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segunda-feira, 11 de abril de 2011

VENDO CARO O MEU VOTO!


A incompetência da actual classe política levou-nos a este beco, por enquanto sem saída, e a umas eleições que seriam desnecessárias se tivéssemos, no governo e na presidência da República, lideranças à altura da gravidade da situação nacional.

Mas como não temos e as eleições já estão convocadas, lá irei votar, como é meu hábito, desde que há democracia em Portugal.

Sempre opteii, ou pelo mal menor ou pelo voto de protesto, ou votando naqueles que, mesmo com pequena representação parlamentar e nem sempre da melhor maneira, continuam a defender os mais fracos do sistema e os que trabalham e produzem, sem se renderem a banqueiros, empresas de rating ou às decisões antidemocráticas oriundas da União Europeia.

Só uma vez votei em branco, nunca me abstive nem anulei o meu voto.

O meu voto é muito valioso para o desperdiçar assim.

A abstenção não serve para nada. Só pode contribuir para reforçar o partido mais votado. À custa de uma abstenção elevada é possível que um partido consiga uma maioria absoluta com menos de 40% de votos entre o total de eleitores ou ganhar com “maioria” confortável com cerca de 20% desse votos.

Além disso, na abstenção confundem-se os eleitores “fantasma”, os eleitores que estão ausentes em parte incerta, os que estão doentes ou mortos, os ignorantes, os saudosos do salazarismo ou do stalinismo, os indiferentes, e não me interessa ser confundido com esses.

O voto nulo ou o voto em branco pouco acrescenta à situação anterior, embora possa distinguir um pouco o voto em branco dos outros votos.

No voto nulo, tanto podem caber aqueles que são analfabetos funcionais no que ao acto eleitoral diz respeito, incapazes de preencher um boletim de voto, como o irresponsável que tanto gosta de vandalizar paredes como riscar ou preencher o voto com asneiras ou frases feitas, que variam do anarquismo ao puro fascismo, ou um simples engano momentâneo.

Já o voto em branco revela uma maior consciência, um voto de protesto contra o sistema, mas sem qualquer consequência prática. Acredito, contudo, que se o voto em branco, por exemplo, ultrapassasse o número de votos do partido mais votado, merecesse, no mínimo, alguma reflexão por parte dos líderes de opinião e dos líderes políticos e até gerasse algum movimento de cidadania que obrigasse a que este tipo de voto viesse a ter alguma consequência prática.

Contudo, dada a gravidade actual do país, a hora não é de experimentalismos e é importante um voto que altere alguma coisa, por pouco que seja.

Ou seja, desta vez ainda vou votar, só que, pela primeira vez em muitos anos, não sei ainda muito bem onde.

Digo-vos que, pela primeira vez, pondero a possibilidade de votar fora da área política onde me encontro, que é a esquerda.

Voto no distrito de Lisboa. Nos últimos dias foram anunciados os cabeças de lista dos dois principais partidos.

O Partido Socialista apresenta Ferro Rodrigues, um dos raros homens de esquerda que ainda existem no seio desse partido.

Não deixa de ser irónica essa escolha, vista como bóia de salvação de José Sócrates, que procura assim cativar a esquerda num dos distritos onde esta tem mais peso.

Ferro Rodrigues é o mesmo homem que foi alvo de uma das mais negras campanhas difamatórias de sempre, desconhecendo-se ainda hoje quem esteve por detrás dela, e que abriu o caminho a …José Sócrates.

Ferro Rodrigues foi ainda alvo de uma das maiores humilhações a que um político foi sujeito por parte de um presidente da República, então Jorge Sampaio, que abriu o caminho para a maioria absoluta de … Sócrates.

Por último, Ferro Rodrigues representa, no Partido Socialista, tudo aquilo que é o contrário da política neo-liberal e oportunista de José Sócrates (este agora anda a tentar-nos vender o contrário, mas só cai quem quer).

Votar em Ferro Rodrigues, enquanto Sócrates continuar à frente do PS, é um voto perdido. Ferro Rodrigues já está eleito, e uma maior votação na lista de Lisboa só irá contribuir para eleger para deputado um grupo de figuras de segundo plano que estão ali nas margens cinzentas das listas eleitorais, provavelmente composta por fiéis do socratismo.

O voto em Ferro Rodrigues só podia ter algum interesse se representasse uma votação que sobressaísse da restante votação do PS noutros círculos eleitorais, mormente naqueles que sejam encabeçados pelos fiéis de José Sócrates e se se destacasse como uma vitória clara em relação aos resultados do PS a nível nacional. Seria uma espécie de “vingança” política a servir fria ao socratismo por parte da esquerda do PS.

Por sua vez o PSD consegue surpreender ao apresentar como cabeça de lista por Lisboa Fernando Nobre.

Fernando Nobre representa aquilo que toda a gente de bem deve querer que se envolva na vida política, pessoas que se evidenciaram pela sua vida profissional e pela sua vida cívica, sem deverem nada à vida partidária e que podem, de facto, trazer algo de novo à política nacional.

Claro que podemos duvidar de uma certa incoerência política por parte do ex-candidato presidencial, mas este é o risco que correm os homens independentes, que estão acima das ideologias partidárias ou das jogadas de bastidores.

Também aqui há que estar atento aos candidatos da lista de Lisboa que podem beneficiar com um bom resultado deste candidato, os tais que se encontram naquela zona cinzenta da lista.

Também está que estar a tento se esta é uma viragem política de Passos Coelho, libertando-se da influência do bando do Compromisso Portugal ou se é, mais uma vez, uma jogada oportunista que procura conquistar algum eleitorado de esquerda e muitos independentes ligados à “geração à rasca”, dominantes no círculo de Lisboa.

Não deixa de ser curioso que os dois partidos que contribuíram para a situação actual, governando ou prometendo vir a governar com um agenda neo-liberal, estejam tão preocupados em piscar o olho à esquerda.

Esperava-se que a verdadeira esquerda, simpatize-se ou não com as suas lideranças, concorde-se ou não com a sua retórica muito datada no tempo, respondessem à altura àqueles partidos e tornassem agora consequente esse feito histórico de se terem encontrado para dialogar.

De que maneira? Ensaiando uma lista unitária para o distrito de Lisboa, como ensaio geral para uma aliança de maiores dimensões( e que no futuro teria de incluir o PS não socrático) e respondendo assim à letra àquele piscar de olhos que os partidos do centrão fazem á esquerda, apresentando como cabeça de lista uma personalidade realmente independente e que estivesse em condições de unir as várias tendências da esquerda. Se este fosse o caminho, o meu voto estava decidido.

Infelizmente este não parece ser o caminho e o sectarismo à esquerda vai, mais uma vez, dar a vitória ao centrão, seja ele o de Sócrates ou do Compromisso Portugal.

Por isso ainda não decidi o meu voto….mas vou “vende-lo” caro!

1 comentário:

Isaura Feiteira disse...

Grandes "jogos", Venerando!!!

Vamos vendo de tudo, mas o verdadeiro interesse do País é defendido por muito poucos!...
Cada vez mais este Povo fica confuso e recorre à abstenção, com a qual eu também não concordo, mas percebo que muita gente o faça!!!
Tem de haver uma saída!!!
Um abraço. Isaura