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terça-feira, 12 de abril de 2011

QUEM TEM MEDO DO FMI?

Começo por recordar que, apesar de já trabalhar quando o FMI esteve em Portugal pela última vez, em 1983, em abono da verdade, não me lembro, ao contrário do que acontece desde há seis anos para cá, ou, recuando um pouco, desde que adoptámos o euro como moeda, de ter sentido grandes dificuldades de sobrevivência económica muito para além daquilo que foi normal ao longo da minha vida financeira.

O facto de termos então uma moeda própria, terá permitido, através da desvalorização do escudo, que a situação não fosse tão sentida de forma directa como o vai ser agora.

O que mais me recordo de então foram os debates ideológicos que estiveram por detrás dessa intervenção, mas de facto pouco o senti na pele, talvez porque já estava habituado às dificuldades, ou porque o meu rendimento como professor já era então miserável, ou ainda porque não tinha adquirido os hábitos de consumo a que a posterior adesão à União Europeia nos habituou.

Uma outra falácia à volta da actual intervenção do FMI prende-se com a forma como se pretende responsabilizá-lo pela austeridade em que vamos viver. Em primeiro lugar, o FMI é apenas uma das partes dos outros organismos que vão intervir, o Banco Central Europeu e a União Europeia. Aliás, muitas das receitas do tão temido FMI já estão a ser adoptadas desde que Sócrates está no poder.

O FMI exige um objectivo financeiro. O modo de lá chegar depende das negociações.

As opções de penalizar mais e sempre os mesmos ou ir buscar os meios necessários para o pagamento da dívida e o equilíbrio do deficit à banca, aos “boys”, às reformas douradas, ao gestores e administradores, de grandes empresas, estatais ou não, aos que fogem aos impostos e aos que beneficiam de sistemas fiscais privilegiados, compete ao governo que negoceia essas condições.

Mais do que o FMI, temo mais os outros dois membros da troika, pois representam o que de pior têm sido as opções neo-liberais da União Europeia, com os custos que agora estamos a pagar.

Já agora seria bom, desviando a atenção do FMI, cuja função é mais técnica que política, perguntar aos outros dois senhores, que representam a União Europeia e o Banco Central Europeu (aquele onde está o sr. Constâncio) quem é que incentivou Portugal a destruir o seu aparelho produtivo, nas pescas, na agricultura, na industria, em troca de chorudos benefícios que foram parar ao bolso de alguns.

Mais do que o FMI, temos esses dois senhores, representantes da União Europeia, um alemão, outro dinamarquês, oriundos de um mundo que nos vê com preconceitos étnico-culturais e que não vai ter contemplações para como os “selvagens” (que, aos seus olhos, somos nós).

Mais do que o FMI, temo os preconceitos neo-liberais da equipa governamental que vai negociar com essa troika.

É que existem duas vias para enfrentar as exigências dessa troika:

Ou aquela, que é a mais fácil, que é da cortar a eito na função pública, na educação e na saúde, penalizando, pela lei, pelo abaixamento de salário e pelos impostos o factor trabalho, ou aquela outra que é a de fazer pagar mais aqueles que se têm escapado à crise, mas que, em grande parte, são responsáveis por ela: o sector financeiro, que beneficia de chorudos privilégios fiscais, os “boys” do sector públicos, os parceiros privados, empresas, gabinetes de advogados e outros, que vivem à sombra do Estado, as Fundações, Institutos, Gabinetes de Estudo que, em mais de 50%, são totalmente inúteis, todos aqueles que escapam, pelas falhas da lei ou mesmo ilegalmente, ao pagamento dos impostos devidos, recorrendo aos off-shores e todos aqueles que recebem reformas douradas só porque estiveram uma dúzia de anos, ou menos, no Banco de Portugal, na administração pública (altos cargos de administração, note-se…), ou em cargos políticos, ou que beneficiaram da especulação imobiliária das grandes obras públicas.

Não me importo de pagar a minha parte, como já o faço, desde que esses também paguem equitativamente a sua parte. Se isto não acontecer, a culpa não é do FMI, mas da União Europeia e dos políticos que, em Portugal, vão negocias as condições.

E já agora, como pagante, gostava que me informassem, com toda a verdade, de toda a situação económica e financeira do país e me informassem sobre o percurso de cada euro do empréstimo que nos vão conceder.

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