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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Europa ao Fundo - Parte III

Esta gente ensandeceu de vez

A Comissão Europeia acabou de propor o aumento da idade da reforma para…os 70 anos.

Pergunto:

Se o desemprego actual é estrutural, isto é, quem perdeu o seu emprego tão depressa não vai encontrar um novo emprego, porque as novas tecnologias dispensam cada vez mais postos de trabalho e substituem, com maior rentabilidade, o trabalho humano, como é que o prolongamento da idade da reforma vai resolver esse problema?

Se o emprego só vai crescer em áreas altamente especializadas e de grande qualificação tecnológica, isto é, onde são os mais jovens que têm maior facilidade de adaptação, como é que se vai prolongar o posto de trabalho dos mais velhos sem consequências a nível da produtividade do trabalho?

A menos que a ideia seja manter no desemprego contínuo todos os que têm mais de 50 anos, pois nenhum empregador, a não ser que seja obrigado, aceita gente acima dessa idade.

Uma das falácias muito utilizadas pelos defensores do aumento da idade da reforma é o da “bomba demográfica”, isto, há cada vez menos jovens para “sustentarem” os mais velhos reformados.

É uma falácia porque, para ser verdadeira, implicava que existissem postos de trabalho para todos os jovens, o que não é verdade. Um jovem desempregado não desconta para a segurança social. Aliás, onde o desemprego tem maior peso percentual é entre os jovens.

Se o problema fosse o excesso de oferta de postos de trabalho face à procura, essa situação seria colmatada, como o foi noutros momentos, com a imigração.

É igualmente uma falácia que sejam os descontos dos mais jovens para a segurança social que sustentam os mais velhos reformados.

De facto, cada uma recebe (ou devia receber) a sua reforma em função do tempo que andou a descontar para a segurança social, devendo essa quantia, se quem gere esses fundos fosse eficiente e competente, ter sido rentabilizada ao longo do tempo para garantir o montante da reforma. Teoricamente, essa situação não implica qualquer dependência geracional.

Não nego a existência de problemas na sustentabilidade financeira do sistema de reforma:

Não são justas muitas das reformas milionárias pagas pelos estados europeus. Nas actuais circunstâncias, e tendo em conta a realidade económica europeia, devia ser mantido um tecto máximo das reformas, nunca superior a 5 mil euros por mês. Quem quiser mais deve poupar num sistema complementar, público ou privado;

Não é justo que uma pessoa receba várias reformas, continuando muitas vezes a trabalhar com salários e rendimentos chorudos. Estes abusos deviam ser todos reanalisados;

Não é igualmente justo que uma pessoa que descontou uma vida inteira para a segurança social seja tratada da mesma maneira que muitos que só declararam rendimentos nos últimos anos da sua carreira. Aqui o valor de IRS, pago ao longo da vida, também devia entrar nos cálculos da reforma.

Existem também outras medidas que deviam ser tomadas para a sustentabilidade do sistema, como alterações profundas nos horários de trabalho e na redistribuição da riqueza produzida por quem trabalha, assim como uma maior carga fiscal sobre actividades especulativas.

Mas um sistema mais justo, implicava mexer em muita gente poderosa, começando pelos próprios políticos e comissários europeus que defendem essa proposta absurda, e nisso, nem eles e os comentadores de serviço se atrevem em tocar, pois seria mexer nos seus privilégios.

Enquanto esta gente governar a Europa, esta afastar-se-á , cada vez mais, de um futuro mais justo para os seus cidadãos.

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