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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Esta não é a "minha" Europa...



A “ Europa social, democrática e solidária” foi uma invenção do pós guerra e que hoje conhece um processo de agonia e destruição.

Nunca, na história, houve apenas uma Europa, una e indivisível. Houve sim o desejo de muitos dominarem este espaço, geralmente pela força do terror .

A primeira construção europeia devemo-la aos romanos, mas apenas incluía cerca de metade daquilo que actualmente chamamos Europa. Terminava nas fronteira da actual Alemanha, então habitada pelos “bárbaros” godos, só incluía parte da Inglaterra e incluía todo o norte de África, à volta do Mediterrâneo, transformado num imenso “lago central”.A partir do século III, esse império começa a fragmentar-se dando origem a dois impérios, o do ocidente, que durou até ao século V, e o do oriente, que durou até ao século XV.

As línguas portuguesa, espanhola, francesa, italiana e romena revelam quais foram as zonas mais romanizadas da Europa, no fundo, a verdadeira raiz da actual Europa. Por lá não encontramos nem eslavos, nem nórdico, nem germânicos. Estes últimos, aliás, foram os responsáveis pela destruição desse “primeiro projecto europeu”. Já no século XX seriam os responsáveis pela destruição generalizada do mesmo território europeu, e hoje perfilam-se para repetir a situação.

Ao longo da Idade Média procurou reconstruir-se, por várias vezes, o imaginário império do ocidente, à volta da Igreja e da coroa, como aconteceu com Carlos Magno, no século IX, criando um Império que inclui a França, uma pequena parte do leste da Espanha, o norte da Itália e a zona Oeste da actual Alemanha, originando, no século seguinte, o bem mais modesto Sacro Império Romano-Germânico, reduzido praticamente à actual Alemanha e ao norte da Itália e que sobreviveu, cada vez mais mirrado, até aos tempos de Napoleão.

De fora ficaram os reinos Ibéricos, que, até ao século XV, foram “partilhados” por cristãos e muçulmanos. E é da Ibéria que surge um novo sonho de reconstruir um Império a Ocidente, com Carlos V unindo o Sacro Império à Espanha e Filipe II que une a Flandres e a Península Ibérica, construindo um vasto Império Atlântico, ambos no século XVI, mas este último praticamente de “costas voltadas” para o resto da Europa (excluindo a Flandres).

Com a expansão, a rivalidade entre os reinos europeus coloca de lado a ideia de um único Império continental , com cada um dos países, Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda e França, a pensar construir o seu próprio império à custa da pilhagem dos novos mundos, a ocidente e a oriente.

Se a unidade política do espaço europeu foi, nesse período, uma impossibilidade política, em contrapartida, foi nesse período que se reforçou uma identidade comum, à volta do cristianismo, do direito romano, da cultura greco-latina, para além da pilhagem, do genocídio e do racismo como marcas do relacionamento dos europeus com o mundo.

Foi preciso esperar por Napoleão para renascer o sonho de uma “Europa unida”, sonho recuperado por Hitler no século XX. Ambos procuraram desenvolver esse “ideal” usando a força das armas e a arrogância da superioridade, revolucionária, no primeiro caso, racial, no segundo.

Ambos acabaram por sucumbir à resistência inglesa e russa, liderando outros povos e nações.

Sobre os escombros da segunda guerra, os povos europeus procuraram organizar-se para recuperarem da catástrofe.

Com esse objectivo, quase ao mesmo tempo, na segunda metade do século XX surgiram três “projectos europeus”, reunidos à volta de três organizações, o COMECOM, fundado em 1949 e extinta com o fim dos regimes comunistas nos anos 90, a CEE, fundada em 1957 e que se transformou na União Europeia dos nossos dias em 1992, e a EFTA, fundada em 1960 e que ainda existe como organização, apenas com 4 países, Islândia, Noruega, Suíça e Liechtenstein.

As três formaram-se com base na colaboração económica, mas com grandes diferenças entre si, do ponto de vista político: o COMECOM surgiu como reflexo da tentativa de expansão para ocidente da influência soviética, sob domínio absoluto dos interesses da URSS; A CEE como uma espécie de sucursal dos interesses norte-americanos neste continente, beneficiando a recuperação da RFA, e a EFTA, que teve entre os países fundadores a ditadura salazarista, e que surgiu como uma resposta da Inglaterra e dos países nórdicos ao eixo franco-alemão que, desde o princípio, dominou a CEE.

Contudo a CEE conseguiu salientar-se de entre todas porque impôs, por um lado, a condição democrática (a EFTA não respeitou esse princípio ao ter aceite no seu seio um estado ditatorial com era então Portugal e o COMECOM era formado por países de modelo soviético, de partido único), por outro a solidariedade entre todos os membros e, por último, a consolidação de um modelo de Estado Social.

Estas três dimensões, a democracia política, a solidariedade e igualdade entre pares e a construção de um modelo social, fizeram da CEE, hoje União Europeia, um espaço respeitado, exemplar e cobiçado por outros povos, mas está hoje totalmente destruído pela infeliz atitude do eixo franco-alemão, cedendo à chantagem dos mercados financeiros e recuperando o velho ideal europeu preconizado por Hitler.

O ideal de uma Alemanha dominando a Europa, regressa em força nos nossos dias, já não pela força das armas ou pelo terror das SS e dos campos de concentração, mas pelo peso da economia e pela chantagem financeira.

Basta ler alguns textos das elites financeiras e económicas do nazismo, onde se faz a defesa de uma Europa a três velocidades, a dos países satélites do leste, o “espaço vital”, fornecedor da matéria-prima para a industria alemã, a do sul agrícola, fornecedor de alimentos, ambos fornecedores de uma mão de obra barata, ou mesmo escrava , e a de uma Europa central, dominada pela Alemanha, apoiada por uma França prestando-se “ alegremente” ao colaboracionismo.

Hoje, por outras palavras, este “ideal” alemão regressa em força: o leste, desempenhando mais uma vez o papel de satélite e “espaço vital” dos interesses económicos e financeiros germânicos;o sul, ocupado pelos “preguiçosos” e “descontrolados” PIGGS, nova “raça” inferior, que precisam de disciplina, austeridade e castigo para encaixarem no modelo económico e financeiro da Alemanha, que terão como único destino fornecer mão de obra barata , disciplinada e obediente para a industria alemã, que precisa de se tornar “competitiva” num mundo cada vez mais dominado pelos “países emergentes”, onde não existem direitos sociais, nem preocupações ambientais.; um centro, o eixo franco-alemão, incluindo os prósperos “povos superiores” do norte, rico, industrializado , modernizado e desenvolvido, controlando o sistema financeiro do espaço europeu.

Infelizmente nada disto se identifica com o projecto europeu, tal como o conhecemos no pós-guerra e que tanto trabalho deu a construir.

…Esta não é mais a “minha” Europa .

1 comentário:

Anónimo disse...

Passos Coelho em sintonia com Ângela Merkel e esta por sua vez com Sarkosy, estão a afundar a Europa e dentro dela, a afundar Portugal, com o seu intrigante absolutismo:-subidas de portagens, taxas moderadoras, impostos, iva a 23% em sectores cuja fragilidade vão levar ao enterro da nossa economia(redoma); a esta música em inglês sobre o medronho, eu como algarvio não podia deixar de dizer que se esqueceram da aguardente de figo, fruto do barrocal algarvio e não só. Depois de três dias em formação não sei para quê, apetece-me lançar um grito:-Abaixo os Cabrais, pois quando se luta por um ideal, como o fez o Remexido, o medronho ou o figo é o melhor bálsamo para sarar as nossas feridas:
Abaixo os Cabrais
-
Bebia o Remexido
ai após ter vencido
as tropas de Cabral
o medronho divinal!
-
medronho da serra
tocava na sua alma
p'ra vencer a guerra
e dela tirar a palma!
-
saindo d'alambique
ele tirava um trago
lá para Monchique
ou comia seu bago!
-
Serra do Caldeirão
serviu-lhe d'abrigo
e Espinhaço de Cão
em ambos um figo!
-
e trazia a escopeta
ai a sua espingarda
tinha na sua gaveta
as “balas” em barda!
-
melhor que a bala
saltava um valado
passava uma vala
matava o soldado!
-
e sozinho um dia
com sua montada
um figo não havia
a alma foi levada;
-
e seguiu para Faro
sem ter medronho
e sem um figo raro
acabou seu sonho!
-
também eu um dia
ai me hão-de abater
com a pança vazia
e sem nada beber!
-
vou a julgamento
e por difamação
um juiz jumento
já fez declaração!
-
ai como tua alma
parecida à minha
as duas em calma
ficam na terrinha!
-
Eugénio dos Santos