O Cinema foi uma das minhas primeiras paixões.
Ainda ante do 25 de Abril, a partir de 1973, liguei-me ao Cineclube de Torres Vedras, associação na qual “militei” cerca de 10 anos. Entrei para a sua direcção pela mão do Aurelindo Ceia e do Emílio Gomes, o primeiro professor, o segundo colega no então Liceu de Torres Vedras.
A minha aprendizagem do mundo do cinema foi feita nas sessões desse cineclube, em intermináveis tertúlias no Teatro-Cine Ferreira da Silva, que se prolongavam pelas cervejarias da cidade, onde, a propósito dos filmes, se discutia tudo, até o cinema.
Quando fui para Lisboa estudar, a partir de 1976, graças aos conhecimentos que tinha “angariado” no mundo do cinema e dos cineclubes, tive possibilidade de conseguir alguém que me reservava, quase diariamente, bilhetes para sessões da Cinemateca, que então ainda funcionava no Palácio Foz. Aí tive oportunidade de complementar a aprendizagem “cinéfila” iniciada em Torres Vedras, devorando ciclos inteiros de cinema.
Também a partir desse período comecei a frequentar assiduamente o Festival da Figueira da Foz, para onde partia todos os meses de Setembro, durante anos, de comboio ou à boleia, beneficiando, nalgumas ocasiões, dos privilégios usufruídos pelos correspondentes da imprensa, quase sempre a representar o jornal local “Badaladas”, tendo um ano desempenhado essas funções no já desaparecido “Diário de Lisboa”.
Esses privilégios reportavam-se às entradas grátis nas sessões, que devorava desde as primeiras horas da manhã até de madrugada, ou aos “comes e bebes” das recepções, que serviam para reconfortar a muita fome que por lá passava, pois o dinheiro disponível não era muito.
Houve um ano em que cheguei a fazer parte do júri, ao lado de nomes consagrados como um João Lopes ou o saudoso Eduardo Prado Coelho.
Depois fui-me afastando da actividade cineclubista, tendo-me dedicado mais à investigação sobre a história local de Torres Vedras.
A pouco e pouco fui deixando de seguir com a assiduidade anterior o mundo do cinema, deixando de frequentar as salas de cinema com a regularidade com que o fazia antes.
Continuei a seguir o cinema, mas agora através do conforto caseiro do vídeo e do DVD, mas o encanto não é o mesmo da sala de cinema.
Também comecei a desiludir-me com o mundo do cinema, cada vez mais rendido aos efeitos especiais, às super-produções ou ao star system.
De há alguns anos a esta parte tenho descoberto muitos bons filmes em edições marginais ou paralelas em DVD, principalmente as de origem europeia ou de países ditos “subdesenvolvidos” ou em “desenvolvimento”.
Para o cinema norte-americano, com raras e honrosas excepções, tenho-me guiado pela referência do Festival de Sundance, uma referência que me tem feito redescobrir, desta vez no formato DVD, essa minha velha paixão.
Tal como Cannes, Berlim, Veneza ou San Sebastian, a chancela “Sundance” tem-se vindo a afirmar cada vez mais como sinónimo de cinema norte-americano de qualidade, e não só.
Criado há trinta e dois anos por Robert Redford, o “Sundance Film Festival” tem dado um grande contributo para o rejuvenescimento dos cinema dos Estados Unidos, mostrando que, nesse país, apesar das grandes produtoras, é possível fazer bom cinema com poucos recursos.
A edição deste ano desse festival teve início na passada 5ª feira, e vai durar até ao próximo dia 30, exibindo cerca de 200 longas e curtas metragens.
Depois de um período de alguma decadência, em que foi acusado de ceder aos interesses comerciais, a edição deste ano desse festival promete regressar às suas origens como montra do cinema independente norte-americano e do mundo.
A América Latina terá uma forte presença nesta edição, representada por muitos projectos onde se destaca um da autoria do filho de Gabriel García Marquez, Rodrigo García, que apresenta um filme co-produzido pelos Estados Unidos e por Espanha, “Mother & Child”, que conta com um elenco de luxo como Annette Bening, Samuel L. Jackson ou Naomi Watts.
Outra novidade desta edição é a estreia de Philip Seymour Hoffman na realização cinematográfica, o mesmo acontecendo com dois dos protagonistas da série “Sopranos”, James Gandolfini e Edie Falco.
Quem quiser seguir mais de perto os acontecimentos deste festival, pode consultar o seu site AQUI.
O festival d Sundance é a prova de que a paixão pelo cinema tem continuadores.
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