Se a demagogia (..e a estupidez) pagassem imposto, estávamos salvos.
Num país normal o governo governava e o parlamento fiscalizava.
Mas neste país o governo anda em mera gestão corrente, procurando controlar os fogos que foi ateando nos últimos anos e tentando sobreviver à crise para a qual contribuiu com uma grande fatia.
Por sua vez, no parlamento, à falta de melhor para fazer, um grupo de deputados do PS lembrou-se de mostrar serviço e, como se não houvesse mais preocupações, resolveu desenterrar uma controvérsia antiga sobre os feriados e as pontes.
Não viria mal ao mundo discutir esse tema, tendo em conta que muitos feriados, nomeadamente os religiosos, já nada dizem ao comum dos cidadãos.
Agora usar como argumento a “produtividade” é descer ao nível da pura demagogia economicista, que veio para ficar nestes tempos de crise.
Em primeiro lugar não se percebe como, nesta época (recorde-se que vivemos no século XXI e não no séc. XIX, com a tecnologia dos séculos XX e XXI e não com as tecnologias do séc. XIX…), a produtividade depende, mais do que da “quantidade” de trabalho, da sua qualidade, organização e gestão.
Por isso, mais dois ou menos dois feriados pouco adiantam. Muitos países, com um número idêntico ou mesmo maior de feridos que Portugal, estão muito mais avançados do que nós em termos económicos sociais e culturais. Os outros não têm menos que três ou quatro dias feriados. Não parece que tal diferença de dias feriados possa ser justificação para estarmos à distância que estamos de muitos deles. É mais uma maneira de atirar areia para os olhos e desviar a atenção do essencial.
Aliás, tendo as actividades de lazer, como as culturais ou as turísticas, um peso significativo na economia europeia e portuguesa, o que se perde nuns lados com os feriados, recupera-se noutro lado , não sei se até com vantagens económicas no balanço final.
Há ainda uma outra falácia quando se justificam tão brilhantes ideias com a “produtividade”.
A “produtividade” só interessa se houver quem “consuma” . Ora, os números do desemprego, por um lado, e as medidas de contenção salarial e orçamental, por outro, não contribuem para o aumento da procura, antes pelo contrário.
A menos que a ideia seja simplesmente manter as pessoas ocupadas, isto é “produzir” por “produzir” , feitas baratas tontas. Talvez pensem que, enquanto as pessoas estão ocupadas, trabalhando mais horas e dias sem contrapartidas salariais, não se lembrem, nem lhes sobre tempo para pensar, que há mais vida para além da economia, ou que a economia, em vez de servir os lucros de uns poucos, devia ter por objectivo satisfazer as necessidades da maioria e melhorar a vida de todos nós.
É pena que a demagogia e a estupidez não estejam sujeitas a imposto. Se tal acontecesse, e por aquilo a que temos assistido nos últimos tempo, o deficit já estava pago há muitos meses.
Sem comentários:
Enviar um comentário