As imagens de chegam da Coreia do Norte mostram o clima de plena histeria colectiva que se vive naquele país por causa da “morte súbita” do “grande timoneiro”, “farol da humanidade”, Kim Iong-Il.
Imagens como estas são muito comuns em sistemas totalitários onde a participação em grandes encenações de massas pode ajudar a conquistar um lugar, ou simplesmente, garantir a sobrevivência.
Muitos daqueles que choram hoje, de forma histérica, pela morte do líder norte-coreano serão os primeiros a festejar na rua a queda do regime, no dia realmente feliz, para o sacrificado povo norte-coreano, em que se der esse acontecimento.
Estas cenas fazem-me recordar a verdadeira histeria que se viveu ao longo da via-férrea por onde seguia o comboio que, em 1970, transportou o corpo do ditador Salazar para ser sepultado na sua terra natal, Santa Comba Dão. Quatro anos depois era ver muitos daqueles que exibiam o seu semblante fechado e o rosto cheio de lágrimas a gritarem na rua pelo MFA , alguns assumindo até posições ainda mais radicais e “revolucionárias” do que os próprios homens que fizeram o 25 de Abril ou do que a dos muitos que sacrificaram a vida na luta contra a ditadura.
Não deixa de ser patético que um Partido, como o PCP, com uma história de luta e sacrifício contra a ditadura, venha hoje manifestar tanto pesar pela morte daquele ditador.
O regime Norte-Coreano representa a negação de tudo aquilo que o PCP diz defender para Portugal e da sua própria história, como o contributo que deu para derrubar a ditadura salazarista e o papel que tem desempenhado em defesa dos direitos sociais.
Kim Iong-il não era diferente, nos seus tiques autoritários e no culto da personalidade, do ditador português, partilhando a mesma responsabilidade por lançarem na miséria, por várias décadas, os seus próprios povos.
Com que cara é que os deputados e dirigentes do PCP vão poder combater o programa de empobrecimento e de incentivo à emigração dos mais jovens e capazes que é defendida pelo actual governo português, quando aquele partido vem “ correr” em defesa de um regime, como o da Coreia do Norte, que, de forma extrema e radical, lança todo um povo na miséria, onde só a emigração pode ser solução para a sua sobrevivência?
De salientar também a posição da República Popular da China, ditadura tão acarinhada pelos líderes ocidentais, que até lhe oferecem a destruição dos direitos sociais na Europa em troca do seu poder financeiro, que elogiou, descaradamente, a memória do ditador Kim Jong-il, apontando-o como um homem que “deu um importante contributo para o desenvolvimento da causa do socialismo”, mostrando a verdadeira face do regime de Pequim.
A morte de um homem nunca é uma boa notícia. A morte de um ditador, essa deve ser sempre saudada como um sinal de esperança para a humanidade e para as suas vítimas.
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