Um estudo agora revelado pelo Público (ver em baixo) demonstra que, apesar de limitado, existe mais pluralismo na escolha de comentadores por parte dos canais públicos, do que nos canais privados, desmentindo assim uma afirmação de João Duque em defesa da privatização do canal público.
Pessoalmente aquela conclusão do estudo da Universidade de Minho, coordenado por Felisbela Lopes, não me surpreendeu.
Quem, como eu, segue, com alguma regularidade, a informação que se faz nos vários canais, nomeadamente os debates e os comentários, já tinha reparado que existe uma tendência para convidar comentadores do arco do poder (PS-PSD-CDS) ou que se identificam com o “situacionismo” neo-liberal, situação que se agrava nos canais privados.
Cerca de 20% da representação política à esquerda (BE+PCP) só esporadicamente é ouvida. Essa percentagem da opinião pública e do eleitorado marginalizado será muito maior se tivermos em contas as opiniões e as tendências que não estão parlamentarmente representadas.
A falta de pluralismo de opinião será mais evidente numas áreas do que noutras. Nos debates sobre temas políticos, os canais públicos são os que respeitam mais o pluralismo da representação parlamentar. Nos privados tal não acontece com tanta frequência. Um exemplo: o programa “A Quadratura do Círculo” da Sic-Notícias; por muito respeito pessoal que nutra (e nutro) pelos seus comentadores em permanência, não deixo de reparar que, nesse programa, apenas estão representados comentadores ligados aos partidos do poder, mesmo que, em grande parte, estes consigam manter alguma independência face às tendências políticas que representam. Recorde-se que esse programa, que começou na TSF, tinha, no início, comentadores próximos dos quatro partidos que então tinham representação parlamentar. Com o tempo a chamada “quadratura” reduziu-se a um “triângulo”. Mesmo quando esse programa convida outros comentadores para participarem, estes identificam-se, grosso modo, com a mesma área política aí representada.
Mais grave ainda é o que se passa quando os temas a debater são da área económica. Aqui, a esmagadora maioria dos comentadores e dos convidados, representam, quase sempre , só um dos lados do “problema”, o patronato, o mundo empresarial e/ou os representantes das associações patronais, muitas vezes ainda “acompanhados” por comentadores e economistas de tendência neo-liberal. Os trabalhadores, os sindicalistas e os muitos sociólogos e economistas que tratam, de modo independente, as questões da economia e do trabalho, raramente são ouvidos ou, nas raras ocasiões em que este lado da opinião está representado, aparece sempre em posição minoritária. Também aqui, o desequilíbrio é sempre maior nos canais privados que nos públicos
Por isso esse relatório não me surpreendeu, confirmando tudo aquilo que eu, empiricamente, pensava sobre o assunto.
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