Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A Minha (Quase) Conciliação com o BESPHOTO




Como fã da fotografia, desloquei-me, nos idos de 2004, ao Centro Cultural de Belém para ver a primeira exposição dos finalistas do BES PHOTO.

Confesso a minha desilusão na altura. Habituado a visitar todas as grandes exposições de fotografia que têm tido lugar em Portugal, e, sempre que posso, noutros países, acompanhando o que se faz neste domínio através de livros e revistas dessa área, senti-me defraudado com aquela exposição.

Ao contrário daquilo que a publicidade a esse evento anunciava, não estavam presentes os “melhores e mais promissores fotógrafos portugueses da actualidade”, mas sim um conjunto de ensaios, em modo de performance, que usavam a fotografia como suporte, o que é bem diferente. Ou seja, não era um prémio ou uma exposição de fotografia, mas uma exposição de arte conceptual que usava, preferencialmente, a fotografia como meio.

Tenho visto muitas coisas interessantes na arte conceptual, embora esta corrente, dominante na arte contemporânea, sirva muitas vezes para disfarçar a falta de talento artístico e de rigor no domínio técnico. Basta, para se singrar nesse campo da arte, cair nas boas graças da crítica e das galerias da moda, gerindo muito mais a imagem do que a qualidade, imaginação e criatividade da arte em exibição. Felizmente esse oportunismo de alguns artistas contemporâneos tem vindo a ser posto em causa, principalmente por acção de muitos artistas da chamada Street Art.

Mas aquela exposição revelava ainda outras situações que, quanto a mim, me desiludiram: em primeiro lugar a qualidade da maior parte das fotografias estavam muito aquém do conhecimento técnico do uso desse meio. Não basta tirar umas fotografias, mais ou menos desfocadas, desenquadradas, sem preocupações na composição, envolvendo tudo isso numa áurea conceptual, para se ser original e criativo. Mais uma vez era a elaboração conceptual que servia para disfarçar ou desculpar a falta de jeito no domínio técnico do meio utilizado, neste caso a fotografia. Existia até o caso de uma apresentação onde a concepção estava a cargo de uma conceituada artista plástica mas cujas fotografias nem eram da sua autoria.

Depois dessa desilusão, só voltei dois anos depois, apenas para ver um dos autores presentes, dessa vez alguém que estava realmente ligado ao mundo da fotografia, Daniel Blaufuks, e de facto notava-se, à distância, a grande diferença, quer em relação aos autores presentes nesse ano, quer em relação ao que já tinha visto no primeiro ano daquele prémio.

Ainda voltei ao BES PHOTO mais uma vez, mas a sensação de fraude, embrulhada em justificações conceptuais, mantinha-se, pelo que decidi deixar de frequentar esse evento.

Até que chegou a edição deste ano e vi, pelas reproduções na imprensa de algumas obras que iam estar presentes, que se passava algo diferente em relação aos anos anteriores. O que havia de novo era a abertura do concurso a artistas dos países lusófonos e, de facto, visitando agora essa exposição, nota-se a diferença. Pelo menos em dois casos estamos perante dois artistas que são realmente fotógrafos e que estão mais interessados na criatividade e qualidade das suas obras do que em elaboradas justificações conceptuais para disfarçar qualquer “falta de arte”.

Temos assim dois autores que sobressaem nesta exposição, o do angolano Kiluanji Kia Henda e, principalmente, o Moçambicano Mário Macilau. Aliás, será escandaloso que o vencedor deste ano não seja um desses artistas.

Contudo, os restantes autores enfermam dos mesmos males detectados nas edições anteriores desse certame, revelando até um certo provincianismo por parte do júri (só assim se justifica a inclusão de um grupo de fotografias sobre Beirute…se essas fotografias tivessem sido tiradas num qualquer subúrbio de Lisboa, nem sequer mereceriam a atenção desse júri).

Digamos que ainda não me reconciliei com a BES PHOTO, mas acho que a abertura do prémio a autores não portugueses pode tornar-se uma mais-valia, até porque estes estão imunes aos viciados circuitos que dominam a arte contemporânea portuguesa.


















Sem comentários: