A esmagadora derrota eleitoral de ontem do PSOE em Espanha é a prova do descalabro da chamada “terceira via” seguida pela maior parte dos partidos da social-democracia europeia .
Recorde-se que, em termos gerais, Tony Blair foi a imagem e o modelo mais visível dessa chamada “terceira via”, um modelo seguido pelos partidos trabalhistas, social-democratas e socialistas, que procurava anular a argumentação da direita neo-liberal…governando como a…direita neo-liberal.
Foi assim que essa “terceira via” trocou de “amigos”, afastando-se dos ideais de igualdade e de aprofundamento democrático que esteve na origem do êxito da social-democracia no pós-guerra, afastando-se da defesa da liberdade sindical e dos direitos sociais, procurando agora agradar os meios financeiros, metendo-se nos “negócios”, apresentando-se de braço dado com banqueiros e grandes patrões, num pragmatismo que raiou a pura “prostituição ideológica”.
Por outro lado, em termos propagandísticos, passou a ser mais importante a “imagem” estereotipada para “passar bem” na comunicação social do que a defesa de ideias e programas concretos.
Tudo corria bem, e a direita andou de facto desorientada durante algum tempo, já que essa “terceira via”, em Portugal representada por José Sócrates, fazia o trabalho que aquela não conseguia fazer, …até se abater a actual crise financeira, provocada exactamente pelo projecto neo-liberal abraçado, sem o questionar, pela chamada “terceira via”.
Foi assim que, um acontecimento tão grave como esta crise apanhou a maior parte dos partidos socialistas, social-democratas e trabalhistas totalmente comprometidos com o programa económico-social neo-liberal que está na origem do actual descalabro.
Um a um, um pouco por toda a Europa, os partidos da “terceira via” foram sendo afastados do poder. Zapatero, em Espanha, teve um início prometedor, ao afastar-se dessa “terceira via”, e ao começar a governar à esquerda, como devia ser apanágio da família política à qual pertence.
Mas, quando a crise se abateu sobre a Espanha, tal como no resto da Europa, Zapatero abandonou a sua política social e alinhou nas receitas neo-liberais do FMI e da União Europeia que levaram a sociedade espanhola ao descalabro actual, com o aumento do desemprego, com o agravamento das condições sociais, com a perda de direitos, tudo para agradar aos “mercados” e às empresas de rating. Há quem diga, aliás, que essa viragem política de Zapatero teve por detrás a influência e amizade pessoal com José Sócrates.
O resultado dessa guinada à direita do PSOE está agora à vista.
Claro que a direita, que sai agora vencedora, não vai alterar a situação aberta pela deriva neo-liberal dos socialistas espanhóis, antes pelo contrário, até a irá agravar.
A alternativa só pode estar à esquerda, e isso já percebeu, por exemplo, o Partido Socialista Francês, que nestas coisas costuma sempre andar à frente dos seus parceiros europeus.
Até isso acontecer, a direita vai continuar a apresentar-se como salvadora de uma situação financeira provocada exactamente pela aplicação do modelo neo-liberal por si defendido, sem o ónus de ser responsabilizada por isso.
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