Quando se anunciou no início desta semana qual o valor dos juros que Portugal vai pagar pela “ajuda” europeia, ficou a perceber-se aquilo de que há muito já se desconfiava: a União Europeia, a eurocracia que a domina e, principalmente, o “governo” da ditadura anti-democrática da Comissão Europeia, não estão interessados em ajudar os países e os cidadãos em dificuldades . A sua única motivação é a agiotagem, a execução das medidas impostas pelos seus “controleiros”, leia-se banqueiros e meios financeiros, e obter o máximo lucro possível à custa da desgraça alheia.
Não admira assim a pressa com que o Parlamento Alemão veio apoiar as medidas de “apoio” a Portugal. Sempre tão renitentes em ajudar os próximos, os políticos alemães devem ter percebido o grande negócio em que se tornou essa ajuda. No mesmo sentido vai a pressa com que os Finlandeses abandonaram as suas reticência sobre essa “ajuda”. Emprestar a Portugal tornou-se assim um negócio rentável.
Talvez convenha esclarecer uma coisa: ninguém está a “ajudar” Portugal. Vamos pagar cada cêntimo desse empréstimo, não só com juros altos, mas também com reduções no poder de compra, nos salários, aumentos nos imposto, nos preços e no tempo de trabalho. Além disso corre-se o risco de transformar o já de si minguado Estado Social português num mero programa caritativo.
O mais grave de tudo é que esse esforço não vai servir de muito para desenvolver o país, pois grande parte do empréstimo vai parar às mãos dos bancos que provocaram a situação em que vivemos e o resto vai-se esgotar no pagamento dos juros agiotas da dívida soberana.
Infelizmente vamos continuar com os problemas de sempre, a maior parte deles impostos pela própria adesão à União Europeia e ao euro, como a destruição do nosso aparelho produtivo (industria, agricultura e pescas), imposição de um mercado aberto aos produtos oriundos do dumping social do leste e da Ásia, ou da tecnologia Alemã e Francesa, e limites à diversificação da nossa actividade comercial e financeira.
Mas a nossa desgraça ainda maior é que, por cá, continuamos a ver os mesmos de sempre à frente das universidades, dos sectores financeiros, dos centros decisores da nossa economia, na liderança dos principais partidos políticos e na comunicação social a impor o pensamento único.
Para sairmos do atoleiro em que nos colocámos eram necessárias ideias e decisões arrojadas:
- por um lado apoiar a produção nacional, a única forma de reduzir importações, na industria, na agricultura, no turismo, nas energias renováveis e, principalmente no mar e nas pescas;
- por outro lado, apostar na diversificação comercial e financeira, fugindo ao controle da agiotagem europeia e das agências de rating, virando-nos para os grandes meios financeiros dos chamados países emergentes, com os quais temos um relacionamento histórico-cultural muito mais efectivo e sincero do que aquele que esses países têm com as preconceituosas nações do norte da Europa.
- também devemos apostar nos transportes públicos, em detrimento do transporte privado. Aliás a aposta no transporte privado feito à custa dos fundos europeus e em benefício de países como a Alemanha e a França, que são os principais interessados em incentivar o nosso consumo no mercado automóvel, é uma das causas no acentuar do nosso desequilíbrio comercial, até porque essa opção pelo alcatrão potenciou a importação de produtos, como os petrolíferos, que acentuaram esse desequilíbrio.
- devemos ainda tomar medidas que alterem os nossos padrões de consumo, não só incentivando o consumo de produtos nacionais ou oriundo de países lusófonos, em detrimento dos produtos europeus, mas também agindo psicologicamente contra os exacerbados padrões de consumo impostos pela agressividade publicitária e das ofertas de crédito fácil por parte dos bancos. Ainda neste campo os grandes espaços comerciais deviam ser obrigados a encerrar aos Domingos e Feriados, como forma de incentivar as pessoas a consumirem menos e a tomarem outras opções na ocupação dos tempos livres, muitos mais baratas para o bolso de cada um e muito mais saudáveis, como passear, frequentar actividades culturais, conviver com familiares e amigos. Também deviam ser tomadas medidas que valorizassem o comércio local.
Infelizmente, nem uma destas medidas encontrei nos programas eleitorais dos partidos do chamado arco do poder.
Até porque, se fossem tomadas algumas destas medidas, estas ou outras parecidas, isso não iria agradar à agiotagem da Comissão Europeia e aos seus feitores locais, que lideram esses partidos.
Mas cada um de nós pode começar por tomar, no nosso dia-a-dia, algumas atitudes que nos levem a defender a produção nacional. Assim haja vontade.
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