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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

...DO CONTRA (ou como dar razão a Sócrates e a Cameron...)

Sempre tive este infeliz defeitos de “ser do contra” e remar contra a maré.
Desculpem, mas não alinho nessa verdadeira caça às bruxas contra Sócrates e Cameron, o primeiro por causa de umas afirmações descontextualizadas ou mal formuladas, e o segundo pelo precedente que abriu ao recusar assinar uma proposta, imposta à União Europeia, pela dupla Merkozy.
Mas vamos por partes.
Poucos como nós, neste blogue, combatemos o descalabro político-económico-social-financeiro representado pelo governo de José Sócrates, mas desta vez o homem tem alguma razão.
Claro que é difícil olhar para o homem sem nos dar um ataque de raiva, cada vez que ele aparece, distraindo-nos do essencial das suas afirmações.
O disparate não está nas afirmações de Sócrates, mas na forma como os incompetentes dirigentes europeus (entre os quais, até há bem pouco tempo, se incluía José Sócrates, sem que se conheça, dessa época, grande oposição ao escabroso modelo financeiro defendido pela dupla Merkozy..), encaram o problema da dívida pública.
De facto, como disse Sócrates, é um imenso disparate querer que um estado pague a sua dívida pública num espaço curto de tempo, com os juros que são impostos, com austeridade em cima da austeridade, e sem desenvolvimento económico.
Historicamente a dívida pública vai-se pagando ao longo do tempo e é ela que mantém a rodar a economia de um país ou de uma região. Ainda recentemente, e mais de um século depois, é que Portugal acabou de pagar uma dívida contraída nos finais do século XIX.
Claro que estamos a falar no sistema capitalista em que vivemos, a não ser que os líderes europeus estejam interessados em apresentar outro modelo (não me parece o caso!).
A dívida pública de um país, não é a mesma coisa que a dívida de uma pessoa ou de uma empresa.
Mas já que os nossos comentadores propagandistas de serviço gostam de fazer comparações estapafúrdias, muitas vezes entre o que não é comparável, também nós vamos recorrer aos mesmo tipo de comparação, para dar razão a José Sócrates:
Suponha o leitor que comprou uma casa e pediu um empréstimo para ser pago ao banco durante trinta anos, com um determinado juro. Irá pagar esse empréstimo e os juros com uma prestação mensal de x.
Suponha agora que, de repente, dá na gana dos bancos (que fazem parte dos tão apregoados mercados), rompendo com todos os compromissos e o normal funcionamento financeiro, obriga-lo, de repente, a pagar o que lhe falta pagar dessa dívida num único ano. É absurda a ideia? Mas foi isso que os chamados mercados fizeram aos Estados, rompendo compromissos.
Se um banco lhe fizesse isso, ficava falido e a sua dívida tornava-se incomportável. Provavelmente iria protestar e o banco então propunha-lhe um outro empréstimo, a juros ainda mais altos, para pagar a sua dívida, caindo no círculo vicioso da dívida. Isto que eu digo é um autêntico disparate? Mas é exactamente isto que se está a passar com as chamadas dívidas soberanas.
E o que fazem os estados da União Europeia? Põem os mercados na ordem? Tomam medidas em conjunto para travar a especulação à volta dos juros altos? Apresentam soluções para colocar a economia a funcionar e reduzir o desemprego? Não, nada disso. Pelo contrário a dupla Merkozy impõe aos restantes “parceiros(!!)” que aceitem as novas condições, recorram aos mercados, a juros incomportáveis, em vez de recorrer ao BCE, a um juro baixo, para travarem o crescimento da chamada “dívida soberana”, que, segundo a “dupla” deve ser paga num curto espaço de tempo. Não há dinheiro para pagar a dívida num tão curto espaço de tempo, nem para pagar a especulação dos juros? Então recorra-se a mais “austeridade”, asfixiando cada vez mais os cidadãos e as empresas. Destrói-se a economia, reduzindo-se o poder financeiro dos estados para pagarem as dívidas, mas “acalma-se” os mercados. Cai-se assim no círculo vicioso de menos economia, mais desemprego, menos recursos financeiros, mais empréstimos e “ajudas”, a juros incomportáveis, e enfraquecimento crescente dos países sujeitos à intervenção das troikas.
Ora, foi para salvaguardar o seu país desta situação que Cameron decidiu, num gesto sem precedentes, recusar assinar o último acordo imposto pela dupla Merkozy, fazendo aquilo que todos os outros estados deviam estar a fazer, que era bater o pé a essa dupla, a única que beneficia, por agora, com a situação.
Há exactamente 70 anos atrás, um único país resistia à Alemanha que, então pela via das armas (hoje é pela via do dinheiro), dominava o continente europeu. Também estão muitos consideravam a resistência britânica como uma “irresponsabilidade”, um suicídio, um acto de “isolamento” face ao continente rendido à “superioridade” alemã, que prometia um radiante império de mil anos para a Europa, sob a orientação da “raça superior” alemã.
Ontem, como hoje, o tempo há-de dar razão a Cameron.

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