Agora que estamos a comemorar o 25º aniversário da adesão de Portugal e Espanha à União Europeia (então CEE), uma pergunta ocorrerá : vale a pena ser “europeu”?
Talvez a pergunta parta de dois pressuposto errados, a de que a “Europa” é só a da UE, ou a de que nós portugueses só passámos a ser europeus há 25 anos.
A falácia dessa pergunta parte em grande parte da atitude das nossas elites políticas dos últimos anos que assumiram, em relação à UE uma atitude que se dividiu entre a subserviência, o provincianismo , o mito da salvação e a ignorância de uma história em comum.
Reside, aliás, nesse conjunto de atitudes, muitos dos problemas com que actualmente nos confrontamos na nossa relação com essa organização.
Por um lado sempre nos tentámos portar como um aluno bem comportado, não questionando de forma frontal muitas das decisões políticas sociais e económicas da EU, tendo por objectivo “sacar” o máximo das ajudas a que tínhamos direito;
Por outro lado, nosso provincianismo reforçou o nosso espírito de subserviência em relação a tudo o que nos foram obrigando a engolir ao longo destes vinte e cinco anos. Se vinha da “Europa” era bom. Foi assim que nos “modernizámos” de acordo com a ideia preconceituosa do que entendíamos como o modo de ser europeu: enchemos o país de auto-estradas, porque era feio e atrasado andar de comboio a pé ou de bicicleta, desertificámos o interior rural e criámos um mega centro urbano, descaracterizado e desumanizado, do litoral do Sado até ao litoral do Douro, porque confundimos cosmopolitismo urbano com densidade da malha urbana.
Tivemos vergonha da nossa cultura, da nossa história e dos nossos amigos africanos e latino-americanos e apostámos forte numa sociedade consumista onde o ter é mais importante que o ser, tanto mais evidente quanto tentamos disfarçar com esse modo de viver o nosso subdesenvolvimento educativo e cultural.
Sem colónias, a Europa era a salvação da pátria. Os fundos europeus foram a concretização desse mito salvador. Aplicados em jipes e carros de alta cilindrada, em viagens de “negócio”, em off-shores, em mansões de férias, os fundos foram de facto, para alguns, uma salvação.
Claro que o nosso atraso era tanto que as migalhas que sobraram desses fundos contribuíram para que o país tivesse conhecido transformações significativas em termos económicos e sociais. Mas como tudo foi sempre pensado a curto prazo, estamos agora na situação que sabemos.
Desenvolvemos uma classe dominante de gestores e economistas que impuseram o seu discurso e os seus “valores” à sociedade, e que se escudam na manipulação estatística e financeira para desvalorizarem a nossa história e a nossa cultura, até porque, entre eles, raros são aqueles que conseguem ver para lá dos números e das estatísticas.
Tudo isto não seria grave se tivéssemos, na Europa a que pertencemos gente com visão e com estratégia. Infelizmente a Europa está entregue a incompetente e oportunistas, subservientes a obscuros interesse financeiros.
Respondendo à pergunta inicial, quanto a mim vale a pena ser europeu, porque não existe um único modo de ser europeu.
É preciso recuperar o velho espírito renascentista, iluminista e democrático que marcou os momentos mais significativos do espírito europeu e enfrentar esse outro modo de ser europeu, arrogante, oportunista , económica e socialmente injusto que os actuais líderes nos tentam impor como modelo único.
É preciso recuperar esse outro modo europeu de ser português que, para lá dos saques , da destruição e da desumanidade, sempre se soube relacionara e interagir com as culturas africana e latino-americana.
Por isso é urgente, como alternativa ao colete de forças com que nos tentam impor a “Europa” do BCE , do PEC ou da Comissão europeia, criar uma outra Europa, "latino-americana", "africana" e "mediterrânica" que faça frente à crescente arrogância dessa gente, que vê os europeus como números, a cultura europeia como passado e as regiões europeias como “espaço vital”.
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