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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Constâncio - ...finalmente está de partida!

Assisti há pouco, pelo canto do ouvido, a parte do discurso da tomada de posse do novo governador do Banco de Portugal (BdP).

No meio do hermetismo do “financeirês” detectam-se algumas ideias base da “ideologia” financeira de Carlos Costa a qual, apesar de não fugir muito à ortodoxia totalitária do actual modelo único do pensamento económico, pareceu algo preocupado com os efeitos da crise junto das pequenas e médias empresas.

Quanto ao resto, temos mais do mesmo:

- contenção orçamental ( o mesmo é dizer, cortes no Estado Social, na função pública e aumento de impostos, directos ou indirectos);

- contenção salarial ( um discurso que já cansa, vindo daqueles cujo exemplo de contenção salarial para os próprios ou os próximos os deslegitima logo à partida, num país onde os salários já são os mais baixos da zona euro);

- aumento das poupanças e das exportações (como é que isso é possível, com a tal contenção orçamental e salarial, com a destruição do aparelho produtivo nacional e com o estrangulamento do mercado interno graças ao aumento do desemprego e aos baixos salários que, segundo as entrelinhas do seu discurso, devem continuar congelados se não mesmo alvo de cortes radicais?).

A única vantagem deste novo governador parece ser a sua competência técnica, que pode contribuir para dar uma maior credibilidade aos “mercados”.

Outra das vantagens, é vermo-nos livre do mais incompetente de todos os governadores do BdP, que, ao longo destes últimos dez anos, deixou a situação financeira em Portugal chegar onde chegou, permitiu todos os desvarios do sistema bancário português e usou e abusou da sua situação para benefício das sua carreira política e pessoal e da dos amigos, dando um mau exemplo da tal “contenção” e seriedade que exigia aos outros.

Se Carlos Costa quisesse dar uma imagem de seriedade, como exemplo da necessária contenção que apregoa, começaria por cortar nas regalias salariais e sociais do actuais e anteriores governadores e gestores do BdP, criando condições para estender essas medidas ao restante sector bancário e financeiro. Por exemplo, nenhum salário pago no BdP podia ser superior ao auferido pelo Presidente da República, e nenhuma reforma podia ser paga acima de metade desse valor, cortando as reformas daqueles que a acumulam com outras reformas ou com outros salários.

Assim sim, todos aceitaríamos mais facilmente as medidas de contenção preconizadas.

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