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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Recordando Albert Camus no cinquentenário da sua morte


Passam hoje 50 anos sob a morte de Albert Camus num acidente de automóvel.

Nascido na Argélia, combateu na resistência, sendo um dos responsáveis principais pela edição do jornal clandestino “Combat”.
Famoso por obras como “O Estrangeiro”(1942) ou “A Peste”(1947) , recebeu o prémio Nobel em 1957.
Com 46 anos à data da sua morte, Camus trazia consigo, no dia do acidente, uma maleta com o manuscrito de “O Primeiro Homem”, um romance autobiográfico.
Figura ímpar do chamado “existencialismo”, tornou-se amigo de Jean- Paul Sartre após a 2º Guerra. Ambos se desentenderam na década de 50.
Tal não impediu o elogio fúnebre que lhe fez Sartre, escrito no dia seguinte à morte de Camus e cujo conteúdo aqui transcrevemos:

“Camus era uma aventura singular de nossa cultura, um movimento cujas fases e cujo termo final tratávamos de compreender. Representava neste século e contra a história, o herdeiro actual dessa longa fila de moralistas cujas obras constituem talvez o que há de mais original nas letras francesas. Seu humanismo obstinado, estreito e puro, austero e sensual, travava um combate duvidoso contra os acontecimentos em massa e disformes deste tempo. Mas, inversamente, pela teimosia de suas repulsas, reafirmava, no coração de nossa época, contra os maquiavélicos, contra o bezerro de ouro do realismo, a existência do facto moral. Era, por assim dizer, esta inquebrantável afirmação. Por pouco que se o lesse ou reflectisse a respeito, chocávamos com os valores humanos que ele sustentava em seu punho fechado, pondo em julgamento o acto político.
“Inclusive o seu silêncio, nestes últimos anos, tinha um aspecto positivo: este cartesiano do absurdo negava-se a abandonar o terreno seguro da moralidade e entrar nos incertos caminhos da prática. Nós o adivinhávamos e adivinhávamos também os conflitos que calava, pois a moral, se se a considera, exige e condena juntamente a rebelião. Qualquer coisa que fosse o que Camus tivesse podido fazer ou decidir à sua frente, nunca teria deixado de ser uma das forças principais de nosso campo cultural, nem de representar à sua maneira a história da França e do seu Século.
“A ordem humana segue sendo só uma desordem; é injusta e precária; nela se mata e se morre de fome; mas pelo menos a fundam, a mantêm e a combatem, os homens. Nessa ordem Camus devia viver: este homem em marcha nos punha entre interrogações, ele mesmo era uma interrogação que procurava a sua resposta; vivia no meio de uma longa vida; para nós, para ele, para os homens que fazem com que a ordem reine como para os que a recusam, era importante que Camus saísse do silêncio, que decidisse, que concluísse. Raramente os caracteres de uma obra e as condições do momento histórico exigiram com tanta clareza que um escritor viva.
“Para todos os que o amaram há nesta morte um absurdo insuportável. Mas, teremos que aprender a ver esta obra truncada como uma obra total. Na medida mesmo em que o humanismo de Camus contém uma atitude humana frente à morte que havia de surpreendê-lo, na medida em que sua busca orgulhosa e pura da felicidade implicava e reclamava a necessidade desumana de morrer, reconheceremos nesta obra e nesta vida, inseparáveis uma de outra, a tentativa pura e vitoriosa de um homem reconquistando cada instante de sua existência frente à sua morte futura”.
JEAN-PAUL SARTRE
(Tradução: Jorge Luis Gutiérrez).

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