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segunda-feira, 13 de junho de 2011

ASSIS DEFENDE UNIDADE À ESQUERDA

Em declarações ao Público, Francisco Assis defendeu uma alteração da estratégia autárquica do PS, para “iniciar um diálogo construtivo à esquerda com o PCP e o BE”.

O objectivo será “a realização de coligações onde elas são essenciais para a derrota da direita”, e “superar a dificuldade histórica de relacionamento que prejudica as opções dos eleitores de esquerda” (“Assis defende diálogo com o PCP e o BE para as eleições autárquicas”, São José Almeida, Público de 13 de Junho de 2011).

A citada declaração não deixa de ser surpreendente, vinda de quem vem. Esperava-se que tal pudesse ser dito por António José Seguro, mas vem do candidato mais próximo da herança “socrática”.

A promessa de Assis retira assim algum campo de manobra à esquerda do PS, em relação ao seu apoio à candidatura de Seguro.

Mas se afirmação for para levar a sério, representará uma mudança importante no PS e que irá ter efeito à esquerda.

Pela minha parte encaro-as não apenas como uma mera frase de campanha, mas como uma necessidade urgente de diálogo à esquerda, numa hora tão grave para o País e para a preservação dos valores solidários e humanos, na defesa dos grupos mais fracos e desprotegidos e do factor trabalho e produtivo da sociedade.

Se Sócrates foi o responsável por abrir as portas do neo-liberalismo e pelo enfraquecimento do já de si rudimentar “Estado Social” português, o neo-liberalismo, puro e duro, tem agora toda a legitimidade eleitoral para acabar o seu “trabalho” no país.

Por isso é importante que a esquerda abandone de vez a sua postura sectária e comece a preparar-se para um futuro difícil que se avizinha e que irá destruir o que resta de direitos sociais em Portugal.

Recorde-se que, antes das eleições, BE e PCP se reuniram para preparar a cooperação política entre essas forças da esquerda. Houve desde logo um mau sinal, que foi a falta de consequências práticas desse encontro. Como se viu nas últimas eleições, a falta de unidade à esquerda, ao dispersar votos, deu de bandeja muitos deputados à direita em distritos onde essa unidade podia ter sido vantajosa. Contudo também foi dito então que não se podia reconstruir a esquerda sem o PS. O impedimento dessa altura era a liderança de José Sócrates. Com o afastamento deste, começa a ser possível preparar o tão necessário diálogo à esquerda e as afirmações de Assis são uma boa notícia que deve ser ponderada à esquerda.

Mas, para que esse diálogo seja possível, também é necessário que, à esquerda do PS, se abandone a postura, por vezes arrogante, muitas vezes sectária, que essa esquerda, tem assumido em relação ao PS. Claro que este partido também se pôs muitas vezes a jeito, principalmente durante o consulado de Sócrates. Contudo a reunião histórica pré-eleitoral entre o BE e o PCP pode anunciar um bom sinal, que ganha um peso maior com as intenções de Assis.

Os resultados das últimas eleições demonstram que ninguém ganha à esquerda com o enfraquecimento do PS. Toda a esquerda perdeu votos e daí deviam todos tirar as sua conclusões.

Claro que o PS está totalmente armadilhado por Sócrates e pela sua gente, que deixaram o partido atado, de pés e mãos, ao acordo da “troika”, pelo que a gestão dessa aproximação à esquerda é problemática e difícil.

Contudo existem muitos pontos do memorando que dependem da interpretação e do modo de execução, deixando em aberto a possibilidade de a sua aplicação ter dois rumos possíveis: um puramente neo-liberal, outro mais moderado. Existe por isso no PS algum campo de manobra para, sem fugir a um compromisso que tem de assumir responsavelmente, contribuir para que a sua aplicação seja o menos prejudicial possível para o país e para quem produz e trabalha, conseguindo uma aproximação à sua esquerda para futuros combates políticos.

Aguardam-se, com alguma curiosidade, as reacções do PCP e do BE às afirmações de Assis, assim como as dos apoiantes de Seguro.

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