suas próprias economias domésticas – tendo já deixado
clara a sua exigência de uma solução que mantenha a Grécia no Euro e tendo-se
abstido de envolvimentos mais directos apenas por respeito para com as
instituições europeias.
“É insustentável porque, para além disso, os equilíbrios estratégicos e
a situação mundial não permitem, aos Estados Unidos e à NATO, deixar que
imposições de poder no Eurogrupo e da União Europeia empurrem um membro
mediterrânico e à beira do médio-oriente para o colo da Rússia, por ausência de
alternativas.
“A anterior atuação do Eurogrupo é hoje insustentável porque, sobretudo
(e peço desculpa por lhe lembrarum tão traumático acontecimento), o governo
grego convocou e venceu de forma estrondosa, este domingo, um referendo
infelizmente raro na construção europeia. Dele, saiu em muito reforçado o seu
mandato democrático (infinitamente mais do que os dos seus parceiros no
Eurogrupo) para negociar uma solução que inclua a restruturação sustentável da
dívida, exclua mais “austeridade” sobre os mais fracos e, em grande medida,
salve a Europa.
“O senhor sabe que essa vitória foi obtida sob pressões e ameaças
internacionais e das instituições europeias sem precedentes. Aliás, a par da
ação do BCE (que, com ela, traiu e ameaçou a sua missão de salvaguardar a
estabilidade financeira e bancária na zona Euro), o senhor foi, nestes dias, o
mais notório apóstolo do Apocalipse. Não só nas várias ameaças que fez acerca
da saída do Euro, mas sobretudo na sua irrevogável declaração de que uma
vitória do “Não” significaria a impossibilidade de quaisquer negociações, a
partir de agora.
“Ora o “Não” ganhou de forma eloquente. E é evidente a inevitabilidade,
agora, de acelerar negociações e de chegar a uma solução que acolha as questões
fortes saídas do referendo grego - para além de da mera racionalidade e
bom-senso.
“Hoje de manhã, o governo grego deu um passo surpreendente de abertura
ao diálogo, maturidade política e despojamento. Para que tensões pessoais e
guerras retóricas passadas não se transformassem em escolhos artificiais,
durante as negociações que necessariamente se avizinham, o ministro das
finanças grego, Yanis Varoufakis, demitiu-se do seu cargo.
“E você, senhor Dijsselbloem?
“O senhor sabe que a senhora Merkel se resguardou no silêncio, durante
a última semana, tal como sabe que o seu peso político e responsabilidades de
liderança de facto a salvaguardam, no caso de um evidentemente necessário
volte-face na sua posição.
“O senhor sabe que o senhor Shauble se pode modestamente resguardar na
sua mera posição de ministro das finanças, que segue a sua liderança em defesa
dos interesses alemães e europeus.
“O senhor sabe que, apesar de excessos verbais semelhantes ou piores
que os seus, ao longo da última semana, o senhor Junker se pode resguardar nas
tentativas de aproximação e diálogo que antes fez e na sua aparente
inimputabilidade.
“Mas você, senhor Dijsselbloem, queimou as pontes ao declará-las
queimadas e não tem para onde recuar. E é, hoje, impensável que a busca e
construção de um inevitável acordo sejam feitas sob a sua liderança, mesmo que
apenas nominal.
“Independentemente da forma como o senhor avalie a sua atuação ao longo
dos últimos meses, hoje, está claro por toda a Europa que o senhor não é nem
pode ser parte da solução. O senhor é, sim, uma parte muito significativa do
problema.
“Por isso apelo (já que não existem mecanismos democráticos que me
permitam exigi-lo) a que faça a única coisa digna e racional.
“Demita-se, senhor Dijsselbloem!”
Cidadão português e europeu, antropólogo
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quarta-feira, 8 de julho de 2015
O Respigo da Semana - a crónica de José Vitor Malheiros sobre o resultado do referendo na Grécia:
Depois do "não" grego, talvez a Europa possa sobreviver
por JOSÉ VÍTOR MALHEIROS in Público de 07/07/2015
"A vitória do "não" na Grécia foi a vitória da democracia
contra a tirania, a vitória da política contra a burocracia, a vitória da
liberdade contra a ditadura financeira, a vitória dos cidadãos contra os
capatazes, a vitória da soberania nacional contra o colaboracionismo, a vitória
da dignidade contra a chantagem, a vitória da honra contra a subserviência, a
vitória da coragem contra o medo, a vitória da ousadia.
"Os gregos deram este domingo a toda a Europa e a todo o mundo uma lição
de coragem e de dignidade pela qual não podemos deixar de nos sentir devedores
e gratos.
"É surpreendente descobrir, de súbito, nesta envilecida Europa do racket
e da negociata, nesta Europa da fuga aos impostos legalizada, nesta Europa
capturada pela Alemanha, nesta Europa colonialista de proximidade que quer
transformar os países devedores nas eternas vacas leiteiras dos mais ricos,
nesta Europa onde quase todos os políticos parecem ter sido comprados pelo
grande capital ou aspirarem a sê-lo, nesta adormecida Europa onde a democracia
é sempre recebida com um esgar de desprezo, nesta Europa onde pontificam seres
com a honorabilidade de um Jeroen Dijsselbloem ou de um Jean-Claude Juncker,
nesta miserável Europa que nem sequer admite receber os refugiados que tentam
fugir à morte através do Mediterrâneo, é surpreendente descobrir, dizia, que
talvez ainda seja possível uma réstia de democracia. E isso é algo que não pode
deixar de nos emocionar e de nos dar alguma esperança.
"O referendo grego mostra, acima de tudo, que a União Europeia pode não
ser incompatível com a democracia, como tudo o que tem acontecido na Europa
desde o Tratado de Maastricht parece provar, como tudo o que tem acontecido na
União Económica e Monetária parece tornar evidente. Aquele que se orgulhava de
ser o "clube das democracias" está de facto cada vez mais próximo de
ser o "carrasco das democracias" e o referendo grego pode dar a esta
trajectória assassina a inflexão moral que todos os democratas desejam.
"Não é apenas a vitória do "não" que é surpreendente, mas a
dimensão dessa vitória, atendendo à pressão que foi colocada nos últimos dias
sobre os cidadãos gregos, ameaçando-os de todas as formas possíveis e tentando
aterrorizá-los com o que aconteceria caso se atrevessem a votar nesta opção.
Eurocratas de direita ou nominalmente de esquerda, como o senhor Dijsselbloem
ou o senhor Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu; políticos europeus
de direita ou nominalmente de esquerda, como Matteo Renzi ou François Hollande,
todos tentaram apresentar o "sim" como a única escolha razoável,
porque garantia a manutenção da Grécia no euro, e o "não" como um
voto irresponsável e suicida, porque empurraria a Grécia para fora do euro.
"Martin Schulz, o homem que gosta de se mostrar moderado, fez questão de
afirmar que um voto "não" significaria o fim imediato do
financiamento europeu e que "sem dinheiro, os salários não poderiam ser
pagos, o sistema de saúde deixaria de funcionar, o fornecimento de
electricidade e o sistema de transportes públicos ficaria paralisado". O
auto-excluído ex-ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, terá exagerado
muito ao falar de "terrorismo"?
"Não só políticos europeus de vários sectores mas as próprias
autoridades europeias, que deveriam estar obrigadas pelo seu cargo a uma
estrita equidistância das várias posições em jogo, não hesitaram em apelar descaradamente
à mudança de regime na Grécia, à substituição do democraticamente eleito
governo do Syriza por um governo de tecnocratas que obedecesse a Bruxelas.
Pouco faltou para que Bruxelas apelasse a um golpe de Estado em Atenas. Se
alguém queria certificar-se de quão fino é o verniz democrático que cobre a
política europeia, os últimos dias deram-nos uma resposta cabal e terrível. Na
UE a democracia só é respeitada quando produz o efeito desejado pelo poder
financeiro - leia-se, no caso concreto, pela Alemanha.
"Quanto àquilo que seria o custo político, económico, social e humano do
"sim" e da aceitação de um acordo draconiano que manteria a Grécia na
miséria durante décadas ou mesmo eternamente, ninguém, nos órgãos europeus, se
preocupou. O voto grego foi um voto de rejeição de todas estas pressões e, por
isso, é duplamente respeitável.
"É interessante ver a cobertura mediática que foi feita na Grécia
durante a curta campanha antes do referendo. Uma medição feita nas seis
principais estações de TV do país de duas grandes manifestações de sinal oposto
deram um resultado claro: a manifestação do "sim" mereceu 46 minutos
de cobertura; a manifestação do "não", 8 minutos. A vitória do
"não" é também uma vitória contra a manipulação da informação.
"É verdade que ninguém sabe o que vai acontecer nos próximos dias e que
a promessa de Tsipras de um acordo com a UE em 48 horas está longe de estar
garantida. O que a UE não pode ignorar é que o povo soberano da Grécia disse
não à austeridade, que mandatou o seu governo para não aceitar mais austeridade
e que quer ficar no euro. Assim, a UE tem duas opções: ou muda de atitude e se
coloca do lado da solução da crise, da solidariedade, da democracia e do
progresso económico ou expulsa a Grécia e, a curto prazo, rebenta.
"Quanto ao governo grego que, devido à sua atitude conciliatória e à sua
tentativa de manter a discussão aberta em vários tabuleiros, teve nos últimos
meses um percurso por vezes difícil de compreender, deveria dar uma absoluta e
permanente transparência a todos os passos das negociações, incluindo as
respostas "informais" que receber. O povo grego precisa de saber e
perceber o que está a acontecer para demonstrar o seu apoio. E não só o povo
grego. Nesta batalha pela democracia e pela justiça social na Europa, há muitos
milhões de cidadãos de muitos países ao lado de Atenas. E o povo não desistiu
da democracia”.
terça-feira, 7 de julho de 2015
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