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sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Respigo da Semana - Henrique Monteiro e a Europa


São mais as vezes que discordo das opiniões do meu ex-colega de curso Henrique Monteiro, do que aquelas com que concordo.

De qualquer modo, Henrique Monteiro, tal como um José Manuel Fernandes, um Pacheco Pereira, um Bagão Félix ou um Vasco Pulido Valente, apresentam argumentos, com os quais não concordando quase sempre, são sempre estimulantes pelo tipo de argumentação utilizada, obrigando-nos a um esforço intelectual para os desmontar (ao contrário de uma Helena Matos, de um Miguel Sousa Tavares, de um José Miguel Júdice ou de um Vital Moreira, que usam argumentos baseados em preconceitos culturais, sociais ou ideológicos ).

Um desses textos estimulantes, embora possa não concordar pontualmente como uma ou outra afrimação, mas que subscrevo na sua genaralidade, foi o editorial da última semana do Expresso da autoria de Henrique Monteiro, cujo texto escolhemos para o “respigo da semana”, um texto muito actual se tivermos em conta a incapacidade dos líderes europeus em verem alguma coisa para lá do PEC:


Por uma Europa que sobreviva

Por Henrique Monteiro
in Expresso, 12 de Junho de 2010

"A sobrevivência da Europa corresponde à salvação de um modelo. Esse modelo é o da Declaração Universal dos Direitos do Homem, visa a paz, a liberdade, a responsabilidade e a fraternidade dos indivíduos.
A maior diferença entre grandes e pequenos políticos está na capacidade de ver para lá do curto prazo, do interesse mesquinho e da opinião do momento. Foram qualidades assim que fizeram de Churchill a referência que é, ou que deram a Jean Monnet (que nunca exerceu cargos públicos) o título de pai da unidade europeia que hoje todos lhe reconhecem.
A Europa actual tem virtudes únicas: auxílio na doença, apoio a deficientes, subsídio aos que perderam emprego, etc. Tem educação e rede hospitalar gratuitas e Justiça acessível (bem sei que em muitos países, nomeadamente em Portugal, há ainda caminho por fazer, mas comparados com China, Índia, Brasil e mesmo com os EUA, têm incontáveis vantagens).
O modelo europeu (e de muitos outros países que o melhoraram, como a Noruega, a Suíça ou o Canadá) é agora um sistema em risco. Ou se muda radicalmente e alarga, de modo a que, da China ao Brasil, todos possam dele usufruir, ou morre, porque os custos de produção de países sem solidariedade nem assistência social (ou com apoios débeis) serão sempre muito mais baratos.
A alteração do sistema não passa apenas por terminar com os abusos e facilitismos que todos sabemos existirem (isso está mais ou menos previsto nos PEC). É necessário que o sistema se torne além de solidário... sustentável. Para isso, não só é imperioso acabar com os abusos e dotá-lo de racionalidade económica, como afirmá-lo como o poderoso exemplo de pacificação social e de interajuda humana que é. Para o realizar, a Europa carece de um centro de decisão único, de uma voz poderosa não só na economia, como na Defesa, na Justiça, nas relações externas - o que significa um Governo único, ou seja, o federalismo europeu.
Não são possíveis mais egoísmos nacionais. A reforma não pode ser aos 55 anos na Grécia e aos 70 na Alemanha; a agricultura francesa não pode ser intocável; não é possível países viverem acima das possibilidades sabendo que outros os salvarão. Não haverá moeda única sem uma só autoridade.
Naturalmente, isto retira poder aos estados nacionais e aos pequenos políticos que gostam de defender os seus pequenos poderes, os seus privilégios e os seus clientes. É por isso que a Europa precisa de grandes líderes, de pessoas que conheçam, saibam interpretar e se orgulhem dessa construção da nossa civilização que é a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a qual começa assim: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade". Em suma, é isto que nos diferencia da China".

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