Em primeiro lugar devo dizer que o cidadão Fernando Nobre tem direito a tomar as opções políticas que quiser, ou será que não estamos num estado democrático e livre?
Em segundo lugar, o candidato das últimas eleições deixou de ter qualquer compromisso para com os seus eleitores no dia a seguir ao acto eleitoral e tem direito a fazer o seu caminho de acordo com as suas convicções e objectivos pessoais.
Em terceiro lugar, duvido muito que se fizesse todo este barulho à volta de Fernando Nobre se ele tivesse aceitado candidatar-se pelo PS ou pelo BE, como chegou a ser aventado.
Uma certa esquerda, ao que parece, ainda vive de acordo com os velhos valores stalinistas, povoados de traidores e inimigos de classe e não consegue perceber que cada um tem a liberdade de fazer as suas opções, concordemos ou não com elas.
Não deixa de ser aliás curioso que uma das vozes mais críticas sobre a opção de Fernando Nobre, seja a de uma figura com um percurso de “limpidez” e “coerência” como …Vital Moreira(!).
Vital Moreira não abandonou o PCP, partido onde iniciou a sua vida política e que lhe deu visibilidade e prestígio, antes dos anos 80, quando tal implicava alguns riscos intelectuais e políticos, e só descobriu as malfeitorias feitas em nome do comunismo quando este já estava moribundo.
Vital Moreira não abandonou o PCP para fazer um caminho independente , mas para se colar de imediato ao Partido Socialista que criticava na véspera, levando consigo o mesmo sectarismo que trazia da sua passagem pelo PCP, revelando-se um dos mais oportunistas defensores do que de pior existe no socratismo, oportunismo que, aliás, tem sido apanágio de alguns dos seus companheiros da mesma altura, com destaque para o “empresário” Pina Moura e para uma mão cheia de ministros ou ex-ministros de José Sócrates.
Ou seja, Fernando Nobre não fez nada de diferente do que fizeram muitos daqueles que hoje o criticam.
Como dizia Mário Soares, só os burros é que não mudam de ideias.
A diferença, no caso de Fernando Nobre, foi que fez piruetas demasiado depressa e com menos jeito.
Não aprecio esse tipo de atitudes, pelo menos de alguém que no dia anterior criticava o sistema partidário vigente e enaltecia a independência dos valores da cidadania, mas que, em pouco tempo, já apoiou quase todos os partidos políticos do espectro partidário, da esquerda à direita. Isso não é independência. É uma total confusão ideológica que pode grassar o oportunismo que se critica nos outros.
Contudo, a falta de jeito para a política ou o ter-se tornado um símbolo do pior que a política pode representar, não nos pode fazer esquecer o homem, com um percurso de vida solidário. Era bom que a discussão sobre as opções de Nobre não caísse no nível para onde um Vital Moreira e outros a pretendem conduzir.
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