(Foto: Correio da Manhã)
É compreensível que o cidadão Cavaco Silva não tenha comparecido ao funeral de José Saramago.
O cidadão Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro, tolerou atitudes persecutórias em relação a Saramago, por meras razões ideológicas.
Essas atitudes foram a principal razão de Saramago se ter auto-exilado em Espanha, onde foi muito mais acarinhado do que em Portugal, mesmo pelos seus adversários políticos.
Saramago, sem “papas na língua”, respondeu à letra ao cidadão Cavaco Silva, definindo-o como um político de uma “banalidade genial”.
Nestas situações é normal dizer-se que só faz falta quem está presente.
Mas o cidadão Cavaco Silva tornou-se Presidente da República Portuguesa, o mais alto representante da Nação.
A independência exigida ao exercício da presidência da República foi argumento usado por Cavaco Silva para justificar decisões que iam contra as suas convicções.
De facto, a importância do cargo devia-se sobrepor às sua convicções político-pessoais.
Só que Cavaco começa a agir de acordo com o calendário eleitoral. A salvaguarda do apoio eleitoral das facções mais ortodoxas e extremistas da Igreja Católica terá pesado na sua decisão.
Acabou por colocar os seus interesses eleitorais acima dos deveres de Estado.
Pode-se não gostar do homem ou do escritor, mas ninguém põe em causa o papel de Saramago na divulgação e renovação da língua portuguesa, ou, parafraseando um argumento muitas vezes usado para justificar homenagens públicas menos merecidas, Saramago foi alguém que pôs Portugal no mapa.
O mínimo que os cidadãos deste país exigiam ao seu Presidente era que representasse condignamente a Nação no funeral do nosso Prémio Nobel. É esse um dos papeís mais significativos do cargo que exerce.
Como também se costuma dizer, as atitudes ficam com quem as toma…
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