A prisão de Dominique Strauss-Kahan por abuso sexual, trouxe-me à memória aquela velha frase segundo a qual, o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente.
Tenho cada vez mais a certeza que, a partir de um certo patamar do poder político e do poder financeiro, ainda mais evidente quando esses dois poderes se combinam, com raras e honrosas excepções, só lá se consegue chegar través do abandono dos mais elementares valores de solidariedade, lealdade e respeito pelos homens.
Por isso não me espantam as canalhices que, pontualmente, quando a justiça funciona e não se coloca ao lado dos poderosos, acabam por vir a público, revelando o lado obscuro dos poderosos.
Claro que está em aberto a possibilidade de Strauss-Kahan ter sido atraído a uma armadilha. Não é a primeira vez, nem será a última, em que a sexualidade das pessoas é usada para destruir gente incómoda, como aconteceu, ainda recentemente, como Serge Assange, o fundador da incómoda Wikileakes.
Strauss-Kahan era ainda um dos poucos líderes do FMI que remava contra o pensamento único neo-liberal do Banco Central Europeu e dos poderosos meios financeiros norte-americanos, ligados às célebre agências de rating.
Ainda há poucos meses, numa conferência da OIT, alertava para o rumo errado seguido na Europa de penalizar o factor trabalho, de aumentar o desemprego e de abandonar o desenvolvimento económico em nome da defesa da redução cega do deficit e do apoio aos mesmos meios financeiros responsáveis pela crise.
Dominique Strauss-Kahan procurava seguir uma via diferente para o FMI, que se preocupasse mais com o combate ao desemprego e o apoio ao desenvolvimento económico, exactamente o contrário do que é defendido pelo poder político, financeiro e burocrático da União Europeia.
Essa mudança na postura do FMI foi, por exemplo, bem visível nas negociações em Portugal com a “troika”, onde essa organização se deu ao luxo de fazer o papel do “PIDE bom”, perante o radicalismo neo-liberal dos representantes da União Europeia e do BCE, visível aliás no acordo final, onde o FMI defendia prazos mais alargados para o pagamento da dívida e juros mais baixos do que os juros escandalosos impostos pela Comissão Europeia.
Trate-se ou não de uma armadilha, Strauss- Kahan, ao remar contra a maré, mesmo que de forma moderada, tornou-se mais uma vítima da ameaça feita pelo multimilionário Warren Buffet, um dos donos da agência de rating Moody´s, de que está lançada uma nova luta de classes na qual a dele, a dos ricos e poderosos, está a sair vencedora.
O FMI é agora um caminho aberto para o regresso aos velhos métodos autoritários e anti-sociais que caracterizaram a sua história, para gaúdio dos eurocratas e dos meios financeiros mundiais.
Não podemos esquecer outro grande inimigo de Strauss-Kahan, o sinistro Sarkozy, o mesmo que lançou a Europa na financeira e humanamente desastrosa guerra no Líbano, num repentino rebate de má consciência pelas obscuras ligações que manteve com o ditador Kadafi, que até terá financiado as eleições presidenciais do líder francês.
Segundo as sondagens recentes, se Strauss-Kahan se candidatasse pelo seu partido, o Partido Socialista Francês, como era previsível, contra Sarkozy, conseguiria uma vitória esmagadora sobre o candidato da direita.
Sarkozy é assim outro poderoso inimigo do presidente do FMI, que beneficiou directamente da actual situação.
Strauss-Kahan tem inimigos poderosos de mais para se dar de barato crédito total à versão oficial dos acontecimento.
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